31.1.07

 

Poemas favoritos XXXVII
Favorite poems XXXVII


O Quinto Império

Fernando Pessoa

Triste de quem vive em casa,
Contente com seu lar,
Sem que um sonho, no erguer de asa,
Faça até mais rubra a brasa
Da lareira abandonar!

Triste de quem é feliz!
Vive porque a vida dura.
Nada na alma lhe diz
Mais que a lição da raiz -
Ter por vida a sepultura.

Eras sobre eras se somem
No tempo que em eras vem.
Ser descontente é ser homem.
Que as forças cegas se domem
Pela visão que a alma tem!

E assim, passados os quatro
Tempos do ser que sonhou,
A terra será theatro
Do dia claro, que no atro
Da erma noite começou.

Grecia, Roma, Cristandade,
Europa - os quatro se vão
Para onde vae toda edade.
Quem vem viver a verdade
Que morreu D. Sebastião?
***
Writing
Anthony Cronin

Our happiness is easily wronged by speech,
Being complete like silence, globed like summer,
Without extension in regret or wish.
Outside that sky are all our past and future.

So in those moments when we can imagine
The almost perfect, nearly true, we keep
The words away from it, content with the knowledge,
Naming it only as we fall asleep.

In suffering we call out for another,
Describing with a desperate precision.
We must be sure that this is how all suffer

Or be alone forever with the pain.
And all our search for words is one assertion:
'You would forgive me If I could explain.'

30.1.07

 

Poemas favoritos XXXVI
Favorite poems XXXVI


Mar Portuguez

Fernando Pessoa

Ó mar salgado, quanto do teu sal
são lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão resaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quere passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abysmo deu,
Mas nelle é que espelhou o céu.
***
The Cage
John Montague

My father, the least happy
man I have known. His face
retained the pallor
of those who work underground:
the lost years in Brooklyn
listening to a subway
shudder the earth.

But a traditional Irishman
who (released from his grille
in the Clark St IRT)
drank neat whiskey until
he reached the only element
he felt at home in
any longer: brute oblivion.

And yet picked himself
up, most mornings,
to march down the street
extending his smile
to all sides of the good
(non-negro) neighborhood
belled by St Teresa's church.

When he came back
we walked together
across fields of Garvaghey
to see hawthorn on the summer
hedges, as though
he had never left;
a bend of the road

which still sheltered
primroses. But we
did not smile in
the shared complicity
of a dream, for when
weary Odysseus returns
Telemachus must leave.

Often as I descend
into subway or underground
I see his bald head behind
the bars of the small booth;
the mark of an old car
accident beating on his
ghostly forehead

29.1.07

 

Poemas favoritos XXXV
Favorite poems XXXV


Os Castellos

Fernando Pessoa

A Europa jaz, posta nos cotovellos:
De Oriente a Occidente jaz, fitando,
E toldam-lhe romanticos cabellos
Olhos gregos, lembrando.

O cotovello esquerdo é recuado;
O direito é em angulo disposto.
Aquelle diz Italia onde é pousado;
Este diz Inglaterra onde, afastado,
A mão sustenta, em que se appoia o rosto.

Fita, com olhar sphyngico e fatal,
O Occidente, futuro do passado.

O rosto com que fita é Portugal.
***
Premonition of Winter
Hugh Maxton

We have come to love this coastline. Clearly
the cobbles here are looser than in town
and the dust is crystalline. We nearly
think another world begins or, grown
casual, imagine seas and channels
separate us from the work-a-day mass.

But these rocks are the more ancient hells,
the acid coves and strands of powdered glass.
In Antrim sheep were bled dry by a beast
not known to man but intimate with glands
and arteries. A whale skidded at least
twelve yards ashore against the rush of land.

In the town they talk of peace and justice
but have never known the sea turn to ice.

28.1.07

 

Arte-Presente de John Howard - em curso
John Howard's Art-Gift - in progress
1



Grafito na porta da garagem
Graffiti on the garage door


 

Inútil
Useless


É inútil querer das pessoas os que elas não têm em si para dar.
***
It's useless to want from people what they do not have in them to give.

 

Poemas favoritos XXXIV
Favorite poems XXXIV


Padrão

Fernando Pessoa

O esforço é grande e o homem pequeno.
Eu, Diogo Cão, navegador, deixei
Este padrão ao pé do areal moreno
E para deante naveguei.

A alma é divina e a obra é imperfeita.
Este padrão signala ao vento e aos céus
Que, da obra ousada, é minha a parte feita:
O por-fazer é só com Deus.

E ao imenso e possível oceano
Ensinam estas Quinas, que aqui vês,
Que o mar com fim será grego ou romano:
O mar sem fim é portuguez.

