31.1.08

 

Trilha do Dia
Soundtrack of the Day
Shostakovich Cello Concerto No. 1
John Michel



 

Francesco d'Este
Rogier van der Weyden
c. 1460



 

Surfin' USA
The Beach Boys




Ao vivo.
***
Live.

 

Honestidade
Honesty




Londrina x Eng. Beltrão.
Narrado em português, sem legendas.
***
Londrina vs. Eng. Beltrão.
Broadcasted in Portuguese, no subtitles.

 

Catalan
Psychic TV
Derek Jarman
Genesis P-Orridge
Jordi Valls




Curta espanhol.
Sem legendas.
***
Spanish short.
No subtitles.

 

História do Blues
Blues History
Driftin' Blues
Paul Butterfield



 

Poemas 227
Poems 227


Mormaço

Vinícius de Moraes

No silêncio morno das coisas do meio-dia

Eu me esvaio no aniquilamento dos agudíssimos do violino
Que a menina pálida estuda há anos sem compreender.
Eu sinto o letargo das dissonâncias harmônicas
Do vendedor de modinhas e da pedra do amolador
Que trazem a visão de mulheres macilentas dançando no espaço
Na moleza das espatifadas da carne.

Eu vou pouco a pouco adormecendo
Sentindo os gritos do violino que penetram em todas as frestas
E ressecam os lábios entreabertos na respiração
Mas que dão a impressão da mediocridade feliz e boa.

Que importa que a imagem do Cristo pregada na parede seja a verdade...

Eu sinto que a verdade é a grande calma do sono
Que vem com o cantar longínquo dos galos
E que me esmaga nos cílios longos beijos luxuriosos...

Eu sinto a queda de tudo na lassidão...
Adormeço aos poucos na apatia dos ruídos da rua
E na constância nostálgica da tosse do vizinho tuberculoso
Que há um ano espera a morte que eu morro no sono do meio-dia.

30.1.08

 

Trilha do Dia
Soundtrack of the Day
La Donna é Móbile
Enrico Caruso



 

Guarda
Guard
Lothar Wolleh
1965



 

Nursery Rhyme
Michael Demosthenous




Curta australiano em rima.
Em inglês, sem legendas.
***
Australian short in rhymes.
In English, no subtitles.

 

Top Gun Reeditado
Top Gun Recut




Trailer de Top Gun reeditado como um filme gay.
***
Top Gun preview recut as a gay film.

 

Soñé Estar Aqui
Roger Solis y Gianni Chirinos




Curta peruano.
***
Peruvian short.

 

História do Blues
Blues History
The Sky is Crying
Son Seals



 

Poemas 226
Poems 226


Su Amor No Era Sencillo

Mario Benedetti

Los detuvieron por atentado al pudor.
Y nadie les creyó cuando el hombre y la mujer trataron de explicarse.
En realidad, su amor no era sencillo.
Él padecía claustrofobia, y ella, agorafobia.
Era sólo por eso que fornicaban en los umbrales.

29.1.08

 

Trilha do Dia
Soundtrack of the Day
Gabriel's Oboe
Ennio Morricone



 

A Grande Odalisca
La Grand Odalisque
Ingres
1814



 

Tente
Try
Jonas Äkerlund




Em inglês, sem legendas.
***
In English, no subtitles.

 

Folsom Prison Blues
Mallu Magalhães




Finalmente no YouTube.
Só uma palhinha, canção incompleta.
Ela pode ser ouvida cantando 3 canções completas no endereço do MySpace que postei ontem.
***
Finally on the YouTube.
Just a sample, the song is incomplete.
She can be heard singing 3 complete songs in the MySpace address I posted yesterday.

 

?orquê
João Souza






Curta de animação português.
Sem legendas.
***
Portuguese animation short.
No subtitles.

 

História do Blues
Blues History
Fishing Blues
Taj Mahal



 

Poemas 226
Poems 226


Mending Wall
Robert Frost

Something there is that doesn't love a wall,
That sends the frozen-ground-swell under it,
And spills the upper boulders in the sun;
And makes gaps even two can pass abreast.
The work of hunters is another thing:
I have come after them and made repair
Where they have left not one stone on a stone,
But they would have the rabbit out of hiding,
To please the yelping dogs. The gaps I mean,
No one has seen them made or heard them made,
But at spring mending-time we find them there.
I let my neighbor know beyond the hill;
And on a day we meet to walk the line
And set the wall between us once again.
We keep the wall between us as we go.
To each the boulders that have fallen to each.
And some are loaves and some so nearly balls
We have to use a spell to make them balance:
'Stay where you are until our backs are turned!'
We wear our fingers rough with handling them.
Oh, just another kind of outdoor game,
One on a side. It comes to little more:
There where it is we do not need the wall:
He is all pine and I am apple orchard.
My apple trees will never get across
And eat the cones under his pines, I tell him.
He only says, 'Good fences make good neighbors.'
Spring is the mischief in me, and I wonder
If I could put a notion in his head:
'Why do they make good neighbors? Isn't it
Where there are cows? But here there are no cows.
Before I built a wall I'd ask to know
What I was walling in or walling out,
And to whom I was like to give offense.
Something there is that doesn't love a wall,
That wants it down.' I could say 'Elves' to him,
But it's not elves exactly, and I'd rather
He said it for himself. I see him there
Bringing a stone grasped firmly by the top
In each hand, like an old-stone savage armed.
He moves in darkness as it seems to me,
Not of woods only and the shade of trees.
He will not go behind his father's saying,
And he likes having thought of it so well
He says again, 'Good fences make good neighbors.'

28.1.08

 

Dica de Jovem Cantora


Não tenho acesso para fazer os downloads das músicas desta jovem chamada Mallu Magalhães.
Como canta a menina!
É sempre uma maravilha quando a juventude encontra-se cedo com o talento.
Ela vai dar o que falar (e ouvir).
O link para ouvir algumas de suas canções é:

http://www.myspace.com/mallumagalhaes

Visitem que não vão se arrepender.

