28.2.10

 

The Heart You Break May Be Your Own
Tiny Colbert & Bob Geesling
Patsy Cline




You think you're smart
You broke my heart
Left me to cry alone
But you'll return
One day you'll learn
The heart you break may be your own

You promised me
Your love would be
A kind I'd never known
Tho' you weren't fair
You're unaware
The heart you break may be your own

CHORUS:
You used my heart for a plaything
You'll be sorry, just wait and see
One day you'll find you are lonely
And the first one you'll think of is me

You'll look around
And when you've found
That you are all alone
Then you'll get wise
And realize
The heart you break may be your own

REPEAT CHORUS

REPEAT LAST VERSE

 

Vento Ruim
Sergio Pinheiro Lopes


Em algum momento da vida,

Chega um vento ruim.

Não vem de parte alguma,


Não é previsível ou


Esperado.


Mas transforma a vida.


De repente.


Mas ventos passam


E vão embora.


Até mesmo os ruins.

25.2.10

 

O Muro Oeste
The West Wall
Sergio Pinheiro Lopes


Pacientemente,

Sozinho, em seus domínios,

Reconstruindo

Dia por dia, pouco a pouco,

O muro Oeste de sua modesta

Catedral.

Arte-Fatos

Pessoais, Mentais.

oooOOOooo

Patiently,

Alone, in his domains,

Rebuilding

Day by day, little by little,

The West wall of his modest

Cathedral.

Mental, Personal

Art-Facts.


24.2.10

 

The City
Constantin Cavafy
Lawrence Durrell


You tell yourself: I'll be gone
To some other land, some other sea,
To a city lovelier far than this
Could ever have been or hoped to be -
Where every step now tightens the noose:
A heart in a body buried and out of use:
How long, how long must I be here
Confined among these dreary purlieus
Of the common mind? Wherever now I look
Black ruins of my life rise into view.
So many years have I been here
Spending and squandering, and nothing gained.
There's no new land, my friend, no
New sea; for the city will follow you,
In the same streets you'll wander endlessly,
The same mental suburbs slip from youth to age,
In the same house go white at last -
The city is a cage.
No other places, always this
Your earthly landfall, and no ship exists
To take you from yourself. Ah! don't you see
Just as you've ruined your life in this
One plot of ground you've ruined its worth
Everywhere now - over the whole earth?

12.2.10

 

Catando Lata
Sergio Pinheiro Lopes


Não sei bem quem me disse, mas sei que me pareceu verdadeiro assim que ouvi: as grandes cozinhas são filhas da escassez.

A criatividade aparece quando se precisa inventar a partir de escassos elementos. A feijoada é um belo exemplo disso, feita dos restos da mesa dos senhores, hoje representa o país à mesa.

Muitas pessoas em São Paulo colocam os sacos de lixo para fora no dia anterior à coleta. Imagino que acham que o caminhão passa cedo. Por isso, pelo menos na minha rua, bem de manhãzinha, aparecem os catadores de lata. O primeiro a aparecer tem um método que lhe parece eficiente, quero acreditar. Usa um cabo de vassoura com um prego na ponta com o qual cutuca os sacos de lixo para verificar se há latas e, se confirmado, dá-se ao trabalho de abrir o saco preto à busca de seus tesouros. Não deve ser cem por cento eficiente, pois depois dele, passam outros, mais meticulosos, verificando saco por saco rua abaixo. Como são vários e se sucedem, imagino que todos auferem resultados. Temos a sorte, nós, os habitantes desse quarteirão, de sermos todos freqüentados por catadores ordeiros: abrem, verificam, fecham e deixam os sacos como os encontraram.
Soube que muitos pastores evangélicos também pedem a seus fiéis que tragam latas usadas para a igreja. Com tudo isso, o Brasil já é, parece, campeão mundial de reciclagem de latas.