E a cruz ao alto diz que o que me há na alma
E faz febre em mim de navegar
Só encontrará de deus na eterna calma
O porto sempre por achar.
***
For Fear of Waking the Alarm Clock
Liam Murphy

when we married
and came to live
where I was born
she decided we'd sleep
in my old nursery
and I was closer love
than dinky toys
her happiness traced
the wallpaper
of my dreams
mickey mouse and daffy duck
and our hearts beat
like tin drums
together in a castle
with cavalry and indians
soldiers and cannon guns
love
and within her
I felt that she
had always been there
living behind the wallpaper
guiding the tenderness
of days
until toys were tossed
in a corner.
and love played games
with childhood dreams.

27.1.07

 

Poemas favoritos XXXIII
Favorite poems XXXIII


Confidência

Manuel Bandeira

Tudo o que existe em mim de grave e carinhoso
Te digo aqui como se fosse ao teu ouvido...
Só tu mesma ouvirás o que aos outros não ouso
Contar do meu tormento obscuro e impressentido.

Em tuas mãos de morte, ó minha Noite escura!
Aperta as minhas mãos geladas. E em repouso
Eu te direi no ouvido a minha desventura
E tudo o que em mim há de grave e carinhoso.
***
A Minor Bird
Robert Frost

I have wished a bird would fly away,
And not sing by my house all day;

Have clapped my hands at him from the door
When it seemed as if I could bear no more.

The fault must partly have been in me.
The bird was not to blame for his key.

And of course there must be something wrong
In wanting to silence any song.

26.1.07

 

Poemas favoritos XXXII
Favorite poems XXXII


O Verbo No Infinito

Aníbal M. Machado

Elevar a temperatura do espírito ao nível de fusão dos resíduos calcificados; purificar os sentidos até que o Universo se deixe surpreender em seu estado de virgindade original; dilatar as fronteiras de nosso espaço interior, não por ocupação colonizadora, mas excitando ao vôo os pássaros nele adormecidos; aquiescer ao apêlo numeroso das coisas; promover à condição de árvore o que dentro de nós se esfria em pedra, e à condição de vento o que se esgalha em árvore: ritos preparatórios, íntimas providências, preliminares silenciosas à chegada da Poesia.
***
My Life Closed Twice Before Its Close
Emily Dickinson

My life closed twice before its close;
It yet remains to see
If immortality unveil
A third event to me.

So huge, so hopeless to conceive,
As these twice befell.
Parting is all we know of heaven,
And all we need of hell.

25.1.07

 

25 de janeiro


Nasci um ano antes do Quarto Centenário. Foi quando inauguraram o Ibirapuera. Havia barcos a remo e a motor no lago para passear e um restaurante ao lado do deck. Ia-se a pé por ruas de sibipirunas e tipuanas.
Os Jardins podiam ser chamados de Pomares: havia ruas com jabuticabeiras, amoreiras, pés-de-café (tinha um na frente de casa) e muitas outras.
As pajens - era assim que chamavam - andavam com os carrinhos de bebê nas praças, os táxis e os telefones eram pretos, os guardas-civis vestiam uniforme azul e usavam luvas brancas e dava para jogar bola na Rua Estados Unidos. No centro da Praça das Guianas havia uma árvore imensa e quando eu era menino dava para ficar contando os carros que passavam na 9 de Julho. Era lá que passava a parada de 7 de Setembro e no carnaval havia corso na Avenida Brasil.
O Harmonia não era clube de gente metida e a Rua Canadá inundava em dia de chuva. O Morumbi não existia. A cidade acabava lá pelo Jockey Club, depois era o pasto. Hoje ando como alma penada nesta minha cidade, arrancando pedaços de memória das poucas casas que restaram, de um quebradinho na calçada, de uma ou outra árvore. Meu tio Julinho parava o carro naquela esquina quando vinha tomar lanche no domingo e a Casa América tinha o melhor sorvete de pistache do mundo. O primeiro supermercado da cidade chamava-se Sirvase e era na Rua Augusta. Um pouco mais para cima havia o Cine Paulista e a primeira lanchonete que só vendia hot-dog com fritas e hot fudge nut. Ia para o cinema, para a escola, para o clube, para visitar minha avó, tudo de bonde. Depois veio o ônibus elétrico que fazia hmmmmmmm quando acelerava. A Praça das Bandeiras chamava-se 'O Piques' e a Rua Direita era torta. O Cine Marrocos era o mais aconchegante e a Salada Paulista, na Avenida Ipiranga, era restaurante de gente educada. Comia-se bem. Tinha a Praça da República e flores no Largo do Arouche - acho que ainda têm. As meninas do Externato Meira eram as mais galinhas e o Consulado Americano ficava no Conjunto Nacional, aquele, que tinha o relógio da Willys (Overland do Brasil). O crioulo que fazia as entregas da Mercearia Vera atendia pelo apelido de Sagüi e todo dia era possível cruzar com o escocês e seu coolie. O tempo era nublado e sempre garoava. A cidade era mais fria e as pessoas mais quentes. Dormia-se de janela aberta e meu cachorro Paddy andava solto. Todo mundo conhecia. Todas as ruas eram de paralelepípedos e esses meus cabelos brancos são apenas um disfarce, nunca cresci: continuo menino e continuo contando os carros.
Hoje é aniversário de São Paulo.