 

Trilha do Dia
Soundtrack of the Day
The Barber of Seville
Orchestra of the Rome Opera



 

Homem Cego, Espanha
Blind Man, Spain
Joel Meyerowitz
1967



 

Lendas Urbanas
Urban Legends
Wesley Kink






Curta de horror.
Em inglês, sem legendas.
***
Horror short.
In English, no subtitles.

 

Simpático
por
Simpática


Simpático sugeriu que ela deveria encontrá-lo no seu ambiente.
Durante o dia, no horário matutino, ele poderia ser encontrado num café no bairro da Lapa. Sentava-se numa das mesas da calçada, pedia um café, levava um livro para ir passando o tempo. E um caderninho de anotações. Escrevia romances, contos e crônicas do dia-a-dia da cidade. Sempre usava um colete, desses de fotógrafo.
Sentiu-se como se estivesse invadindo o cenário de um outro autor. Espaço dominado por personagens criados para uma existência literária num livro já escrito ou por escrever. Enquanto caminhava na direção do café, percebeu que os pedestres pareciam movimentar-se de modo coordenado, suave, quase artificial, como que obedecendo ao comando do escritor. Os garçons compenetrados em suas tarefas repetitivas, nenhum copo fora de lugar, nenhum cinzeiro por limpar. Nenhum barulho de pratos ou talheres, nenhum gesto desastrado, nenhuma voz desafinada. Uma atmosfera de total silêncio cercava a mesa onde Simpático, usando os seus óculos de grau, fazia algumas anotações em seu caderninho.
- Olá – disse ela.
Levantou-se imediatamente para cumprimentá-la. Sentaram-se enquanto ele passeava o olhar pelo ambiente como que para certificar-se de que todos estavam em seus devidos lugares. De fato, naquele instante, perguntou a si mesma se ele dedicaria mais do que uma ou duas linhas para descrevê-la em seus escritos. Tinha a impressão de que ocupava uma cadeira antes ocupada por tantos outros candidatos a personagem.
- Transformo tudo em literatura. Digo: vou colocar o que você disse no meu próximo livro, e todos ficam satisfeitos, lisonjeados em fazer parte deste meu universo literário – ele disse orgulhoso.
- Sem dúvida, é uma maneira de alcançar algum tipo de notoriedade.
- E você? Você escreve bem...
- Estou tentando, mas gostaria de ousar mais... meu modo de pensar é um tanto caótico, circular...
- Eu prefiro manter uma certa linearidade nos meus escritos...
Ele virou-se para cumprimentar uma moça que acabara de chegar; ela lançou um olhar curioso para a nova personagem. O interesse foi recíproco. Ele pareceu incomodado, e procurou ignorar a presença da outra. Mas, antes de voltar-se novamente para ela e continuar a conversa, olhou de soslaio para duas mulheres que tomavam café na mesa ao lado. Finalmente satisfeito com a nova disposição dos personagens ao seu redor, olhou fixamente para ela. Os olhos tinham uma coloração particular, tons de verde, cinza ou azul. O queixo erguido de um modo levemente arrogante.
- E então, o que você quer saber sobre mim? – ele perguntou.
Curiosamente ela ficou sem palavras. Tentou articular alguma pergunta, e balbuciou algumas incoerências. Ele pareceu frustrado.
- Pelo jeito não sou muito interessante...
- Não é isso... – e ela percebeu que o que queria saber sobre ele já estava mais ou menos evidente no cenário plácido dos seus escritos, nos gestos pausados, na linguagem não verbal da postura orgulhosa, na insistente procura pelo olhar feminino, na expressão desafiadora dos olhos de cor indefinível.
- Então fale um pouco mais de você – ele disse impaciente. Num movimento brusco para acender o cigarro, quebrou um copo. Ela pensou se era mesmo um acidente, ou mais um elemento dramático para enfatizar o momento de impaciência. Enquanto pensava se aquele copo estava mesmo ali, um garçom veio imediatamente recolher os pedaços.
Ela começou a falar de si mesma. Ele parecia distraído com o movimento na rua, cumprimentava um ou outro conhecido de modo discreto, reclamava dos barulhos ou eventos que pareciam estar fora de lugar. Ela pensou que nada do que dissera tinha algum valor literário, e que portanto, aquelas palavras sobre o seu passado tinham pouco valor para Simpático. Tinham sido desperdiçadas, o caderno de anotações continuava vazio.
- Eu já sei tudo o que há para saber sobre as mulheres – ele afirmou – nada me escapa.
- Eu nada sei dos homens... – ela brincou.
- Não há mesmo nada para saber. What you see is what you get – disse com uma pronúncia perfeita do inglês – Não há nada para procurar, os homens são um tanto óbvios, superficiais... – e disse isso acompanhando com o olhar uma jovem que atravessava a rua. Virou-se para ela sorridente.
- Vamos dar uma volta no parque?
Ele pareceu satisfeito com a nova seqüência de eventos. Pagou a conta e por um breve momento segurou a mão dela ao atravessarem a rua.
- Gosto muito deste parque. Venho sempre aqui.
Era um parque com algumas árvores espalhadas ao redor de uma fonte desligada, seca, empoeirada. O caminho entre as árvores era irregular, aqui e ali um banco de madeira onde casais sentavam-se à sombra para namorar. Percorreram um caminho circular, observando a fonte seca no forte calor do sol do meio-dia.
Ela ficou pensando qual seria o significado da fonte para Simpático; se no passado teria sido uma fonte de água fresca no calor do dia, ou até, se realmente estava ali, existia de fato. Pensou que o sol forte poderia simplesmente estar lhe pregando uma peça. A fonte seria apenas uma miragem; teria sido criada para figurar em algum de seus contos, e depois acabou ficando por ali, esquecida, seca. Ele tinha um sorriso no rosto.
- Quero escrever ainda muitos livros, estou decidido a escrever um livro por ano até os sessenta. É preciso ter planos, menina, o tempo passa...
