24.7.09

 

Amor
Paulo Leminsky


Amor, então, também, acaba?

Não, que eu saiba.
O que eu sei é que se transforma numa matéria-prima
que a vida se encarrega de transformar em raiva.
Ou em rima.

 

Reflexões Grisalhas
Sergio Pinheiro Lopes


Tudo é passageiro, menos o cobrador e o motorneiro. Ditado do meu tempo de criança, quando ainda havia bondes em São Paulo.
Perde-se a juventude e o viço, perdem-se amigos, perde-se a saúde, perde-se dinheiro, perde-se tempo, perdem-se as memórias e alguns a própria memória de si e, ao fim de tantas e inumeráveis perdas, perde-se a própria vida.
Mas o assunto da vida são as perdas. Lidar com elas. Aceitá-las.
E a lembrança que eventualmente fica dura uma ou duas gerações e olhe lá. Pergunte a qualquer um se de seus oito bisavôs e bisavós sabe ao menos o primeiro nome. Poucos são os que lembram mais de dois ou três. Essa a nossa duração neste mundo e na memória da própria família, para não falar dos outros de fora do círculo das relações sanguíneas.
Tudo bem, a vida pertence aos vivos. Isso todos sabem.
Parece que ao longo da vida, quase sem perceber, vamos subindo uma colina e chegados ao topo, nos encontramos sozinhos, contemplando um passado feito de retalhos e pedaços de lembranças dispersas no tempo.
Guardiães de uma história que só a nós mesmos interessa. E ainda assim, não muito. Há um sentimento de distanciamento do que vivemos, fizemos e deixamos de fazer.
É importante, em não tendo sido supremos canalhas, é claro, ao menos não cultivar culpas. Além de inútil pode tornar mais sofrido o fim da jornada.
Quem me lê pode achar que estou velhinho e olhando para o passado. Longe disso. Não estou ainda no topo da colina. Apenas observo os que lá já estão e com quem convivo, e me preparo para quando chegar a minha vez.
Mas já é possível assistir ao processo das perdas. As inexoráveis e as que talvez fossem evitáveis. Não há como saber.
Desde o barbeiro que, inadvertidamente, mostra o corte e deixa-o vislumbrar a calva que avança no topo da cabeça, o famoso aeroporto de mosquito, os efeitos da gravidade, na bunda, que ficará como bochechas de camelo, no papo de peru, no nariz e nas orelhas que crescem com cada vez mais pelos; até as perdas mais doídas, daqueles a quem amamos.
Há também os tratamentos, como o ‘senhor’ e o inevitável ‘tio’ ou ‘tiozinho’, com que os jovens imortais nos brindam, como se sinal de respeito fossem.
Idade e experiência não contam em país de jovens. Que aqui não é o Japão ou a China. Estamos mais para os esquimós, que põem os velhos para fora do iglu, para que morram de frio e inanição. Depois de certa idade, não há emprego ou ocupação para os velhos, salvo trabalho voluntário ou jogar dominó na pracinha.
Faz pouco tempo conheci um senhor de oitenta anos, médico de profissão que ficou praticamente cego. Outro dia o vi na padaria, e fui sentar-me ao seu lado. Contou-me que pensava em se matar, que já tinha juntado os remédios próprios para uma morte sem sofrimento. Ponderei que o suicídio, embora esteja na reflexão de todos os seres humanos e possa ser um alívio, pode não sê-lo também, já que ninguém sabe o que nos aguarda do outro lado. Além disso, pune os que ficam deixando uma inevitável sensação de culpa nos que nos rodeiam. Ele virou o rosto para mim, não me vendo naturalmente, pôs a mão no bolso, tirou umas notas e pediu que dissesse a ele quais eram de que valor. Eu disse. Ele levantou-se, pagou e foi-se embora. Não o vi mais e estou preocupado com ele, embora não o conheça e não saiba onde mora. Ele que a tantos tratou e curou, não encontra propósito ou alívio para si mesmo.
Não estou velho ainda, propriamente, é verdade.
Mas minha alma já anda grisalha.

23.7.09

 

Dando um Toque
SP Lopes
Julho
2009


O assunto da vida é a perda.

***
Life is about loss.

 

Madagascar
Olodum



 

Taiko



 

Tom Chambers



 

Fred Astaire



 

A place for my stuff
George Carlin


Em inglês, sem legendas

***
In English, no subtitles.


 

Aterrisagens & Decolagens
Landings & Takeoffs



21.7.09

 

In Dreams
Roy Orbison





A candy-colored clown they call the sandman,
Tiptoes to my room every night
Just to sprinkle stardust and to whisper
Go to sleep, everything is all right.