24.1.07

 

Poemas favoritos XXXI
Favorite poems XXXI


De Cadernos de João

Aníbal M. Machado

Os que não acumulam
E são os mais ricos
Os que ignoram o espelho
E são os mais belos
Os que não choram e são tristes
Os que não dançam e são alegres
Os que são fortes e nem se lembram
Os que mais parecem irmãos
Das águas, bichos, árvores e pedras...
***
The Tiger
William Blake

Tiger! Tiger! burning bright
In the forests of the night,
What immortal hand or eye
Could frame thy fearful symmetry?

In what distant deeps or skies
Burnt the fire of thine eyes?
On what wings dare he aspire?
What the hand dare seize the fire?

And what shoulder, and what art,
Could twist the sinews of thy heart?
And when thy heart began to beat,
What dread hand? and what dread feet?

What the hammer? what the chain?
In what furnace was thy brain?
What the anvil? what dread grasp
Dare its deadly terrors clasp?

When the stars threw down their spears,
And watered heaven with their tears,
Did he smile his work to see?
Did he who made the Lamb make thee?

Tiger! Tiger! burning bright
In the forests of the night,
What immortal hand or eye
Dare frame thy fearful symmetry?

23.1.07

 

Poemas favoritos XXX
Favorite poems XXX


From A spirit level
Remembered Columns
Seamus Heaney

The solid letters of the world grew airy.
The marble serifs, the clearly blocked uprights
Built upon rocks and set upon the heights
Rose like remembered columns in a story

About the Virgin’s house that rose and flew
And landed on the hilltop at Loreto.
I lift my eyes in a light-headed credo,
Discovering what survives translation true.

Evocadas Colunas
(Tradução de Marcelo Tápia)

As letras sólidas do mundo tornaram-se etéreas.
As serifas marmóreas, as hastes bem modeladas,
Construídas sobre rochas e no alto colocadas,
Subiram como as colunas evocadas na história

Da casa da Virgem, que subiu e pairou no céu
E depois pousou no alto da colina em Loreto.
Eu elevei meus olhos num delirante credo,
Descobrindo o que sobrevive à tradução fiel.
***
Chuva Congelada
Michael Longley
(Tradução de Marcelo Tápia)

Eu reduzo a queda dágua a um candelabro,
Fios de luz, ossos que o gelo descarnou
Recuperam-se em suas bandagens de vidro
E, onde o lago age como nível de bolha,
Guardo bolsas de ar para que a lontra viva.

Eu aumento cada lâmina de grama
Com brotos, chuva congelada e sincelos,
Dedos, polegares buscando o degelo
Derretem, entre o lábio e a língua, até o âmago
Enquanto o vento toca órgão nos ramos.

22.1.07

 

Poemas favoritos XXIX
Favorite poems XXIX


De Cadernos de João

Aníbal M. Machado

Era uma noite em que se barganhavam germes de podridão.
O espírito maligno envenenara a atmosfera.
Destruímos os melhores amigos, as idéias mais caras.
Profanamos a mulher amada.
E retiramo-nos, abatidos, muito abaixo do nosso nível,
Cada um se preparando para uma insônia de
Remorsos e morcegos.
***
The Owl and the Pussy-cat
Edward Lear

The Owl and the Pussy-cat went to sea
In a beautiful pea-green boat:
They took some honey, and plenty of money
Wrapped up in a five-pind note.
The Owl looked up to the stars above,
And sang to a small guitar,
"O lovely Pussy, O Pussy, my love,
What a beautiful Pussy you are,
You are,
You are!
What a beautiful Pussy you are!"

Pussy said to the Owl, "You elegant fowl,
How charmingly sweet you sing!
Oh! Let us be married; too long we have tarried:
But what shall we do for a ring?"

They sailed away, for a year and a day,
To the land where the bong-tree grows;
And there in a wood a Piggy-wig stood,
With a ring at the end of his nose,
His nose,
His nose,
With a ring at the end of his nose.