- Eu não acredito muito em planos, acho que as coisas acontecem meio que por acaso... – e ela percebeu uma brisa, algumas folhas que caíam das árvores.
- Alguma coisa acontece por acaso... – ele disse, acompanhando o seu olhar – mas muita coisa a gente faz acontecer – disse com um movimento dos braços.
E nesse momento, acompanhando o gesto de Simpático, ela passou os olhos por um canteiro de flores delicadas que não havia percebido. Ficou intrigada com o fato de não ter visto o canteiro antes. Ele pareceu lançar um olhar divertido em sua direção.
- Não vai me dizer que você quer ser medíocre...
- De certa forma, o nosso pensamento define o nosso destino – ela se desculpou.
- É um fato – ele disse.
- Às vezes eu tenho medo de pensar.
- Medo de pensar? Essa é boa.
Ele continuou a caminhar e parou por um instante para observá-la. Ela pensou se ele ia finalmente pegar o caderninho de anotações.
- Você é tímida, não é? Sei como são as tímidas... acham que todo mundo está sempre prestando atenção ao que elas fazem ou dizem... no íntimo, são como vedetes, gostam de se exibir.
- Você acha mesmo? Eu nem me acho muito vaidosa...
- O quê? Claro que é. Todo mundo gosta de ser admirado, invejado. Nothing human is foreign to me, esse o meu lema.
- Você é vaidoso?
- Claro... durante muitos anos fui invejado... fui casado com uma mulher linda, todos a admiravam, sempre tive muita sorte...
O olhar de Simpático adquiriu um novo brilho enquanto lembrava de seu passado. Ela sentiu-se levemente desconfortável, colocada em seu lugar, tímida que era. Pensou que, em outros tempos, ele jamais teria lançado um segundo olhar em sua direção.
- Digo sempre para o meu filho: o segredo da conquista é ir sem medo atrás das mulheres mais bonitas, pois a maioria dos homens se intimida diante da beleza...
O ar parecia cada vez mais seco. A brisa agitava um pouco o pó que pairava sobre a fonte. Procurava, procurava e não encontrava. Afinal, onde estava aquele canteiro de flores delicadas?
- Gosto das suas sardas... – disse ele para confortá-la.
Imaginou se em seus escritos ele iria referir-se a ela como “aquela moça tímida sardenta que não sabia fazer perguntas”.
Ingressara naquele cenário de um outro autor sem pesar as conseqüências e agora pagava o preço. Sentia o olhar do autor sobre si mesma, desconstruindo a imagem que construíra a tanto custo, superando traumas, inseguranças, medos. Ela seria então nada mais do que esta tímida vedete, um personagem ridículo, uma figura desinteressante e patética, alguém que não presta sequer para ser um pequeno personagem numa crônica qualquer? Sentiu alguma dificuldade de respirar, o ar muito seco. Teve sede, mas não havia água na fonte empoeirada.
O olhar de Simpático tinha agora um brilho azul metálico, penetrante como uma lâmina. O brilho do olhar ofuscava, o sol brilhava no céu da cor dos olhos dele, a fonte seca. Desesperada, sentiu-se desaparecendo pouco a pouco naquele cenário. Precisava sobreviver, modificar aquele desfecho, mas como? Sentiu-se imobilizada, cercada pelos personagens que agora pareciam sinistros em seu silêncio, o parque sem vida e o olhar duro e afiado de Simpático rasgando o seu rosto.
Fechou os olhos, e pouco a pouco recuperou algum equilíbrio. Respirou com calma, e ficou ouvindo o canto de algum pássaro à distância. Depois de algum tempo imaginou ouvir o barulho da água, a brisa trazendo o ar úmido. A fonte agora brilhando na luz do sol, o canteiro das flores cor-de-rosa contrastando com o olhar cada vez mais azul, quase em tons de verde de Simpático. Um olhar curioso, observando os detalhes de seu rosto. A mão tocando levemente o seu braço enquanto atravessavam a rua novamente na direção do café.
Agora podia ouvir o barulho dos copos e talheres, notou os cinzeiros cheios, risos, garçons desajeitados, atrasados. Homens misteriosos e mulheres complexas entretidos em conversas despreocupadas. Nenhum olhar se voltou para eles, estavam praticamente invisíveis. Simpático absorto em seus próprios pensamentos, um leve sorriso nos lábios, o olhar sonhador, segurando o seu braço de modo protetor, sem olhar para os lados.
Ela queria compreendê-lo. Procurar onde não há. Encontrar o que não existe. Inventá-lo.
- Simpática você! – ele disse abruptamente.
Simpática? ela pensou. Ele me acha simpática? Mas não é isso que os homens geralmente dizem quando querem se livrar de uma mulher? “Você é simpática, mas...”
- Ao invés de ficar tentando ler nas entrelinhas, porque você não dá uma maior atenção ao significado da palavra? Um sentimento de afinidade, proximidade... estava sendo exclamativo, porque estamos nos dando tão bem. Vamos devagar, doucement...
E foram caminhando lado a lado sem maiores preocupações, sem planos. Abandonaram o café. O barulho dos carros, os pedestres apressados, tudo parecia em desordem à medida que se afastavam. Sentiu-se confortável neste novo cenário. Um carro passou de fininho por ele na esquina.
- Você viu?
- Acidentes são imprevisíveis. É preciso ter cuidado.
Simpático pareceu um tanto assustado, intranqüilo, vulnerável, naquele novo cenário. O suor frio escorrendo pelo rosto. O olhar apreensivo, verde, definitivamente verde.
Ela, por outro lado, sentiu-se em seu ambiente, circulando pelo caos, pela incerteza de seus pensamentos. Era novamente personagem principal de um conto, ou ainda melhor, uma heroína de romance. Vaidade, vaidade, ela pensou.
- Adorei conhecer você – ele disse.
E enquanto deixavam o café e o parque para trás, os personagens foram adquirindo contornos indefinidos, múltiplos, apagados. Ficaram por algum tempo ainda em sua memória até finalmente caírem numa espécie de existência presumível.