I close my eyes, then I drift away
Into the magic night, I softly say
A silent prayer like dreamers do,
Then I fall asleep to dream my dreams of you.

In dreams I walk with you. In dreams I talk to you.
In dreams you're mine. All of the time we're together,
In dreams, in dreams.

But just before the dawn, I awake and find you're gone.
I can't help it, I can't help it, if I cry.
I remember that you said goodbye.

It's too bad that all these things, can only happen in my dreams
Only in dreams, in beautiful dreams.

20.7.09

 

Free Again
Barbra Streisand



18.7.09

 

Dad
Sergio Pinheiro Lopes


Era como se fosse o nome dele para mim. Provavelmente herança de meu irmão mais velho que aprendeu a falar nos Estados Unidos e já o chamava assim quando nasci. Esse seu nome. Dad. Digo-o em voz alta, como se estivesse entrando em casa. Nunca mais havia feito isso. Uma onda de emoção me obriga a levantar para enxugar os olhos e assoar o nariz com um pedaço de papel higiênico.
Dad: Barbeava-se colocando a língua entre os lábios no canto da boca. Parecia que estava fazendo uma coisa que exigia especial habilidade.
Lembro-me de vê-lo à distância, parado em frente a uma banca de livros usados na praça Dom José Gaspar. Sempre de terno e, em geral, cinza. A cabeça inclinada para frente, atenta ao livro. Vê-lo para mim trazia certeza, aconchego, segurança, firmeza, calor. Ele tornava o mundo razoável, um lugar que tinha esperança.
Parou de fumar e de beber álcool aos 55 anos. Depois disso nem bolo com passas ao rum. Até então tinha predileção por gim-tônica.
Ele brigando com a guilhotina de uma janela emperrada, muito engraçado, lembrança de criança.
Tenho uma foto dele de casaco de nylon e chapéu em Land’s End. No fim do mundo. Tenho outra dele lendo em sua biblioteca. Uma ilha de reflexão cercada de livros por todos os lados. Deu-me, entre muitos, El Libro Del Consuelo Divino, de Meister Eckehart. Escrevia suas iniciais no canto superior direito, traço diagonal embaixo e a data. No fim do livro a mesma coisa, com a data de término da leitura. MBL.
Veio de Minas para estudar e morar no Colégio São Bento aos treze anos. Não sei quem me disse que ficava no colégio enquanto todos os outros meninos iam para casa nas férias. Solidão. Forja.
Disse-me, nos meus dezessete, que todos os problemas da vida deveriam vir nesta idade, quando se sabe tudo. Falou a mesma coisa sobre os cinqüenta anos, em outra ocasião. Ensinou-me também que um dos piores fracassos é ter sucesso naquilo que não se quer.
Quando mencionei a ele que queria ser feliz, fez um muxoxo e decretou que era bobagem, que felicidade não existe. Quando perguntei o que era marxismo, fez apenas um “pfué” de desprezo e recomendou que me informasse sobre os liberais do século dezessete.
Ele de cuecas, passando uma calça na cozinha de minha casa em Cambridge, às gargalhadas, lembrando uma entrevista com o Peter Ustinov. Gostou da minha surpresa com essa habilidade inimaginada.
Não falava de si. Depois soube que ajudara muitas pessoas ao longo da vida. Dele, nenhuma palavra a respeito. Nunca.
Hoje diríamos que estressava. Na época o termo familiar era neurastênico. Ele era um pouco, às vezes. Tinha uma predileção por cadeiras quando estava muito nervoso. Levantava e depois batia com elas no chão. Deve ter quebrado umas tantas durante a vida.
Tinha um retrato do pai na parede atrás de si no escritório da cidade. Sentia dificuldade em falar dele sem embargar a voz. Referia-se a ele como “papai”.
Trancava a casa antes de dormir, todas as portas e janelas, e verificava se o gás estava desligado.
Não era de muitos abraços e beijos, ficava quadrado. As exceções eram os netos.
Adorava livros e, entre esses, os seus. Livros e discos de música clássica eram seus únicos objetos de desejo, seus solitários itens de consumo. Tinha a habilidade de re-arrumar os livros até sobrar uma prateleira para acomodar mais.
Lia o tempo todo, digo, todo o tempo livre, que não deve ter sido muito por grande parte da vida.
Um homem de inteligência brilhante e generosa, com poucos interlocutores à altura. Conversava com os livros. Pensava com rigor. Escrevia magnificamente. Claro, conciso, certeiro.
Não falava do que não entendia e media as palavras com o cuidado de um ourives. Não era de muitas palavras, mas elas podiam ser ferinas e machucar como uma chicotada quando ele queria.
Um mão-aberta, não ligava para dinheiro. Quando tinha, dava. Quando não tinha, dizia. Mas mesmo assim, por vezes dava um jeito. Depois de me negar um revolver de brinquedo, por caro, levou-me até a Casa Capricho pela manhã e deu-me o presente. Custou quatro cruzeiros e eu nunca esqueci.
Poucas vezes perdeu a paciência comigo de vez. Uma foi quando comparei a Santa Ceia a um ritual de canibalismo. Bateu com o guardanapo na mesa e subiu para o escritório indignado.
Foi deixando de ter amigos ao longo da vida, até ficar sem nenhum. Poucas pessoas o encantavam. Maria Júlia era uma. Os filhos e as noras, outros. Os netos então, nem se fala. Um homem de família.
O dever era para ele inquestionável. A gente faz o que tem de fazer, dizia, e acabou-se.
Dizia para mim que não temesse, pois era indestrutível. Acreditei e ele não me enganou. Hoje ele mora aqui, dentro de mim, indestrutível.
Um dos netos chamou-o uma vez de Lobo Mauro. Adorou. Contou-me que Lopes queria dizer filho de lobo. Havia uma fotografia de um cachorro chamado Lobo atrás da porta da casa de sua mãe. Durante um tempo, na infância, eu tinha medo de escuro e de lobo. Ele acendia a luz e me fazia companhia até que adormecesse.
Foi embora num domingo, depois da igreja. Depois de comungar. Em paz com Deus. Foi sem deixar ponta solta para trás. Deixou-me farto consolo: sua memória.
Havia falado com ele, por telefone, de Ubatuba, no dia anterior, para dizer que tinha chegado bem. Um acordo de vida inteira entre nós dois, não deixá-lo sem notícias de mim. Foi assim até o fim.
Tenho uma fita de secretária eletrônica com sua voz gravada. Ele mal fala. Mas está lá. Olho para ela de soslaio, sem coragem de ouvir.
Acordo de vez em quando, no meio da noite, e parece que ouço seu ressonar no quarto ao lado. Mais de uma vez achei tê-lo visto na rua de relance. Já o ouvi me chamar várias vezes. Primeiro o susto, depois o aperto no coração.
É difícil que passe um dia sem que eu me lembre dele.
São seis horas da manhã lá fora.
Faz dezesseis anos que é assim.