"Dear Pig, are you willing to sell for one shilling
Your ring?" Said the Piggy, "I will."
So they took it away, and were married next day
By the turkey who lives on the hill.
They dined on mince and slices of quince,
Which they ate with a runcible spoon;
And hand in hand, on the edge of the sand,
They danced by the light of the moon,
The moon,
The moon,
They danced by the light of the moon.

21.1.07

 

Poemas favoritos XXVIII
Favorite poems XXVIII


Táctica y Estrategia
Mario Benedetti

Mi táctica es mirarte,

Aprender como sos,
Quererte como sos.

Mi táctica es hablarte y escucharte,
Construir con palabras
Un puente indestructible.

Mi táctica es quedarme en tu recuerdo,
No sé cómo ni sé con qué pretexto,
Pero quedarme en vos.

Mi táctica es ser franco
y saber que sos franca,
Y que no nos vendamos simulacros,
Para que entre los dos no haya telón
Ni abismos.

Mi estrategia es en cambio,
Más profunda y más simples,
Mi estrategia es
Que un día cualquiera,
No sé cómo ni sé con qué pretexto,
Por fin,
Me necesites.


Tática e Estratégia
Mario Benedetti

(Tradução livre Sérgio Pinheiro Lopes)

Minha tática é olhar para você,
Aprender como és,
Querer-te como és.

Minha tática é falar com você e escutar você,
Construir com palavras
Uma ponte indestrutível.

Minha tática é ficar na sua memória,
Não sei como e nem sei com que pretexto,
Mas ficar em você.

Minha tática é ser franco
E saber que és franca,
E que não nos vendamos simulacros,
Para que entre os dois não haja cortinas
Nem abismos.

Minha estratégia é por outro lado,
Mais profunda e mais simples.
Minha estratégia é
Que um dia qualquer,
Não sei como e nem sei com que pretexto,
Por fim,
Me necessites.

***
The Snow Party
Derek Mahon

Basho, coming
To the city of Nagoya,
Is asked to a snow party.

There is a tinkling of china
And tea into china;
There are introductions.

Then everyone
Crowds to the window
To watch the falling snow.

Snow is falling on Nagoya
And farther south
On the tiles of Kyoto.

Eastward, beyond Irago,
It is falling
Like leaves on the cold sea.

Elsewhere they are burning
Witches and heretics
In the boiling squares,

Thousands have died since dawn
In the service
Of barbarous kings;

But there is silence
In the houses of Nagoya
And the hills of Ise.

A Festa da Neve
(Tradução de Marcelo Tápia)

Bashô, vindo à cidade
De Nagóia, é convidado
A uma festa da neve.

Há um tinido de louça
E chá na xícara;
Há apresentações.

Então todos se juntam
Diante da janela
Para ver a neve cair.

A neve cai em Nagóia
E mais para o sul sobre
Os telhados de Kioto.

A leste, além de Irago,
Ela cai como folhas
No mar gelado.

Alhures, queimam-se
Bruxas e hereges
Em praças ferventes,

Milhares morreram
Desde a aurora a serviço
De reis bárbaros;

Mas há silêncio
Nas casas de Nagóia
E nas colinas de Ise.

20.1.07

 

Transgressões

Mario Benedetti

Todo mandato é minucioso
e cruel
eu gosto
das frugais transgressões

por exemplo inventar o bom
amor
aprender
nos corpos e em seu corpo

ouvir a noite e não dizer
amém
traçar
cada um o mapa de sua audácia

mesmo que nos esqueçamos
de esquecer
é certo
que a recordação nos esquece

obedecer cegamente deixa
cego
crescemos
somente na ousadia

só quando transgrido alguma
ordem
o futuro
se torna respirável

todo mandato é minucioso
e cruel
eu gosto
das frugais transgressões


 

Poemas favoritos XXVII
Favorite poems XXVII


de A.B.C. das Catátrofes

Aníbal M. Machado

O incêndio é a mais impaciente das catástrofes;
A explosão, a mais impulsiva e lacônica;
O abalroamento, a mais colérica;
A inundação, a mais feminina e majestosa.
***
Wild Plum
Orrick Johns

They are unholy who are born
To love wild plum at night,
Who once have passed it on a road
Glimmering and white.

It is as though the darkness had
Speech of silver words,
Or as though a cloud of stars
Perched like ghostly birds.

They are unpitied from their birth
And homeless in men's sight
Who love, better than the earth,
Wild plum at night.

18.1.07

 

Poemas favoritos XXVI
Favorite poems XXVI


História passional, Hollywood, Califórnia

Vinicius de Moraes

Preliminarmente, telegrafar-te-ei uma dúzia de rosas
Depois te levarei a comer um shop-suey
Se a tarde também for loura abriremos a capota
Teus cabelos ao vento marcarão oitenta milhas.