 

Estória do Gato e da Lua
The Story of the Cat and the Moon
Pedro Serrazina




Curta de animação português com narração em inglês de Joaquim de Almeida.
***
Portuguese animation short with English narration by Joaquim de Almeida.

 

História do Blues
Blues History
Double Whammy
Lonnie Mack



 

Poemas 225
Poems 225


Saudação a Mario Quintana

Manuel Bandeira

E quer no pudor dos lares,
quer no horror dos lupanares,
cheiram sempre os teus cantares

Ao ar dos melhores ares,
pois são simples, invulgares,
Quintana, os teus quintanares.

Por isso peço não pares,
Quintana, nos teus cantares...
Perdão! Digo quintanares.



26.1.08

 

Trilha do Dia
Soundtrack of the Day
Casta Diva
Maria Callas



 

Solidão
Solitude
Thomas Moran
1897



 

More
Mark Osborne




American animation short.
Nominated for the Academy Award.
***
Curta de animação americano.
Indicado para o Oscar.

 

Flashes Cotidianos
Sergio Pinheiro Lopes


Ivrit


Há alguns anos, quando passava pelo viaduto da Avenida Dr. Arnaldo, via uma construção sendo erguida na primeira esquina da Rua Oscar Freire.
Aos poucos fui distinguindo a forma do enorme e improvável edifício:
Estava sendo feito na forma de um rolo da Torá sendo desenrolada.
Assim que ficou pronto e, evidentemente inaugurado, resolvi visitá-lo.
Era o Centro de Cultura Judaica.
Descobri que entre suas inúmeras atividades – palestras, exposições, coral, filmes e peças – também tinha um curso de Hebraico. E o que é melhor, a preços bem convidativos.
o hesitei. Matriculei-me imediatamente para ter três aulas por semana pelas manhãs.
Excelente!
Gosto muito de línguas e de culturas de outros povos. Mas esta me desperta uma curiosidade a mais, pois a cultura judaica está na base da minha formação e cultura cristã.
Bem. Aprender uma língua, já per si, não é empreitada fácil e muito menos de curta duração. Considerando que o hebraico além de usar outro alfabeto, é escrito da direita para a esquerda, ficou-me evidente que a tarefa não iria ser das mais simples.
Ani lamed Ivrit. “Eu aprendo hebraico”, em caracteres ocidentais.
Mas não contava com a didática impecável dos mestres e a dedicação dos meus companheiros de sala. Há os caracteres que equivalem às nossas consoantes e pontinhos estrategicamente colocados para representar as vogais. Além disso, é uma língua (aramaico modernizado, quero crer) que foi planejada para ser o mais regular possível.
E assim, por muitas semanas, fui dedicadamente às minhas aulas de hebraico.
Não só sentia que estava aprendendo, como até pude escolher um nome hebraico para mim (Guy) e à cada aula, aprendia uma forma verbal nova, adquiria vocabulário novo e, logo, consegui formar novas sentenças, simples, mas novas o suficiente para sentir vontade de usá-las.
Além disso, o lugar oferece uma grande variedade de atividades culturais e interessantes, contemplando os múltiplos aspectos desta cultura milenar.
Então, como eu dizia, comecei a aprender hebraico e estava gostando do curso.
Mas aí aconteceu uma coisa, para mim, completamente surpreendente:
A partir de certo momento, o ensino deixou de incluir os tais pontinhos que indicavam as vogais?!?
O argumento didático que foi dado é perfeitamente razoável, eles ocorrem em lugares tão específicos que é possível, e até desejável retirá-los, pela simplicidade que introduzem na leitura e na escrita.Mas eu, teimosamente, na minha rabugice de coroa, não pude deixar de achar que isso era, além dos argumentos apresentados, uma forma de humor judaico. Pra cima de nós, pobres Góis, é claro.
Naturalmente que não foi por esta razão que parei com as aulas, infelizmente alguns acontecimentos cotidianos impuseram-me limites e achei que uma interrupção era inevitável naquele momento.
Devo (e quero voltar) a aprender hebraico logo mais.
Entre outras coisas pelo humor que vislumbro na língua.
Faz parte, bem sei.
Afinal, quem me mandou ser Gói.

 

Esboço da Vida
Christian Gurtner






Curta brasileiro, em português, sem legendas.
***
Brazilian short, in Portuguese, no subtitles.

 

História do Blues
Blues History
Dr. John



 

Poemas 224
Poems 224


El Albatros

Charles Baudelaire

Frecuentemente, para divertirse, los tripulantes

Capturan albatros, enormes pájaros de los mares,
Que siguen, indolentes compañeros de viaje,
Al navío deslizándose sobre los abismos amargos.

Apenas los han depositado sobre la cubierta,

Esos reyes del azur, torpes y temidos,
Dejan lastimosamente sus grandes alas blancas
Como remos arrastrar a sus costados.

Ese viajero alado, ¡cuan torpe y flojo es!
Él, no ha mucho tan bello, ¡qué cómico y feo!
¡Uno tortura su pico con una pipa,
El otro remeda, cojeando, del inválido el vuelo!

El Poeta se asemeja al príncipe de las nubes

Que frecuenta la tempestad y se ríe del arquero;
Exiliado sobre el suelo en medio de la grita,
Sus alas de gigante le impiden marchar.

25.1.08

 

Trilha do Dia
Soundtrack of the Day
Aria (Cantilena) Adágio
Bachianas Brasileiras No 5
Heitor Villa-Lobos



 

Mercado Central de São Paulo
São Paulo Central Market
c. 1950





 

Terminus
Trevor Cawood




Curta canadense.
Em inglês, sem legendas.
***
Canadian short.
In English, no subtitles.