15.7.09

 

Origens do Moonwalking
Origins of the Moonwalking



 

Nervos de Aço
Lupicínio & Paulinho da Viola



 

Menino Cego e seu Cão
Blind Boy And his Dog
Francis Miller
1963
Life Magazine


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1979 Kentucky Derby



 

Pássaros e Falcão
Birds and Falcon



 

Buracos Negros, Estrêlas de Neutrons,
Anãs Brancas, Espaço e Tempo
Black Holes, Neutron Stars,
White Dwarfs, Space and Time



 

Preconceito
Nara Leão


Com legendas em português.

***
With Portuguese subtitles.


8.7.09

 

Dando um Toque
Sergio Pinheiro Lopes
Julho
2009


A internet é a fast food da informação.

***
The internet is the fast food of information.
(Guy Talese)

 

Angel of the Morning
Merrilee Rush & the Turnabouts
1968



 

Camisa Amarela
Nara Leão



 

Ciro Monteiro canta Chico Buarque
1972


Na mesa, Sérgio Cabral, Elke Maravilha, Carminha Mascarenhas, Lúcio Alves e outros.



 

Salvem o Planeta
Save the Planet
George Carlin


Em inglês, com legendas em português.

***
In English, with Portuguese subtitles.


 

Despertador
Alarm Clock


Em inglês, legendas desnecessárias.



 

Jezebel
Leny Eversong



1.7.09

 

Ciro Monteiro Doc



 

Le Sacre Du Printemps
Pina Bausch
1940-2009




 

A Arte de Criar Criaturas
The Art of Creating Creatures
Theo Jansen



 

Jindrich Streit



 

Aviões
George Carlin


Com legendas em português.

***
With Portuguese subtitles.


 

Manhã de Carnaval
Luis Bonfá
Nara Leão



 

Ciro Monteiro



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