Outro dia vi uma velhinha baixinha que desenvolveu outra tecnologia. Na primeira vez estava parada, perto de mim, enquanto eu estava sentado à mesa de uma padaria. Achei que ela esperava por alguém. De fato, esperava por mim. Aguardou que me servisse do restante de meu refrigerante para depois, delicadamente, me perguntar se podia ficar com a lata. Disse que sim, é claro.
Descobri que ela anda por bares e padarias do bairro e, de mesa em mesa, faz a mesma pergunta gentilmente. Depois da permissão concedida, a recolhe e guarda em uma sacola. Se não, agradece e segue seu caminho.
Inteligente a velhinha. Intercepta a lata muito antes que vá para o lixo aguardar a sua vez de ser colocada para fora na manhã seguinte. Além disso, poupa-se de abaixar e de abrir e fechar sacos de lixo a procura das tais latinhas. Isso sem contar que não precisa acordar cedo.

Já observei também que a cidade conta com um serviço de coleta de lixo informal. São caminhões que recolhem os sacos de lixo e levam-nos embora muito antes do recolhimento regular. Esses aproveitam não só as latinhas, mas jornais, revistas, caixas de papelão e um sem número de outros materiais recicláveis.

Quando eu era menino, “chutar lata” era sinônimo de não fazer nada, de estar à toa na vida. Hoje ninguém mais as chuta. Catá-las, por outro lado, é meio de vida para muitos. Uma verdadeira indústria.
A imagem da velhinha não me sai da cabeça. Vejo-a quase sempre, descendo a avenida principal com sua sacola de latinhas. Catando lata. Um belo exemplo da cozinha de escassez.


11.2.10

 

Felis Catus
Sergio Pinheiro Lopes


Eram duas gatinhas gêmeas e
Ela me pareceu a mais
Meiga. Escolhi-a e
Não me enganei.
Tem para mais de cinqüenta
Miados, dos conhecidos até agora.
O de chegada, dos livres passeios pelos
Telhados, que esta é dona do seu
Ir e vir;
O do querer comer;
O do pedir colo; o do
Volto já e o do olha eu
Aqui, entre

Muitos outros.
Conversamos muito
Eu e ela,
Nas manhãs e nos
Entardeceres.
Com conversas miadas e faladas que só a
Nós pertencem.
Tolo isso, de fazer um poema para uma
Gata, bem sei.
Chama-se Mel,
Que foi seu primeiro miado.
Como minha avó materna,
Escolheu o próprio nome.
Privilégio de poucos.


9.2.10

 

Calma Ebulição
Sergio Pinheiro Lopes


Meus ancestrais não tinham tostão.
Elite quando a elite era de inteligência e espírito e
Não de dobrões ou escudos nesse rincão.
Cresci filho da cizânia entre os papas e Lutero, comendo

Em uma mesa na qual não havia assunto que não fosse assunto.
Escola de livre pensar.
Agora, eis me aqui,
Velho como quando achava velhos meus pais:
Cinquenta e tantos.
Como a Terêncio,
Tudo que é humano me concerne.
É minha legítima herança e maldição.
Disso teço minhas teias, meus poemas e meus pensares.
Malgré alguns dias por baixo do carpete, no geral,
Adoro estar vivo e cada casquinha da vida
Atrai o meu olhar,
Fascina minha atenção,
Apaixona minha alma.
Gosto - e sou parcial com gente inteligente.
Lavar burros, como diz meu irmão,
É desperdício de água e sabão.
Mas, mesmo assim, ando mais gentil, mais paciente, mais

Disposto ao banquete que me apresenta o dia.
Com os burros todos, os toscos, os pobres de espírito,
Os ignorantes e outros tantos.

Atualmente aprendo com tudo e todos,
Deve ser a tal da sabedoria que vem com o tempo.
Calma ebulição.



6.2.10

 

O Sapateiro
Sergio Pinheiro Lopes


Andei enfrentando alguns obstáculos na vida recentemente.

Durante essa mesma época, algumas tantas pessoas estiveram em minha casa.

Algumas eu conhecia, outras não.

Algumas foram mais assíduas, outras menos.

Em comum, com honrosas exceções, comportamentos indo da má educação ao franco desrespeito.

Chamaram-me de opinativo. E sou.

Chamaram-me de caga-regras. E sou.

Mas vamos e venhamos, durante a vida li uns tantos livros em umas tantas línguas, sobre variados assuntos.

Aprendi uma coisa ou outra com eles, decerto.

Também trabalhei mais de quarenta anos em umas duas profissões que aprendi na marra, pois não tive educação formal, quem me indicasse e nem nelas treino prévio. Alguns anos foram muito duros, com jornadas longas, muitos sapos engolidos, com o aprender a gostar daquilo que, fosse me dada a escolha, não gostaria.