 

25 de Janeiro
Sergio Pinheiro Lopes


Nasci um ano antes do Quarto Centenário, quando inauguraram o Ibirapuera. Havia barcos a remo e a motor no lago e um restaurante ao lado do deck. Ia-se a pé por ruas de sibipirunas e tipuanas.
Os Jardins podiam ser chamados de Pomares: havia ruas com jabuticabeiras, amoreiras, pés-de-café (tinha um na frente de casa) e muitas outras.
As pajens – era assim que as chamavam – andavam com os carrinhos de bebê nas praças, os táxis e os telefones eram pretos, os guarda-civis usavam uniforme azul e luvas brancas. Dava para jogar bola na rua Estados Unidos. No centro da praça das Guianas havia uma árvore imensa. Quando eu era menino dava para ficar contando os carros que passavam pela 9 de Julho. Era lá que passava a parada de 7 de Setembro, e, no carnaval, havia corso na avenida Brasil.
O Harmonia não era clube de gente metida. A rua Canadá inundava em dia de chuva. O Morumbi não existia. A cidade acabava lá pelo Jockey Club, depois era ‘o pasto’, como se dizia. Hoje ando como alma penada nessa minha cidade, arrancando pedaços de memória das poucas casas de então, de um quebradinho na calçada, de uma ou outra árvore. Meu Tio Julinho parava o carro naquela esquina quando vinha tomar lanche no domingo. A Casa América tinha o melhor sorvete de pistache do mundo. O primeiro supermercado da cidade chamava-se Sirva-se, localizado na rua Augusta. Um pouco mais para cima ficavam o cine Paulista e a primeira lanchonete que só vendia hot-dog com fritas e hot fudge nut. Ia para o cinema, para a escola, para o clube, para visitar minha avó, tudo de bonde. Depois veio o ônibus elétrico que fazia hmmmmmmm quando acelerava. A praça das Bandeiras chamava “O Piques”, e a rua Direita era torta. O cine Marrocos era o mais aconchegante, e a Salada Paulista, na avenida Ipiranga, era restaurante de gente educada. Comia-se bem. Havia a praça da República e flores no largo do Arouche – acho que ainda têm. As meninas do Externato Meira eram as mais galinhas, e o Consulado Americano ficava no Conjunto Nacional, aquele, com o relógio da Willys (Overland do Brasil). O crioulo que fazia as entregas da Mercearia Vera chamava-se Sagüi, e todo dia era possível cruzar com o escocês e seu coolie. O tempo vivia nublado, sempre garoava. A cidade era mais fria, as pessoas mais quentes. Dormia-se de janela aberta. Meu cachorro Paddy andava solto, todo mundo o conhecia. Todas as ruas eram de paralelepípedos. E esses meus cabelos brancos são apenas um disfarce, nunca cresci, continuo menino e continuo contando os carros.
Hoje é aniversário de São Paulo.

(Crônica publicada no livro Peneira do Tempo)

 

A Encomenda
Alan Minas




Curta brasileiro com Othon Bastos e Marcos Breda.
Em português, sem legendas.
***
Brazilian short with Othon Bastos and Marcos Breda.
In Portuguese, no subtitles.

 

História do Blues
Blues History
The Messiah Will Come Again
Roy Buchanan




To a recently acquired friend, a Roy B. as well.

 

Poemas 224
Poems 224


Morning Song
Sylvia Plath

Love set you going like a fat gold watch.
The midwife slapped your footsoles, and your bald cry
Took its place among the elements.

Our voices echo, magnifying your arrival. New statue.
In a drafty museum, your nakedness
Shadows our safety. We stand round blankly as walls.

I'm no more your mother
Than the cloud that distills a mirror to reflect its own slow
Effacement at the wind's hand.

All night your moth-breath
Flickers among the flat pink roses. I wake to listen:
A far sea moves in my ear.

One cry, and I stumble from bed, cow-heavy and floral
In my Victorian nightgown.
Your mouth opens clean as a cat's. The window square

Whitens and swallows its dull stars. And now you try
Your handful of notes;
The clear vowels rise like balloons.

24.1.08

 

Trilha do Dia
Soundtrack of the Day
Allegro
J. S. Bach



 

Dia dos Aliados, Maio de 1917
Allies Day, May 1917
Childe Hassam1917



 

O Retrato
The Portrait
Jonatas Coringa




Curta brasileiro com legendas em inglês.
***
Brazilian short with English subtitles.

 

There's a Gold Mine in the Sky
Pat Boone & Roy Rogers



 

O Peixe Morre Pela Boca
Luis Catenacci




Curta brasileiro.
***
Brazilian short.

 

História do Blues
Blues History
Cherry Red Wine
Luther Allison



 

Poemas 223
Poems 223


Introspecção

Vinícius de Moraes

Nuvens lentas passavam

Quando eu olhei o céu.
Eu senti na minha alma a dor do céu
Que nunca poderá ser sempre calmo.

Quando eu olhei a árvore perdida
Não vi ninhos nem pássaros.
Eu senti na minha alma a dor da árvore
Esgalhada e sozinha
Sem pássaros cantando nos seus ninhos.

Quando eu olhei minha alma
Vi a treva.
Eu senti no céu e na árvore perdida
A dor da treva que vive na minha alma.


23.1.08

 

Poema extra

Infância
Paulo Mendes campos

Há muito, arquiteturas corrompidas,
Frustrados amarelos e o carmim
De altas flores à noite se inclinaram
Sobre o peixe cego de um jardim.
Velavam o luar da madrugada
Os panos do varal dependurados;
Usávamos mordaças de metal
Mas os lábios se abriam se beijados.
Coados em noturna claridade,
Na copa, os utensílios da cozinha
Falavam duas vidas diferentes,
Separando da vossa a vida minha.
Meu pai tinha um cavalo e um chicote;
No quintal dava pedra e tangerina;
A noite devolvia o caçador
Com a perna de pau, a carabina.
Doou-me a pedra um dia o seu suplício.
carapaça dos besouros era dura
Como a vida — contradição poética —
Quando os assassinava por ternura.
Um homem é, primeiro, o pranto, o sal,
O mal, o fel, o sol, o mar — o homem.
Só depois surge a sua infância-texto,
Explicação das aves que o comem.
Só depois antes aparece ao homem.
A morte é antes, feroz lembrança
Do que aconteceu, e nada mais
Aconteceu; o resto é esperança.
O que comigo se passou e passa
É pena que ninguém nunca o explique:
Caminhos de mim para mim, silvados,
Sarçais em que se perde o verde Henrique.
Há comigo, sem dúvida, a aurora,
Alba sangüínea, menstruada aurora,
Marchetada de musgo umedecido,
Fauna e flora, flor e hora, passiflora,

Espaço afeito a meu cansaço, fonte,
Fonte, consoladora dos aflitos,
Rainha do céu, torre de marfim,
Vinho dos bêbados, altar do mito.
Certeza nenhuma tive muitos anos,
Nem mesmo a de ser sonho de uma cova,
Senão de que das trevas correria
O sangue fresco de uma aurora nova.
Reparte-nos o sol em fantasias
Mas à noite é a alma arrebatada.
A madrugada une corpo e alma
Como o amante unido à sua amada.

