23.5.07

 

Poemas - 19
Poems - 19


Acordar, Viver

Carlos Drummond de Andrade

Como acordar sem sofrimento?
Recomeçar sem horror?
O sono transportou-me
àquele reino onde não existe vida
e eu quedo inerte sem paixão.

Como repetir, dia seguinte após dia seguinte,
a fábula inconclusa,
suportar a semelhança das coisas ásperas
de amanhã com as coisas ásperas de hoje?

Como proteger-me das feridas
que rasga em mim o acontecimento,
qualquer acontecimento
que lembra a Terra e sua púrpura
demente?
E mais aquela ferida que me inflijo
a cada hora, algoz
do inocente que não sou?

Ninguém responde, a vida é pétrea.
***
Poem Written at Morning
Wallace Stevens


A sunny day's complete Poussiniana

Divide it from itself. It is this or that
And it is not.
By metaphor you paint
A thing. Thus, the pineapple was a leather fruit,
A fruit for pewter, thorned and palmed and blue,
To be served by men of ice.
The senses paint
By metaphor. The juice was fragranter
Than wettest cinnamon. It was cribled pears
Dripping a morning sap.
The truth must be
That you do not see, you experience, you feel,
That the buxom eye brings merely its element
To the total thing, a shapeless giant forced Upward.
Green were the curls upon that head.

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