23.8.07

 

Poemas 93
Poems 93


Delírios II

Alquimia do Verbo
Rimbaud

Para mim. A história das minhas loucuras.

Há muito me gabava de possuir
todas as paisagens possíveis, e julgava irrisórias
as celebridades da pintura e da poesia moderna.
Gostava das pinturas idiotas, em portas,
decorações, telas circenses, placas,
iluminuras populares; a literatura fora de moda,
o latim da igreja, livros eróticos sem ortografia,
romances de nossos antepassados,
contos de fadas, pequenos livros infantis, velhas óperas,
estribilhos ingênuos, rítmos ingênuos.
Sonhava com as cruzadas, viagens de
descobertas de que não existem relatos, repúblicas
sem histórias, guerras de religião esmagadas,
revoluções de costumes, deslocamentos
de raças e continentes: acreditava em todas as magias.
Inventava a cor das vogais! - A negro
E branco, I vermelho, O azul, U verde.
Regulava a forma e o movimento de
cada consoante, e , com ritmos institivos,
me vangloriava de ter inventado um
verbo poético acessível, um dia ou outro,
a todos os sentidos. Era comigo traduzí-los.
Foi primeiro um experimento.
Escrevia silêncios, noites, anotava o inexprimível.
Fixava vertigens.

(Tradução de Paulo Hecker Filho)

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