Faz-se o que se tem de fazer, e acabou-se. Achava e acho.

Com elas paguei minhas contas e, junto com minha mulher, criei família.

Outras tantas experiências foram acumuladas nestas lides.

Já tive sucesso e já fracassei.

Já tive bons amigos e sortes na vida, mas também já fui roubado, enganado e traído por pessoas em quem confiava.

Enterrei meu primeiro filho, enterrei meu pai, enterrei uns tantos amigos também.

Tive câncer na adolescência inteira e superei.

Desenvolvi diabetes aos quarenta e tantos e enfrento suas limitações todos os dias.

Tenho uma das vistas quase nula. Escuto mal de um ouvido.

Senti como se nada disso contasse por ter me ensinado algo.

Para esses poucos que me frequentaram, quase nunca tive razão, aliás, razão não tive jamais, às vezes, o que aconteceu, é que sabia uma coisa ou outra que eles não sabiam, aí ouviram.


Tenho uma vida razoavelmente organizada. Para mantê-la assim, tenho a casa também em boa ordem.

Pois bem. Essas pessoas a quem me refiro, tiraram as coisas do lugar e não as colocaram de volta. Louça suja ficou por toda parte, livros não voltaram para a estante, e as cadeiras e objetos se espalharam.

Minhas coisas pessoais, que moram onde moram por uma razão, por obviamente me serem convenientes assim dispostas, foram criticadas em forma de mudança liminar para outros arranjos, que pareceram melhores a esses eventuais visitantes. Não me refiro às coisas tangíveis apenas, isso incluiu também meu universo virtual, os computadores, por exemplo, que por um bom motivo chamam-se pessoais.

Isso é simplesmente má educação. Pouco há que se fazer a respeito, exceto, é claro, não mais recebê-las, que é a minha escolha.

Com a inevitável solidão decorrente.

Meu pai foi perdendo os amigos durante a vida até ficar sem nenhum.

Talvez seja assim com todos nós.

Como disse, andei enfrentando alguns obstáculos na vida recentemente.

Notei ainda uma grande falta de respeito.

Neste novo mundo que estranho e que me estranha, não houve solidariedade. Houve opiniões.

Não tive direito a dor, ao sentimento de abandono, a solidão ou a tristeza.

Foi tudo considerado depressão, autocomiseração, baixa auto-estima e sei lá mais o que. Você deveria ter feito isso ou aquilo. Ou por outra, se não tivesse feito isso ou aquilo outro...

Pô, mas você também...!

Acabaram com o samba e aboliram o lamento, a dor de cotovelo e as perdas foram postas fora-da-lei, o coração partido ou a sensação de abandono já não mais dão canção ou poesia.

Não existem mais as dores humanas. Restaram somente as patologias e os diagnósticos da moda.

Lexotaram os sentimentos.


Mas exagero talvez, ou assim espero.

Um sapateiro de quem sou cliente às vezes, em um encontro casual, teve o bom gosto de me ouvir sem interromper e dizer apenas: sei como é, Serjão. É duro mesmo. Já sofri assim. Mas a gente sai dessa. Existe o dia de amanhã. Mas você vai ter que enfrentar essa sozinho, meu velho. Força aí!

A simpatia e a solidariedade que eu queria e precisava.

Sou do tempo em que amigos fechavam uns com os outros.

Tendo ou não razão.

Por amizade e parceria, por respeito ao momento que se atravessava.

Para ajudar uns aos outros a passar por um mau bocado.


E ainda existiam bons modos.

Mas solidariedade e simpatia quem me deu foi o sapateiro.

Sou capaz de apostar que sabe se comportar em casa alheia.

E me fez um bem danado.

Prova rara de que ainda restou lugar para os sentimentos.

Que não morreu de vez a poesia e não foi expatriada a canção; e a tristeza produtiva, o companheirismo, a melancolia, a empatia, a solidão e os outros humanos sentires ainda podem se manifestar.

É... andei enfrentando alguns obstáculos na vida recentemente e essas circunstâncias aí em cima, pra o mal e para o bem, deram uma parte do tom.

Mas que reclamão, dirão por certo no entanto, mas que texto mais autocomiserativo!

Taca Diazepan no bicho!

Pois é...


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