Dar-me-ás um beijo com batom marca indelével
E eu pegarei tua coxa rija como a madeira
Sorrirás para mim e eu porei óculos escuros
Ante o brilho de teus dois mil dentes de esmalte.

Mascaremos cada um uma caixa de goma
E iremos ao Chinese cheirando a hortelã-pimenta
A cabeça no meu ombro sonharás duas horas
Enquanto eu me divirto no teu seio de arame.

De novo no automóvel perguntarei se queres
Me dirás que tem tempo e me darás um abraço
Tua fome reclama uma salada mista
Verei teu rosto através do suco de tomate.

Te ajudarei cavalheiro com o abrigo de chinchila
Na saída constatarei tuas nylon 57
Ao andares, algo em ti range em dó sustenido
Pelo andar em que vais sei que queres dançar rumba.

Beberás vinte uísques e ficarás mais terna
Dançando sentirei tuas pernas entre as minhas
Cheirarás levemente a cachorro lavado
Possuis cem rotações de quadris por minuto.

De novo no automóvel perguntarei se queres
Me dirás que hoje não, amanhã tens filmagem
Fazes a cigarreira num clube de má fama
E há uma cena em que vendes um maço a George Raft.

Telegrafar-te-ei então uma orquídea sexuada
No escritório esperarei que tomes sal de frutas
Vem-te um súbito desejo de comida italiana
Mas queres deitar cedo, tens uma dor de cabeça!

À porta de tua casa perguntarei se queres
Me dirás que hoje não, vais ficar dodói mais tarde
De longe acenarás um adeus sutilíssimo
Ao constatares que estou com a bateria gasta.

Dia seguinte esperarei com o rádio do carro aberto
Te chamando mentalmente de galinha e outros nomes
Virás então dizer que tens comida em casa
De avental abrirei latas e enxugarei pratos.

Tua mãe perguntará se há muito que sou casado
Direi que há cinco anos e ela fica calada
Mas como somos moços, precisamos divertir-nos
Sairemos de automóvel para uma volta rápida.

No alto de uma colina perguntar-te-ei se queres
Me dirás que nada feito, estás com uma dor do lado
Nervosos meus cigarros se fumarão sozinhos
E acabo machucando os dedos na tua cinta.

Dia seguinte vens com um suéter elástico
Sapatos mocassim e meia curta vermelha
Te levo pra dançar um ligeiro jitterbug
Teus vinte deixam os meus trinta e pouco cansados.

Na saída te vem um desejo de boliche
Jogas na perfeição, flertando com o moço ao lado
Dás o telefone a ele e perguntas se me importo
Finjo que não me importo e dou saída no carro.

Estás louca para tomar uma coca gelada
Debruças-te sobre mim e me mordes o pescoço
Passo de leve a mão no teu joelho ossudo
Perdido de repente numa grande piedade.

Depois pergunto se queres ir ao meu apartamento
Me matas a pergunta com um beijo apaixonado
Dou um soco na perna e aperto o acelerador
Finges-te de assustada e falas que dirijo bem.

Que é daquele perfume que eu te tinha prometido?
Compro o Chanel 5 e acrescento um bilhete gentil
"Hoje vou lhe pagar um jantar de vinte dólares"
E se ela não quiser, juro que não me responsabilizo...

Vens cheirando a lilás e com saltos, meu Deus, tão altos
Que eu fico lá embaixo e com um ar avacalhado
Dás ordens ao garçom de caviar e champanha
Depois arrotas de leve me dizendo I beg your pardon.

No carro distraído deixo a mão na tua perna
Depois vou te levando para o alto de um morro
Em cima tiro o anel, quero casar contigo
Dizes que só acedes depois do meu divórcio.

Balbucio palavras desconexas e esdrúxulas
Quero romper-te a blusa e mastigar-te a cara
Não tens medo nenhum dos meus loucos arroubos
E me destroncas o dedo com um golpe de jiu-jítsu.

Depois tiras da bolsa uma caixa de goma
E mascas furiosamente dizendo barbaridades
Que é que eu penso que és, se não tenho vergonha
De fazer tais propostas a uma moça solteira.

Balbucio uma desculpa e digo que estava pensando…
Falas que eu pense menos e me fazes um agrado
Me pedes um cigarro e riscas o fósforo com a unha
E eu fico boquiaberto diante de tanta habilidade.

Me pedes para te levar a comer uma salada
Mas de súbito me vem uma consciência estranha
Vejo-te como uma cabra pastando sobre mim
E odeio-te de ruminares assim a minha carne.

Então fico possesso, dou-te um murro na cara
Destruo-te a carótida a violentas dentadas
Ordenho-te até o sangue escorrer entre meu dedos
E te possuo assim, morta e desfigurada.

