27.3.12

 

All of These People
Toda Essa Gente
Michael Longley
Marcelo Tápia



Who was it who suggested that the opposite of war
Is not so much peace as civilization? He knew
Our assassinated Catholic greengrocer who died
At Christmas in the arms of our Methodist minister,
And our ice-cream man whose continuing requiem
Is the twenty-one flavours children have by heart.
Our cobbler mends shoes for everybody; our butcher
Blends into his best sausage leeks, garlic, honey;
Our corner-shop sells everything from bread to kindling.
Who can bring peace to people who are not civilised?
All of these people, alive or dead, are civilised.

oooOOOooo

Quem disse que o contrário de guerra não é paz,
Mas civilização? Ele conhecia nosso
Verdureiro católico assassinado, que
Morreu no Natal, nos braços do nosso pastor
Metodista, e nosso sorveteiro, cujo réquiem
Eterno são os vinte e um sabores que as crianças
Sabem de cor. Nosso sapateiro faz consertos
Para todos; nosso açougueiro põe nas lingüiças
Alho, porro e mel; a loja da esquina tem tudo, de pão
A lenha. Quem trará paz aos não civilizados?
Toda essa gente, viva ou morta, é civilizada.

24.3.12

 

O Rabino



Um rabino muito piedoso, ao chegar ao céu depois de morrer, ganha um tour do lugar. Ao passar por um corredor ele vê, em uma sala, rabinos ao redor de uma mesa estudando a Torá. Surpreso, ele comenta com o anjo que o acompanhava: - É igualzinho ao que fazíamos em vida! Ao que o anjo lhe responde: - Se você acreditava que os justos estavam no céu, se enganou. É o céu que está nos justos.

22.3.12

 

Ela
Sergio Pinheiro Lopes



Ela vem vindo.
Sei disso pelos sinais.
Na primeira vez foi um relance. Estava distraído e depois fiquei me perguntando se não tinha sido imaginação. Uma figura morena, fugidia, passando numa fração de segundo pelo canto do olho.
Depois achei tê-la visto no supermercado. Daquelas coisas: entrava no estacionamento quando ela saia, de novo, muito pouco tempo para ter certeza. Estava loira, de branco e azul, rabo-de-cavalo e um ar de quem acabara de sair do banho. Parecia a primavera.
Na vez seguinte, senti apenas o perfume. Estávamos no mesmo escuro de cinema e não podíamos estar a muitas fileiras de distância. Procurei-a, nas cenas mais claras do filme, mas não houve jeito. Havia muita gente, acho.
Ou então ainda não era hora.
Outro dia vi-a pela primeira vez de frente. Tinha acabado de tomar um espresso e estava acendendo um cigarro quando a vi. Uma blusa simples, cabelos avermelhados, lisos, calça jeans. Estava quase entrando no lado do passageiro de um carro enquanto alguém – talvez sua mãe, talvez uma amiga mais velha – abria a porta do motorista. Parei logo adiante para vê-la de novo. Seu olhar cruzou com o meu por um instante quando o carro passou.
Foi ali que tive certeza absoluta. Estava claro. Sinais inconfundíveis: ela vinha vindo.
Às vezes, de manhã bem cedinho, quando o ar frio está mordendo e o dia parece novinho em folha, fico imaginando como ela será. Que estranhas manias terá, quais hábitos de menina, se aperta o tubo no fim ou no meio. Será que sai do banho com a cabeça enrolada na toalha, como num filme, ou será que tem cabelos curtos e sai pra rua com eles ainda molhados?
Estou ansioso para saber sua cor favorita, qual filme que mais a fez chorar e se alguém já lhe partiu o coração.
Quero saber se têm irmãos, como se dá com os pais, se já sabe o que vai ser de sua vida.
Mas principalmente, gostaria de saber se já percebeu, se já viu os sinais também. Se me pressente.
Eu por mim já sei, não tenho mais dúvidas:
Ela vem vindo.

(Escrito em 2007 e eu, eterno otimista, continuo esperando sua chegada)

18.3.12

 

Coração Secreto
Sergio Pinheiro Lopes



Não tive vários grandes amores,
embora já tenha achado isso.
Hoje vejo o grande amor da minha vida como aquele que está em curso.
Sempre o grande amor, porque o único no presente.
E o presente é absolutamente tudo o que existe.
Assim é também com o abandono,
abandonar ou ser abandonado.
É também, no presente (e só ele existe, certo?),
total e absoluto.
Quando alegria, tudo alegria.
Quando tristeza, tudo tristeza.
Como olhos que só conseguem focar e ver nitidamente
somente aquilo que está presente e a vista.
Todo o resto, passados e futuros,
borrões que, por teimosia, dou vida ou à matéria morta, ou a inexistente, e os interpreto, torno-os visíveis, dou viés, como se de fato existissem.

9.3.12

 

Imagens Matsuri
Som Kitaro



A cena final foi filmada a 2km de distância.



7.3.12

 

Menino
Sergio Pinheiro Lopes



Sobre minha alma
De menino
Finas camadas
De medo,
De cinismo,
De traquejo,
De experiência.
As manhas, as mentiras, as cascas
De adulto.
Agora é descolar,
Uma a uma,
As tênues capas
Que juntas se espessam:
Joio e trigo,
Joio e trigo,
Joio e trigo,
Para, quem sabe,
Vislumbrar, ainda que
Pálido,
O rosto esquecido,
O olhar colorido,
O gosto da primeira vez
Em tudo.
Cuido dos meus
Dias grisalhos,
Removendo meticuloso
A cola poderosa do
Tempo e do hábito.

1.3.12

 

Com'é Profondo il Mare
Lucio Dalla



Lucio Dalla è morto. Ecco il mio dolore.



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