O melhor texto li naquele tempo,
Nas paredes, nas pedras, nas pastagens,
No azul do azul lavado pela chuva,
No grito das grutas, na luz do aquário,
No claro-azul desenho das ramagens,
Nas hortaliças do quintal molhado
(Onde também floria a rosa brava)
No topázio do gato, no be-bop
Do pato, na romã banal, na trava
Do caju, no batuque do gambá,
No sol-com-chuva, já quando a manhã
Ia lavar a boca no riacho.
Tudo é ritmo na infância, tudo é riso,
Quando pode ser onde, onde é quando.

A besta era serena e atendia
Pelo suave nome de Suzana.
Em nossa mão à tarde ela comia
O sal e a palha da ternura humana.
O cavalo Joaquim era vermelho
Com duas rosas brancas no abdômen;
À noite o vi comer um girassol;
Era um cavalo estranho feito um homem.
Tínhamos pombas que traziam tardes
Meigas quando voltavam aos pombais;
Voaram para a morte as pombas frágeis
E as tardes não voltaram nunca mais.
Sorria à toa quando o horizonte
Estrangulava o grito do socó
Que procurava a fêmea na campina.
Que vida a minha vida! E ria só.

Que âncora poderosa carregamos
Em nossa noite cega atribulada!
Que força do destino tem a carne
Feita de estrelas turvas e de nada!
Sou restos de um menino que passou.
Sou rastos erradios num caminho
Que não segue, nem volta, que circunda
A escuridão como os braços de um moinho.

(Sugerido pela coluna "Meu nome é ninguém" de Ivan Lessa na BBCBrasil.com de hoje)

 

Trilha do Dia
Soundtrack of the Day
Tonight Tonight
Rachel Z



 

Sem Título
Untitled
E. J. Bellocq
c. 1912



 

Vincent
Chet Atkins



 

Meninos Soldados
Boy Soldiers
Julian Higgins




Curta americano em inglês, sem legendas.
***
American short in English, no subtitles.

 

Os 400 Golpes
Rubens Crispim Jr




Curta brasileiro.
Em português, sem legendas.
***
Brazilian short.
In Portuguese, no subtitles.



 

História do Blues
Blues History
Take It To The Limit
Etta James




Ao vivo, c. 1980
***
Live, c. 1980

 

Poemas 222
Poems 222


Utopía

Mario Benedetti

Sin querer me metí en una utopía
y no pude salir
íbamos hacia el cielo el mar el monte
y no pude salir
creábamos futuro a ras del alma
y no pude salir

la utopía volaba y nadaba y corría
era ella por sí misma un universo
y no pude salir

en medio de la noche la utopía
se alteró / se hizo suerte
convirtió a la memoria
en un pobre arrabal
y no pude salir

cuando al fin / no sé cómo
salí de aquel ensueño
la utopía hechicera ya no estaba
y el mundo me ofrecía
mal humor y abandono

22.1.08

 

Trilha do Dia
Soundtrack of the Day
Concerto for Violin and Orchestra, Langsam
Isaac Stern



 

La Toilette
A Toalete
Frederic Bazille
1870



 

Flashes Cotidianos
Sergio Pinheiro Lopes


O Patriarca da Praça

Conheço a Praça do Patriarca desde menino.
Meu pai, durante uma época, teve escritório em um edifício imponente defronte a ela e não era incomum ir visitá-lo quando ia para a “cidade”, como se dizia então.
A praça ficou na minha memória por dois motivos bem diferentes:
Um é que o pai de um amigo de escola, o Peter Tuch, tinha uma loja tradicional ali: a Casa Cisne.
O outro porque houve um grande assalto a um banco lá localizado. A primeira vez que li um jornal de fio a pavio foi a edição com a história do assalto ao Banco Moreira Sales. Acompanhei fascinado o desenrolar das investigações nos dias seguintes. Eu, naturalmente, levava umas boas duas horas para ler o jornal, isso sendo que provavelmente pulava seções que nada me diziam. Mas foi desta ocasião em diante que adquiri o hábito de ler jornal.
No fim, haviam sido uns gregos, se não me falha a memória, que tinham cometido o assalto e escondido o produto em tonéis.
Enfim, esta convivência com a praça me deu vontade de saber melhor quem era o tal do Patriarca que a nomeava com direito a estátua e tudo.
O chamado “Patriarca da Independência” José Bonifácio de Andrada e Silva nasceu em Santos e morreu em Niterói.
Foi figura central da Independência do Brasil. Graduado pela Universidade de Coimbra em 1787, assistiu a Revolução Francesa em primeira mão, pois estava na França em 1790, no seu princípio. Era um naturalista, poeta e maçom. Interessava-se por assuntos que tivessem alguma utilidade. Passou 40 dos seus 75 anos fora do Brasil. Foi banido e exilado. Foi o primeiro brasileiro a ser Ministro do Reino. Organizou a ação militar contra a resistência a separação de Portugal. Foi tutor de D. Pedro II. Foi defensor dos índios e abolicionista. Era um admirador de Rousseau. Das três cartas que D. Pedro recebeu às margens do Ipiranga, Uma, das Cortes, diminuía seus poderes. As duas outras, de José Bonifácio e da Princesa Leopoldina, o instavam a desobedecer as Cortes de Portugal. Foi autor de inúmeros livros e era muito habilidoso com as palavras. Abaixo exemplos das suas famosas “Bonifrases”, como ficaram conhecidas algumas de suas opiniões:

- “Nas antigas monarquias absolutas da Europa há os contrapesos da força da civilização e da força dos costumes e da moral pública – mas que há no Brasil? Nada disto”.

- “De quem não sabe amar ou aborrecer, ninguém tem que esperar ou temer”.