Depois arrependido choro sobre o teu corpo
E te enterro numa vala, minha pobre namorada...
Fujo mas me descobrem por um fio de cabelo
E seis meses depois morro na câmara de gás.
***
No Second Troy
William Butler Yeats

Why should I blame her that she filled my days
With misery, or that she would of late
Have taught to ignorant men most violent ways,
Or hurled the little streets upon the great,
Had they but courage equal to desire?
What could have made her peaceful with a mind
That nobleness made simple as fire,
With beauty like a tightened bow, a kind
That is not natural in an age like this,
Being high and solitary and most stern?
Why, what could she have done being what she is?-
Was there another Troy for her to burn?

17.1.07

 

Poemas favoritos XXV
Favorite poems XXV


Um Poema de Chagall

(Tradução de Manuel Bandeira)

Só é meu
O país que trago dentro da alma.
Entro nele sem passaporte
Como em minha casa.
Ele vê a minha tristeza
E a minha solidão.
Me acalanta.
Me cobre com uma pedra perfumada.
Dentro de mim florescem jardins.
Minhas flores são inventadas.
As ruas me pertencem
Mas não há casas nas ruas.
As casas foram destruídas desde a minha infância.
Os seus habitantes vagueiam no espaço
À procura de um lar.
Instalam-se em minha alma.
Eis por que sorrio
Quando mal brilha o meu sol.
Ou choro
Como uma chuva leve
Na noite.
Houve tempo em que eu tinha duas cabeças.
Houve tempo em que essas duas caras
Se cobriam de um orvalho amoroso.
Se fundiam como o perfume de uma rosa.
Hoje em dia me parece
Que até quando recuo
Estou avançando
Para uma alta portada
Atrás da qual se estendem muralhas
Onde dormem trovões extintos
E relâmpagos partidos.
Só é meu
O mundo que trago dentro da alma.
***
The Oft-Repeated Dream
Robert Frost

She had no saying dark enough
For the dark pine that kept
Forever trying the window-latch
Of the room where they slept.

The tireless but ineffectual hands
That with every futile pass
Made the great tree seem as a little bird
Before the mystery of glass!

It never had been inside the room,
And only one of the two
Was afraid in an oft-repeated dream
Of what the tree might do.

16.1.07

 

Ouvi Dizer


Parece que

Por uns anos aí,
Andou trocando de
Olvido.


 

Poemas favoritos XXIV
Favorite poems XXIV


Mozart no Céu

Manuel Bandeira

No dia 5 de dezembro de 1791 Wolfgang Amadeus Mozart entrou no céu,
como um artista de circo, fazendo piruetas extraordinárias
sobre um mirabolante cavalo branco.

Os anjinhos atônitos diziam: Que foi? Que foi?
Melodias jamais ouvidas voavam nas linhas suplementares superiores
da pauta.

Um momento se suspendeu a contemplação inefável.
A Virgem beijou-o na testa
E desde então Wolfgang Amadeus Mozart foi o mais moço dos anjos.
***
Revelation
Robert Frost

We make ourselves a place apart
Behind light words that tease and flout,
But oh, the agitated heart
Till someone find us really out.

'Tis pity if the case require
(Or so we say) that in the end
We speak the literal to inspire
The understanding of a friend.

But so with all, from babes that play
At hide-and-seek to God afar,
So all who hide too well away
Must speak and tell us where they are.

15.1.07

 

Poemas favoritos XXIII
Favorite poems XXIII


Ah! Os Relógios

Mario Quintana

Amigos, não consultem os relógios
quando um dia eu me for de vossas vidas
em seus fúteis problemas tão perdidas
que até parecem mais uns necrológios...

Porque o tempo é uma invenção da morte:
não o conhece a vida - a verdadeira -
em que basta um momento de poesia
para nos dar a eternidade inteira.

Inteira, sim, porque essa vida eterna
somente por si mesma é dividida:
não cabe, a cada qual, uma porção.

E os Anjos entreolham-se espantados
quando alguém - ao voltar a si da vida -
acaso lhes indaga que horas são...
***
Of The Surface Of Things
Wallace Stevens

I
In my room, the world is beyond my understanding;
But when I walk I see that it consists of three or four hills and
a cloud.

II
From my balcony, I survey the yellow air,
Reading where I have written,
"The spring is like a belle undressing."


14.1.07

 

All I Really Want To Do
Bob Dylan


I ain't lookin' to compete with you,

Beat or cheat or mistreat you,
Simplify you, classify you,
Deny, defy or crucify you.
All I really want to do
Is, baby, be friends with you.

No, and I ain't lookin' to fight with you,
Frighten you or uptighten you,
Drag you down or drain you down,
Or chain you down or bring you down.
All I really want to do
Is, baby, be friends with you.

