22.1.08

 

Flashes Cotidianos
Sergio Pinheiro Lopes


O Patriarca da Praça

Conheço a Praça do Patriarca desde menino.
Meu pai, durante uma época, teve escritório em um edifício imponente defronte a ela e não era incomum ir visitá-lo quando ia para a “cidade”, como se dizia então.
A praça ficou na minha memória por dois motivos bem diferentes:
Um é que o pai de um amigo de escola, o Peter Tuch, tinha uma loja tradicional ali: a Casa Cisne.
O outro porque houve um grande assalto a um banco lá localizado. A primeira vez que li um jornal de fio a pavio foi a edição com a história do assalto ao Banco Moreira Sales. Acompanhei fascinado o desenrolar das investigações nos dias seguintes. Eu, naturalmente, levava umas boas duas horas para ler o jornal, isso sendo que provavelmente pulava seções que nada me diziam. Mas foi desta ocasião em diante que adquiri o hábito de ler jornal.
No fim, haviam sido uns gregos, se não me falha a memória, que tinham cometido o assalto e escondido o produto em tonéis.
Enfim, esta convivência com a praça me deu vontade de saber melhor quem era o tal do Patriarca que a nomeava com direito a estátua e tudo.
O chamado “Patriarca da Independência” José Bonifácio de Andrada e Silva nasceu em Santos e morreu em Niterói.
Foi figura central da Independência do Brasil. Graduado pela Universidade de Coimbra em 1787, assistiu a Revolução Francesa em primeira mão, pois estava na França em 1790, no seu princípio. Era um naturalista, poeta e maçom. Interessava-se por assuntos que tivessem alguma utilidade. Passou 40 dos seus 75 anos fora do Brasil. Foi banido e exilado. Foi o primeiro brasileiro a ser Ministro do Reino. Organizou a ação militar contra a resistência a separação de Portugal. Foi tutor de D. Pedro II. Foi defensor dos índios e abolicionista. Era um admirador de Rousseau. Das três cartas que D. Pedro recebeu às margens do Ipiranga, Uma, das Cortes, diminuía seus poderes. As duas outras, de José Bonifácio e da Princesa Leopoldina, o instavam a desobedecer as Cortes de Portugal. Foi autor de inúmeros livros e era muito habilidoso com as palavras. Abaixo exemplos das suas famosas “Bonifrases”, como ficaram conhecidas algumas de suas opiniões:

- “Nas antigas monarquias absolutas da Europa há os contrapesos da força da civilização e da força dos costumes e da moral pública – mas que há no Brasil? Nada disto”.

- “De quem não sabe amar ou aborrecer, ninguém tem que esperar ou temer”.

- “A razão porque nunca farei fortuna em Portugal é porque não sei digerir afrontas, e sofrer revezes injustos a sangue-frio”.

- “Os políticos da moda querem que o Brasil se torne Inglaterra ou França; eu quisera que ele não perdesse nunca seus usos e costumes simples e naturais e antes retrogradasse que se corrompesse”.

- “Se não me foi possível dar a última mão de estuque ao magnífico salão nacional, ao menos embocei a parede”.

- “No Brasil a virtude, quando existe, é heróica, porque tem que lutar com a opinião e o governo”.

A Praça mudou muito desde a minha meninice, não mais existe ali a Casa Cisne e nem o Banco Moreira Salles existe mais com esse nome.
A estátua, nem sei mais se ainda está por lá.
Já o Patriarca, como se vê pelas suas frases, continua bem atual.

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