- “A razão porque nunca farei fortuna em Portugal é porque não sei digerir afrontas, e sofrer revezes injustos a sangue-frio”.

- “Os políticos da moda querem que o Brasil se torne Inglaterra ou França; eu quisera que ele não perdesse nunca seus usos e costumes simples e naturais e antes retrogradasse que se corrompesse”.

- “Se não me foi possível dar a última mão de estuque ao magnífico salão nacional, ao menos embocei a parede”.

- “No Brasil a virtude, quando existe, é heróica, porque tem que lutar com a opinião e o governo”.

A Praça mudou muito desde a minha meninice, não mais existe ali a Casa Cisne e nem o Banco Moreira Salles existe mais com esse nome.
A estátua, nem sei mais se ainda está por lá.
Já o Patriarca, como se vê pelas suas frases, continua bem atual.

 

Dicas de Sobrevivência para TPM
PMS Survival Tips




Paródia de filmes de propaganda educacional do governo americano na década de 50.
***
A parody of 1950 educational and government propaganda videos.

 

The Hire – Star
Guy Ritchie




Com Clive Owen.
Em inglês, sem legendas.

***
With Clive Owen.
In English, no subtitles.

 

História do Blues
Blues History
The Blues is Alright
Magic Slim &
Argentina Blues Special



 

Poemas 221
Poems 221


The Snow Man
Wallace Stevens

One must have a mind of winter
To regard the frost and the boughs
Of the pine-trees crusted with snow;
And have been cold a long time
To behold the junipers shagged with ice,
The spruces rough in the distant glitter
Of the January sun; and not to think
Of any misery in the sound of the wind,
In the sound of a few leaves,
Which is the sound of the land
Full of the same wind
That is blowing in the same bare place
For the listener, who listens in the snow,
And, nothing himself, beholds
Nothing that is not there and the nothing that is.

21.1.08

 

Trilha do Dia
Soundtrack of the Day
Summertime
Vanessa-Mae



 

Cascata Anatômica
Anatomical Cascade
Clarence John Laughlin
1940



 

Flashes Cotidianos
Sergio Pinheiro Lopes


Cruzamento


Eu e as esquinas.
Estava passando por uma aqui no meu bairro, quando me dei conta da cena:
Uma senhora, já de certa idade, meio gorda, subia a rua em direção à faixa de pedestres no cruzamento. Parei para assistir o desenrolar da história.
Esse cruzamento em especial está naquela fase pré-semáforo. Explico. Já tem faixas de pedestres nas quatro travessias possíveis e já é difícil de distinguir qual das duas ruas, ambas de mão única, é a preferencial. Sendo assim, a maioria dos carros diminui a velocidade antes de passar por ele, embora o trânsito seja intenso.
Mas voltemos à senhora.
Ela chegou à faixa e principiou a atravessá-la com imensa dificuldade de locomoção. Usava uma bengala e movia-se bem devagar.
Nisto, dois alegres cachorros, ambos jovens, com coleira e bem tratados, começaram a atravessar a rua na direção inversa a da senhora e, claro, sem respeitar completamente a faixa. Atravessaram na diagonal.
Pois bem.
A senhora parou de repente e ficou nitidamente preocupada que algo pudesse acontecer aos cães. Parou e os observou atravessar até que estivessem seguros do outro lado. O mais surpreendente para mim foi que ela evidentemente não se preocupou consigo. Apenas parou e observou. Não olhou para ver se vinha carro rua abaixo em sua direção ou se alguém iria virar a esquina de repente.
Depois continuou, laboriosamente, sua caminhada. Eventualmente chegou a um carro e, vagarosamente, nele entrou. Primeiro colocou a bengala no banco detrás, apoiou-se na porta e no banco para conseguir sentar-se e, finalmente, botou as pernas para dentro. Minutos inteiros se passaram até que ligasse o carro e começasse a manobrar para sair da vaga.
Ela manobrava o carro como se nunca a houvessem ensinado a sair de uma vaga entre dois veículos antes. Isto é, virava as rodas em direção à rua, avançava até praticamente tocar no carro da frente, virava a direção completamente para o outro lado e aí, ao invés de dar ré, como seria lógico, não fazia nada. Esperava um pouquinho, virava a direção completamente de novo e só então dava ré.
Olhei a manobra com curiosidade, pois imaginei que daquele jeito não sairia nunca da vaga, pois só ia para frente e para trás sem mudar a posição inicial do carro.
Engano meu.
Depois de incontáveis manobras destas, finalmente, acredite, o carro saiu da vaga. E assim que saiu foi-se embora lampeira, com uma destreza na direção completamente oposta a sua dificuldade em andar.
O cuidado com a segurança dos cachorros versus o descuido consigo mesma. A extrema dificuldade de locomoção pedestre e a baliza ilógica versus a habilidade e o desembaraço na direção.
Para mim o ser humano é sempre uma surpresa. É só uma questão de prestar atenção.

 

Uma Suposta Comedia
Edgar Sousa




Curta português, sem legendas.
***
Portuguese short, no subtitles.

 

Suzanne Pleshette
1937-2008




Com Bob Newhart em uma paródia da famosa cena do sonho.
Em inglês, sem legendas.
***
With Bob Newhart in a parody of the famous dream scene.
In English, no subtitles.

 

História do Blues
Blues History
All your Love & Magic Sam's Boogie
Magic Sam




Com uma entrevista e legendas em alemão.
***
With an interview and German subtitles.

 

Poemas 220
Poems 220


Yo

Jorge Luis Borges

La calavera, el corazón secreto,
Los caminos de sangre que no veo,
Los túneles del sueño, ese Proteo,
Las vísceras, la nuca, el esqueleto.
Soy esas cosas. Increíblemente
Soy también la memoria de una espada
Y la de un solitario sol poniente
Que se dispersa en oro, en sombra, en nada.
Soy el que ve las proas desde el puerto;
Soy los contados libros, los contados
Grabados por el tiempo fatigados;
Soy el que envidia a los que ya se han muerto.
Más raro es ser el hombre que entrelaza
Palabras en un quarto de una casa.

