8.10.11

 

Krishnamurti



Quando a gente aceita que é como é, o que é deixa de ser como é.

 

Viagem
Sergio Pinheiro Lopes



Hoje parto para terras estrangeiras. Sou um tipo dramático, bem sei, e sentimental.
Milhares o fazem todos os dias.
Mas para mim, esta viagem é prenhe de conteúdos e significados.
Vou diferente do que fui em outras vezes.
Parto com os olhos mais abertos e atentos, com o espírito mais calmo, e com a alma em paz.
Visitar e aprender lugares sobre os quais apenas li durante a vida.
Também vou ao encontro de meu filho, que foi antes de mim.
Levo meu coração comigo.
Por aqui deixo filhotes, amigos, companheiros e amores.
De alguma forma vão todos comigo.
Quem vai nunca é o mesmo que volta.
Assim é.
Conhecer um pouco deste mundo, antes de conhecer o próximo, como disse, ainda outro dia, o Cony.
Postarei na medida do possível.
Não sei exatamente para onde vou, não sei exatamente por onde vou.
Sei apenas que vou.
Inté.


 

Dune
Frank Herbert



And that day dawned when Arrakis lay at the hub of the universe with the wheel poised to spin.
- from 'Arrakis Awakening' by the Princess Irulan

7.10.11

 

The Windmills of Your Mind
Michel Legrand
Nana Mouskouri




6.10.11

 

Leonard Cohen



Poetry is just the evidence of life.
If your life is burning well,
poetry is just the ash.


5.10.11

 

Ceràmiques Guzmán
Manel




 

Ruas
Sergio Pinheiro Lopes



Dêem-me
Três visitas de
Duas horas cada
Em dias salteados
A quaisquer ruas.
Faço amigos e
Ouço histórias para
Contar.
Puxo prosa,
Teço teias.
Sorvo o caldo
Pelas beiradas
Das calçadas.
E sinto o aroma das
Primeiras cidades.

4.10.11

 

Captatio Benevolentiae
Manel




 

Dizem
Sergio Pinheiro Lopes



Talvez seja melhor ter filhos. O bom da vida é viajar. O segredo está na moderação.
Comer de tudo, mas não muito. Tomar sol, fazer ginástica e escovar os dentes depois das refeições.
Ser cordato, combinar as cores e nunca usar bege. Bege é só cor de parede.
Estudar inglês, acertar o relógio pelo funcionamento do intestino e, à noite, comer só coisas leves.
Amores da noite não florescem sob a luz do sol, amor de verão não sobe a serra e quem nunca chorou por amor não viveu.
Ler pelo menos um livro por mês, lavar os cabelos todos os dias, e não deixar passar muito tempo sem telefonar para os amigos.
Viajar em feriado prolongado é fria, o negócio é viver no contra-fluxo. Não se fala de dinheiro à mesa e é pecado mortal criticar o último namorado dela.
Fila dupla é falta de cidadania, não se buzina perto de hospital e o carro deve andar razoavelmente limpo.
Ver muita televisão faz mal, cigarro só depois do meio-dia, faltar à análise é auto-sabotagem. Ler horóscopo, tudo bem. Mesmo que não acredite. Melhor até se não acreditar.
Nunca ir ao supermercado com fome. Quanto mais colorido o prato, mais saudável. O Mercado Municipal é incrível. Principalmente os vitrais.
Sapatos e cinto devem combinar. Meia da mesma cor dos sapatos também é bom. Um acessório discreto dá personalidade. Deus está nos detalhes.
É mais gostoso sair durante a semana. Sábado à noite está tudo lotado. Fim-de-semana é para ficar em casa, visitar amigos ou então viajar por perto.
São Paulo tem lugares que ninguém conhece. Uma réplica do Templo Dourado de Kioto, por exemplo, com pequenos lagos artificiais habitados por carpas coloridas.
Ir comer pizza no Brás, segunda à noite, é um grande programa. Mas se for com alguém que você gosta ou que nunca fez isso, é claro.
Fazer um dia inteiro de jejum de vez em quando para limpar o organismo.
Feng-shui funciona e é agradável aos olhos.
A gente nunca sabe, mas é bom prestar atenção sempre.
É o que dizem.

3.10.11

 

Ela
Sergio Pinheiro Lopes



Ela vem vindo.
Sei disso pelos sinais.
Na primeira vez foi um relance. Estava distraído e depois fiquei me perguntando se não tinha sido imaginação. Uma figura morena, fugidia, passando numa fração de segundo pelo canto do olho.
Depois achei tê-la visto no supermercado. Daquelas coisas: entrava no estacionamento quando ela saia, de novo, muito pouco tempo para ter certeza. Estava loira, de branco e azul, rabo-de-cavalo e um ar de quem acabara de sair do banho. Parecia a primavera.
Na vez seguinte, senti apenas o perfume. Estávamos no mesmo escuro de cinema e não podíamos estar a muitas fileiras de distância. Procurei-a, nas cenas mais claras do filme, mas não houve jeito. Havia muita gente, acho.
Ou então ainda não era hora.
Outro dia vi-a pela primeira vez de frente. Tinha acabado de tomar um espresso e estava acendendo um cigarro quando a vi. Uma blusa simples, cabelos avermelhados, lisos, calça jeans. Estava quase entrando no lado do passageiro de um carro enquanto alguém – talvez sua mãe, talvez uma amiga mais velha – abria a porta do motorista. Parei logo adiante para vê-la de novo. Seu olhar cruzou com o meu por um instante quando o carro passou.
Foi ali que tive certeza absoluta. Estava claro. Sinais inconfundíveis: ela vinha vindo.
Às vezes, de manhã bem cedinho, quando o ar frio está mordendo e o dia parece novinho em folha, fico imaginando como ela será. Que estranhas manias terá, quais hábitos de menina, se aperta o tubo no fim ou no meio. Será que sai do banho com a cabeça enrolada na toalha, como num filme, ou será que tem cabelos curtos e sai pra rua com eles ainda molhados?
Estou ansioso para saber sua cor favorita, qual filme que mais a fez chorar e se alguém já lhe partiu o coração.
Quero saber se têm irmãos, como se dá com os pais, se já sabe o que quer da sua vida daqui pra frente.
Mas principalmente, gostaria de saber se já percebeu, se já viu os sinais também. Se me pressente.
Eu por mim já sei, não tenho mais dúvidas:
Ela vem vindo.


