14.9.07

 

Duas Conversas
Júlio Moreira


A primeira é mais esperada.
Um diretor de teatro e um ator falam sobre uma nova postura nos palcos paulistanos, o teatro fast-food. É isto mesmo. Naquela terça feira, o teatro em que estávamos apresentava três espetáculos: 19h30, 20h30 e 22hs.
O diretor alegava que as peças tinham que ser curtas e a companhia teatral tinha que ter vários espetáculos em cartaz para poder se sustentar. O ator citava um amigo que participava de 4 peças ao mesmo tempo. "Sinais dos tempos, mas temos que encarar, se não seremos atropelados."
Outra conversa. Desta vez em um ônibus.
Dois homens bem fortes, um deles contando que havia recebido o primeiro salário na "firma" nova e que a "firma" era muito boa, pois tinha recebido mais dinheiro do que esperava, além de vale transporte, vale alimentação e vale refeição.
Eles eram vigias, falavam mal de uma antiga empresa e deixavam claro que existe pleno emprego para quem trabalha em segurança. "É sair de uma firma e entrar em outra. Bem rápido."
Mas o que chamou a atenção foi a maneira de escolher o local onde trabalhar. As empresas de segurança fornecem vigias para vários clientes.
Eles optam por trabalhar à noite, pois "depois das 10h30, 11hs ninguém enche o saco e, a gente pode dormir sossegado." "Esperto, mas esperto mesmo, tem que ficar na hora de escolher o lugar. Esta firma é muito boa, mas tem umas empresas que não dá pra trabalhar, não. Na Pirelli nem pensar, você tem que passar a noite contando pneus e se errar é o maior B.O. Não quero saber de ficar contando, não. Não sou conferente."
O outro não deixou por menos: "A Kalunga também não dá, tem que ficar em pé 8 horas. Tem até um monte de mulher, mas passar 8 horas em pé, tô fora...."
"Bom mesmo é ficar onde estou. Onze horas, pego o meu banquinho e durmo a noite toda, até às cinco e meia. Ninguém me atrapalha."
Pois é, está cada dia mais difícil entender as relações de trabalho.
Eu que não tenho coragem pra ser segurança nem dom pra ser artista estou perdidinho.
O mundo está muito maluco. Acho que tinha que nascer de novo.
Ou pelo menos, parar de ouvir a conversa alheia.

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