20.1.08

 

Flashes Cotidianos
Sergio Pinheiro Lopes


Blogosfeira

Tenho ido, quase todas as manhãs, a blogosfeira.
Assim que recém-chegada a manhã, parto em busca do que está dando sopa, em termos de cultura e entretenimento, na produção humana, em blogs, sítios genéricos, sítios de vídeo e de poesia, de literatura e pintura e nem sei mais o que. Do bem-feito ao bem-sacado, na minha modesta opinião, é claro, nas mil performances artísticas possíveis de serem acessadas e curtidas no vasto mundo da informação disponível hoje em dia.
Vivemos em um mundo ‘Koyaanisqatsi’, se é que me entendem, tudo em velocidade alucinante, novas tecnologias pipocando aqui e ali, quase que diariamente.
Além disto, de uns tempos para cá, a mídia, mais uma vez, se tocou que podia cevar no medo e pânico ancestral que temos do fim do mundo. Agora é o aquecimento global, a ameaça atômica dos anos 00. Para não falar neste 00 aí que, para alguns, já é apavorante em si mesmo. Há um receio de extinção no ar.
Isto está em toda parte, muito embora o mundo já tenha acabado diversas vezes ao longo da história, como bem retrata Otto Friedrich em seu “Fim do Mundo”, publicado no Brasil pela Record - 2001, 476 páginas. Do saque de Roma a Auschwitz, da Santa Inquisição ao terremoto de Lisboa.
Quando é chegada a hora e a vez de enfrentar a própria loucura, sempre parece ser a última.
Percebe-se – talvez até incentivada pelo estresse vigente – uma ansiedade, uma inquietação nos olhares, nos gestos nervosos e nos inconscientes das pessoas.
No entanto, é a primeira vez na história que está disponível, ao alcance das mãos, literalmente, tal quantidade de informação.
Cinqüenta séculos de cultura na ponta dos seus dedos.
Mas, de volta à prosaica blogosfeira. A dificuldade é encontrar a informação, saber quais perguntas fazer, ou como na piada:
‘Se o amor é a resposta, qual diabos é a pergunta?’
É preciso equipar-se com uma espécie de ‘detector de bobagens’, mas este é um equipamento que se obtém a custa de muita leitura, de muita passagem por material ruim, principalmente. Mas, arrogante que sou, me aventuro à caça de tesouros no que chamo de blogosfeira. E, como em toda feira, nem tudo são achados, há muita xepa. Mas quando os encontro, quando considero que é do interesse dos que acessam meu blog, embora não saiba exatamente quem são essas pessoas, os posto.
Assim vou construindo, também, uma história pessoal, um registro dos muitos belos e dos muitos veros que encontro pelo caminho.

 

Trilha do Dia
Soundtrack of the Day
Scottish Folk Tune
Beethoven



 

O Cemitério Judeu
The Jewish Cemitery
Jacob Ruisdael
1657



 

Take a Look Around
The Willowz
Paul Gondry




Clipe de animação.
***
Animation clip.

 

Maria
Los Hermanos Castro



 

Curta Exite
Cesar Neto




Curta brasileiro.
Em português, sem legedas.
***
Brazilian short.
In Portuguese, no subtitles.

 

História do Blues
Blues History
Johnny Copeland



 

Poemas 219
Poems 219


O Poema e a Água

João Cabral de Melo Neto

As vozes líquidas do poema
convidam ao crime
ao revólver.

Falam para mim de ilhas
que mesmo os sonhos
não alcançam.

O livro aberto nos joelhos
o vento nos cabelos
olho o mar.

Os acontecimentos de água
põem-se a repetir
na memória.

19.1.08

 

Trilha do Dia
Soundtrack of the Day
Summer
Vivaldi



 

Sem Título
Untitled
Ralph Eugene Meatyard
c. 1958-60



 

Laerte



 

Johnny Cash & David Letterman



 

Vermelho Humano
Human Red
Gary Michael Schultz




Curta americano.
Em inglês, sem legendas.
***
American short.
In English, no subtitles.

 

História do Blues
Blues History
I Can't Quit You Baby
Otis Rush




 

Poemas 218
Poems 218


Still I Rise
Maya Angelou


You may write me down in history
With your bitter, twisted lies,
You may trod me in the very dirt
But still, like dust, I'll rise.
Does my sassiness upset you?
Why are you beset with gloom?
'Cause I walk like I've got oil wells
Pumping in my living room.
Just like moons and like suns,
With the certainty of tides,
Just like hopes springing high,
Still I'll rise.
Did you want to see me broken?
Bowed head and lowered eyes?
Shoulders falling down like teardrops,
Weakened by my soulful cries?
Does my haughtiness offend you?
Don't you take it awful hard
'Cause I laugh like I've got gold mines
Diggin' in my own backyard.
You may shoot me with your words,
You may cut me with your eyes,
You may kill me with your hatefulness,
But still, like air, I'll rise.
Does my sexiness upset you?
Does it come as a surprise
That I dance like I've got diamonds
At the meeting of my thighs?
Out of the huts of history's shame
I rise
Up from a past that's rooted in pain
I rise
I'm a black ocean, leaping and wide,
Welling and swelling I bear in the tide.
Leaving behind nights of terror and fear
I rise
Into a daybreak that's wondrously clear
I rise
Bringing the gifts that my ancestors gave,
I am the dream and the hope of the slave.
I rise
I rise
I rise.

18.1.08

 

Trilha do Dia
Soundtrack of the Day
Piano Sonata # 20
Franz Schubert



 

A Cidade
The City
Fernand Leger
1919



 

Chet Atkins




Medley com "Country Gentleman", "Mr. Sandman", "Wildwood Flower" and "Freight Train".
Abril, 1970.
***
Medley with "Country Gentleman", "Mr. Sandman", "Wildwood Flower" and "Freight Train".
April, 1970.

 

Intervalo Comercial
Commercial Break




Propaganda australiana.
Em inglês, sem legendas.
***
Aussie ad.
In English, no subtitles.

 

O Trote
The Prank
Carlos Eduardo Cirne




Curta brasileiro.
Em português, sem legendas.
***
Brazilian short.
In Portuguese, no subtitles.

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