I ain’t lookin’ to straight-face you,
Race or chase you, track or trace you,
Or disgrace you or displace you,
Or confine you or define you.
All I really want to do
Is, baby, be friends with you.

I ain't lookin' to lock you up
Lock or shock or knock you up,
Analyze you, categorize you,
Finalize you or advertise you.
All I really want to do
Is, baby, be friends with you.

I don't want to meet your kin,
Make you spin or do you in,
And it don’t matter if you feel like me,
See like me or be like me.
All I really want to do
Is, baby, be friends with you.
(To Fernanda)


 

Poemas favoritos XXII
Favorite poems XXII


Vou-me Embora pra Pasárgada

Manuel Bandeira

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica

Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo

É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste

Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.

***
My Light With Yours
Edgar Lee Masters

When the sea has devoured the ships,
And the spires and the towers
Have gone back to the hills,
And all the cities
Are one with the plains again,
And the beauty of bronze
And the strength of steel
Are blown over silent continents
As the desert sand is blown—
My dust with yours forever.

When folly and wisdom are no more,
And fire is no more,
Because man is no more;
When the dead world, slowly spinning,
Drifts and falls through the void—
My light with yours
In the Light of Lights forever!

12.1.07

 

Poemas favoritos XXI
Favorite poems XXI


A Rosa de Hiroshima

Vinicius de Moraes

Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
sem rosa sem nada
***
Usk
T. S. Eliot

Do not suddenly break the branch, or
Hope to find
The white hart behind the white well.
Glance aside, not for lance, do not spell
Old enchantments. Let them sleep.
'Gently dip, but not too deep',
Lift your eyes
Where the roads dip and where the roads rise
Seek only there
Where the grey light meets the green air
The hermit's chapel, the pilgrim's prayer.

11.1.07

 

Poemas favoritos XX
Favorite poems XX


Lamento do Guardião da Fronteira

Li T'ai-Po
(Tradução de Augusto de Campos via Ezra Pound)

Pelo Portão do Norte sopra o vento carregado de areia,
Solitário desde a origem do tempo até agora!
Árvores caem, no outono a relva amarelece.
Galgo tôrres e tôrres
para vigiar a terra bárbara:
Desolado castelo, o céu, o amplo deserto.
Nenhum muro de pé sôbre esta aldeia.
Ossos alvos com milhares de geadas,
Altas pilhas, cobertas de árvores e grama;
Quem fêz com que isto acontecesse?
Quem trouxe a cólera imperial flamante?
Quem trouxe o exército com tambores e tímbales?
Bárbaros reis.
De uma promavera suave a um outono de saque e sangue,
trezentos e sessenta mil,
E tristeza, tristeza como chuva.
Tristeza para ir, tristeza no regresso.
Desolados, desolados campos,
E nenhuma criança de campanha sôbre êles,
Não mais os homens para a ofensa e a defesa.
Ah! Como sabereis de tôda esta tristeza
no Portão do Norte,
Com o nome de Rihaku (*) esquecido
E nós, guardiões, pasto dos tigres?

(*) Rihaku, nome japonês de Li T'ai-Po
***
From the Spoon River Anthology
Mrs. Sibley

The secret of the stars, - gravitation.
The secret of the earth,- layers of rock.
The secret of the soil,- to receive seed.
The secret of the seed,- the germ.
The secret of man,- the sower.
The secret of woman,- the soil.
My secret: Under a mound that you shall never
find.

10.1.07

 

Poemas favoritos XIX
Favorite poems XIX


de O Navegante

Li T'ai-Po
(Tradução de Augusto de Campos via Ezra Pound)

Possa eu contar em veros versos vários,
No jargão da jornada, como dias duros
Sofrendo suportei.
Terríveis sobressaltos me assaltaram
E em meu batel vivi muitos embates,
Duras marés, e ali, noites a fio,
Em vigílias sem fim fiquei, o barco
rodopiando entre os recifes. Frio-aflitos
Os pés pela geada congelados.
Granizo - seus grilhões; suspiros muitos
Partiram do meu peito e a fome fêz
Feridas no meu brio. Para ver
Quanto vale viver em terra firme,
Ouçam como, danado, em mar de gêlo,
Venci o inverno a vogar, pobre proscrito,
Privado de meus companheiros;

Gosma de gêlo, granizo-grudado,
Sem ouvir nada além do mar amargo,
A onda froco-fria e o grasnido do cisne
No meu ouvido como um gruir de ganso,
Riso de aves marinhas sôbre mim,
Pés d'água, entre penhascos, contra a pôpa,
Plumas de gêlo. E às vezes a águia guaia
Com borrifos nas guias.
Nenhum teto
Protege o navegante ao mar entregue.
É o que não sabe o que vai em vida mansa,
Rico e risonho, os pés na terra estável,
Enquanto, meio-morto, mourejando,
Eu moro em móvel mar.
***
From the Spoon River Anthology
Ernest Hyde

My mind was a mirror:
It saw what it saw, it knew what it knew.
In youth my mind was just a mirror
In a rapidly flying car,
Which catches and loses bits of the landscape.
Then in time
Great scratches were made on the mirror,
Letting the outside world come in,
And letting my inner self look out.
For this is the birth of the soul in sorrow,
A birth with gains and losses.
The mind sees the world as a thing apart,
And the soul makes the world at one with itself.
A mirror scratched reflects no image -
And this is the silence of wisdom.

