20.9.10

 

To All My Friends in Far-Flung Places
Dave Van Ronk

Only the two first stanzas






To all my friends in far-flung places
When again I’ll see your faces
No one knows, no one can say
And none can name the happy day
When we embrace to greet once more
To take up where we were before
The miles and times that come between
The different vibes that intervene
Like shadows in a dream, now I’m with you

And all of you who took me in
Who shared the thick and stretched the thin
Who gave me comfort on the run
Who saved my life, who made it fun
Wherever you may be tonight
I hope this finds your burdens light
Your purpose high, your spirit strong
I hope that you have got along
My song was lost and gone, if it not for you

In strangers’ shapes I seem to trace
The lines of old familiar faces
I left my heart so many places
I scarcely know which way is home
And parting is my constant sorrow
Here today and gone tomorrow
I’d like to wake up in some town
And find that you were all around me
And all of us were settled down
And I’d come home

To all my friends in far-flung places
May I stay in your good graces
Hold me in your memory
And when you do not hear from me
Don’t think that out of sight is out of mind

For though our lives may lead apart
Still you are always in my heart
The love we share is all I know
Gives me grace to go on now
The love we share is all I know
Gives me grace to go on down the road
That leads me on to meet
My fate to taste the bittersweet
Of welcome always waiting for me
Somewhere, always somewhere down the line

16.9.10

 

Passarinho
Sergio Pinheiro Lopes


O de bom da vida
A sobriedade, por exemplo,
Consegue-se como se
Consegue a confiança de
Um passarinho.
Com paciência, com o
Coração puro, esquecido de
Si mesmo. E,
Com o saber que, às vezes,
Não se consegue.
E o sol, como que de acordo, nasce e
Põe-se todos os dias.

15.9.10

 

Ouvido por AAí
Sergio Pinheiro Lopes


"Galinha que acompanha pato morre afogada."

 

A Interpretação dos Sonhos
Sergio Pinheiro Lopes


Estava sentado em uma padaria outro dia – tomando um iogurte com adoçante, agora que mantenho distância entre o álcool e meu organismo –, quando vi um sujeito se aproximar do Éder, o apontador de jogo do bicho local.
O Éder usa uma mesa, situada logo do lado de fora de um botequim ao lado, de onde conduz seu próspero negócio. Ali só se senta para jogar. Ou no bicho, ou conversa fora, mas, neste caso, só a convite.
De todo modo o sujeito começou a contar, sem preâmbulo nenhum, um sonho que tivera.
O bicho existe no Brasil desde que o Barão Vianna Drummond, adaptando uma idéia sobre flores do mexicano Manuel Zevala, resolveu dar bom uso aos 25 animais que tinha no Zoológico de sua propriedade, na cidade do Rio de Janeiro. Em 1892. A idéia deu muito certo e não só para o Barão. O bicho enricou muita gente, mas empobreceu, inda que a conta-gotas, muitas outras também.
Uma das fontes mais importantes, se não a mais, dos palpites para o bicho está nos sonhos. Já interpretá-los não é para qualquer um. Há que se ter ciência. Por exemplo, sonhar com um número não deve levar, hidraulicamente, a jogar no próprio. Matemáticas, aritméticas e álgebras, como me informou um sabedor, devem levar a que se jogue no porco, na águia, no veado ou no jacaré. Pessoas nuas, traição, dá mesmo cobra, como talvez fosse esperado. Mas isso não quer dizer muito. Por exemplo, jogar no placar de um jogo sonhado é fria, jogo de azar, em sonho, é tigre, e não tem conversa.
Mas vamos ao sonho daquele sujeito: sonhara com um monte de passarinhos, dentro de um ônibus cor de laranja cujo destino era o bairro do Socorro.
As perguntas do apontador permeavam a narração, como que para esclarecer pontos obscuros, mas potencialmente relevantes para o diagnóstico correto do palpite: “Você estava dentro do ônibus... Não? Hmmm. Então não era viagem. Esse ônibus era grande? E a cor laranja? Era brilhante? Tinha outras cores no sonho?”
Tinha, tinha muitas cores. O palpite veio preciso. Jogue no pavão. Por que? Porque o sonho é colorido, e o pavão, com aquela festa de cores, é o bicho certo para esse sonho. O freguês assentiu e jogou no palpite. Setenta e quatro.
Não sei que bicho deu, mas fiquei pensando... Não poderia ir tão longe a ponto de dizer que aquilo tenha a mais remota semelhança com a psicanálise, mas não deixa de ser uma interpretação de sonhos. Vai saber se não alivia uma criatura de Deus sem o mínimo acesso à psicanálise, poder contar seus sonhos para alguém, ainda mais com a possibilidade de uns caraminguás de lucro como resultado. Terapia tropical.
Aparentemente o vaguear dos pensamentos, em plena vigília, não corresponde especificamente a bicho nenhum. Assim sendo, pensei em jogar no camelo, que é um ruminante, pela semelhança com o ruminar dos pensamentos. Depois hesitei e considerei o macaco, afinal nosso antepassado é o bicho que mais provavelmente tenha sido responsável por nosso pensar à-toa. Mas finalmente decidi pelo elefante, por ser mais bicho do que o macaco. Ninguém descende de elefantes e é o animal que acho mais interessante. Como num poema de Brecht, ele é grande, mas de cor discreta.Tem um corpo enorme, mas se alimenta de pequenas coisas. Possui uma memória prodigiosa e, elegantemente, se retira para morrer. Além de patrono das artes por fornecer o marfim. Afinal joguei no quatro mil setecentos e quatorze.
Ainda não tive oportunidade de conferir o resultado, mas a gente nunca sabe, vai que acertei no milhar.

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