2.10.11

 

Retratos Escritos
Sergio Pinheiro Lopes



Tenho um colete de pescador que comprei em uma viagem a Portugal. Possui exatos vinte e sete bolsos, vários lugares para iscas, pendurar anzóis e coisas que nem imagino.
Comprei por vinte e cinco dólares porque me pareceu ideal para quem está viajando. Como se sabe, viajar é andar a pé. E muito. Esse colete pareceu-me uma solução bestial, como se diria lá na terrinha. Nos seus bolsos pude colocar o jornal do dia, carteira, passaporte, mapas, folhetos, livros, cigarro, isqueiro, máquina fotográfica, óculos de leitura e escuros e até mesmo uma malha levinha, caso esfriasse durante o dia.
Perfeito. Sem mangas, naturalmente, e furadinho atrás para ventilar, permitiu-me carregar todo o meu kit de viagem, com o peso distribuído pelo corpo uniformemente e, ao mesmo tempo, ficar com as mãos e os braços livres para passear, fuçar em livrarias, sentar em um café de beira de calçada e, com sorte, não me parecer em demasiado com um turista.
Tudo isso para dizer que, uma vez findo o passeio, o colete permaneceu como uma das minhas melhores aquisições de viagem.
Às vezes, quando o clima está ameno, nem frio e nem calor – o que é uma raridade em São Paulo – acho de usá-lo por aqui mesmo. É bom para aqueles sábados ou domingos em que se sai para garimpar livrarias e sebos, comer qualquer coisinha fora, xeretar em uma das feiras ao ar livre, que são, aliás, uma das graças de São Paulo atualmente, e eventualmente, até terminar com um cafezinho entre amigos em algum lugar no fim da tarde. Programa para o dia inteiro, portanto, em que o tal do colete pode vir bem a calhar.
Pois bem. Outro dia, estava eu todo pimpão com o referido, acho que em um café depois do comer qualquer coisinha fora, quando me perguntaram: “Você é fotógrafo?”
Respondi que não. Mas nunca tinha me ocorrido que ele é em tudo semelhante a colete de fotógrafo. Bateu-me l'esprit de l’escalier, e achei que deveria ter dito que sim, que era, mas um tipo diferente de fotógrafo, já que minhas fotos são feitas com palavras. Mas fotografo o que vejo. Pareceu-me justo descrever esses curtos textos que produzo como retratos em branco e preto, isto é, imagens reveladas pelo texto, mostradas não em cromo, mas em papel e tinta. Pinturas, dirão alguns. Fotografias, digo eu, pois as crônicas, como as fotos, comportam pontos de vista peculiares, ângulos incomuns e permitem que se enfatizem detalhes que talvez passem despercebidos por outras pessoas. Mas não são, como as pinturas, uma interpretação do autor. Não são ficção. Estão mais para micro-autobiografias do que para qualquer outra coisa. E mais: senti que tinha o direito usar a peça de vestuário como se fosse mesmo um fotógrafo, mas, diferentemente deste, não preciso de flash, filme ou câmera para tirar um instantâneo da realidade do bolso do colete.
Afinal, sou cronista e tiro retratos por escrito.

1.10.11

 

The God Abandons Antony
Cavafy
Lawrence Durrell



When suddenly at darkest midnight heard,
The invisible company passing, the clear voices,
Ravishing music of invisible choirs -
Your fortunes having failed you now,
Hopes gone aground, a lifetime of desires
Turned into smoke. Ah! do not agonize
At what is past deceiving
But like a man long since prepared
With courage say your last good-byes
To Alexandria as she is leaving.
Do not be tricked and never say
It was a dream or that your ears misled,
Leave cowards their entreaties and complaints,
Let all such useless hopes as these be shed,
And like a man long since prepared,
Deliberately, with pride, with resignation
Befitting you and worthy of such a city
Turn to the open window and look down
To drink past all deceiving
Your last dark rapture from the mystical throng
And say farewell, farewell to Alexandria leaving.

 

Manhã de Carnaval
Luiz Bonfá




 

Passarinho
Sergio Pinheiro Lopes



O de bom da vida
Consegue-se como se
Consegue a confiança de
Um passarinho.
Com paciência, com o
Coração puro, esquecido de
Si mesmo. E,
Com o saber que, às vezes,
Não se consegue.
E o sol, como que de acordo, nasce e
Põe-se todos os dias.



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