9.1.07

 

Poemas favoritos XVIII
Favorite poems XVIII


Parada Cardíaca

Paulo Leminski

Essa minha secura
essa falta de sentimento
não tem ninguém que segure
vem de dentro

Vem da zona escura
donde vem o que sinto
sinto muito
sentir é muito lento
***
N.Y.
Ezra Pound

My city, my beloved, my white!
Ah, slender,
Listen! Listen to me, and I will breathe into thee a soul.
Delicately upon the reed, attend me!

Now do I know that I am mad,
For there are a million people surly with traffic;
This is no maid.
Neither could I play upon any reed if I had one.

My city, my beloved,
Thou art a maid with no breasts,
Thou art slender as a silver reed.
Listen to me, attend me!
And I will breathe into thee a soul,
And thou shalt live for ever.

8.1.07

 

Sena


Sena de 2005 pagou R$ 52 milhões.
Sena em 2007 recebeu 5 tiros.

 

Poemas favoritos XVII
Favorite poems XVII


Meio-dia

Maria Rita Kehl

tem dias que eu faço varais só brancos
inteirinhos brancos
só de fraldas e camisas e lençóis e céu
fico vendo voar
minhas pombas de pano.

Meu coração se pudesse tremia
na aflição de querer ser assim
como eu sei

e tem dias que eu cozinho
em fogo lento
***
Sonnet - Reality Series
E. E. Cummings

when thou hast taken thy last applause, and when
the final curtain strikes the world away,
leaving to shadowy silence and dismay
that stage which shall not know thy smile again,
lingering a little while i see thee then
ponder the tinsel part they let thee play;
i see the large lips livid, the face grey,
and silent smileless eyes of Magdalen.
The lights have laughed their last; without, the street
darkling awaiteth her whose feet have trod
the silly souls of men to golden dust:
she pauses on the lintel of defeat,
her heart breaks in a smile - and she is Lust. ...

mine also, little painted poem of god

7.1.07

 

Poemas favoritos XVI
Favorite poems XVI


Liberdade

Fernando Pessoa

Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.

O rio corre, bem ou mal
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...

Livros são pápéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flôres, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...
***
The Old Woman
Joseph Campbell

As a white candle
In a holy place,
So is the beauty
Of an aged face.

As the spent radiance
Of the winter sun,
So is a woman
With her travail done.

Her brood gone from her,
And her thoughts as still
As the waters
Under a ruined mill.

6.1.07

 

Menino


Sobre minha alma
De menino
Finas camadas
De cinismo,
De traquejo,
De experiência.
As manhas, as cascas
De adulto.
Agora é descolar,
Uma a uma,
As tênues capas
Que juntas se espessam:
Joio e trigo,
Joio e trigo,
Joio e trigo,
Para, quem sabe,
Vislumbrar, ainda que
Pálido,
O rosto esquecido,
O olhar colorido,
O gosto da primeira vez
Em tudo.
Cuido dos meus
Dias grisalhos,
Removendo meticuloso
A cola poderosa do
Tempo e do hábito.

 

Poemas favoritos XV
Favorite poems XV


Pareça e Desapareça

Paulo Leminski

Parece que foi ontem.
Tudo parecia alguma coisa.
O dia parecia noite.
E o vinho parecia rosas.
Até parece mentira,
tudo parecia alguma coisa.
O tempo parecia pouco,
e a gente se parecia muito.
A dor, sobretudo,
parecia prazer.
Parecer era tudo
que as coisas sabiam fazer.
O próximo, eu mesmo.
Tão fácil ser semelhante,
quando eu tinha um espelho
pra me servir de exemplo.
Nada se parece com nada.
A fita não coincide
Com a tragédia encenada.
Parece que foi ontem.
O resto, as próprias coisas contem.

Pasts
Alfred Kreymborg

Science
Drove his plough-
So straight,
So strong,
So true-
Deep and far
Into the past,
And it turned it topsy-turvy.
Now
We are frantically busy,
With all of our many hands,
Sowing the next past.

This page is powered by Blogger. Isn't yours?