8.7.08

 

Flashes Cotidianos
SP Lopes


Hojas y Flores

O destino: Ezeiza.
Ao invés, pousamos em Rosário.
Fomos de ônibus, não enxergando a Argentina, por 310 km, por conta da neblina.
Mas, chegamos.
Buenos Aires, Buenos Aires.... Amanhecendo com suas imensamente largas avenidas e majestosos parques vazios, mas com aquele cheirinho de limpo e de frescor das manhãs em todos os lugares.
Pallermo Viejo. Agora, dizem alguns, chama-se Pallermo Soho; para contrastar com uma tal de Pallermo Hollywood, que não vi e que os habitantes mais velhos se arrenegam de reconhecer.
Pallermo Viejo, portanto, e porteño.
Hostel e não hotel.
Há mais conforto em hotéis, é claro, mas mais solidão também. Mas para mim, para quem um dos fascínios da vida é conhecer outras gentes em outras terras, além da informalidade dos jovens de todo mundo que são maioria nestes lugares, é incrivelmente mais barato, já que a Josy e a mim não incomoda arrumar quarto e cama e cuidar de nossas algibeiras.
Deixei-a a dormir, às cinco da manhã, com gripe já no primeiro dia (depois melhorou e sarou), e fui ver a cidade continuar a amanhecer.
A primeira coisa que se sente é a suave decadência da cidade. Já disse em outra crônica que gosto das coisas usadas, aquelas que exibem o uso das pessoas e a passagem do tempo.
Arquitetura antiga, terraços e mais terraços em toda parte, em pequenos prédios e casas, alguns com plantas, outros com esteiras de praia preservando a privacidade dos habitantes.
Não é minha primeira vez nesta doce cidade que sempre desmentiu, para mim ao menos, o mito da arrogância dos argentinos. Balela. Peta. São gentis ao extremo, delicados e atenciosos, esses nossos
amigos del sur.
Em todas as circunstâncias. Sempre achei que a civilização começa nos pequenos gestos cotidianos, no ‘com licença/
permiso’ e no ‘desculpe-me’ ao mais leve esbarrão involuntário.
Estamos cambialmente em vantagem neste momento. Come-se e bebe-se do bom e do melhor a preços muito moderados, para dizer o mínimo.
Devo aqui mencionar o
Club Eros, com bife de chorizo, papas fritas e vinho por incríveis 35 reais para duas pessoas, ali na esquina da Uriarte com a Honduras, para não mencionar a atenção e simpatia do garçom Anwar.
Quando era menino dizia-se que a Argentina tinha duas coisas que faltavam ao Brasil: garçons e goleiros. Acho que resolvemos o problema dos goleiros, estão aí o Ceni e o Marcos que não me deixam mentir. Mas perdemos de lavada em matéria de garçons.
É inverno e não faltam folhas secas pelas calçadas.
Hojas Secas en los Paseos y Flores en los Píes.
Explico.
As folhas secas estalavam sob os pés ao andar e as flores nos pés me ocorreu ao olhar um lindo par de tênis floridos comprados pela Josy, e que resolvi expandir para abarcar o sentimento de leveza nos passos e a pura felicidade que nos tomou nestes dias de flanar por esta cidade plana, linda e cheia de histórias secretas a nos sussurrar nos ouvidos atentos.
Viajar é andar e andar, e enfiar o nariz curioso nos mais variados lugares. Desde a loja ‘
Objetos Encontrados’ até a ‘Boutique del Libro’ (links ao lado), talvez a melhor livraria de Buenos Aires, de propriedade de Fernando e bem atendida por atenciosas vendedoras, em especial a Sol (Soledad) que não só me brindou com sua graciosa figura e desvelada atenção, como me levou a conhecer as novas bandas que tocam na noite de Buenos Aires, pelos cantos secretos de Santo Telmo.
Recomendo uma chamada ‘Plasma’, na
Calle Piedras.
É verdade que a
El Atheneo continua a ser o palácio de livros que sempre foi com tudo o que se queira e mais um pouco. Mas falta-lhe a modernidade e a informalidade da Boutique.
Consegui achar CDs difíceis por aqui, desde Jorge Cafrune até Bola de Nieve, passando por Troilo e Pugliese, e um precioso dicionário de lunfardo que torna os tangos compreensíveis a nós que partilhamos com os portugueses e uns tantos outros gatos pingados, este código secreto que é a língua portuguesa.
Relendo acima, vi que fui de lá para cá e de aqui para ali, passeando pelas minhas impressões. Um pouco como a viagem; digamos que esta é uma crônica/diário de bordo.
Mas que fez bem a nossa alma, ah, lá isso fez, e como.
Para não mencionar
las flores en los píes que nos deixaram o espírito leve e um sorriso pairando feliz pelo rosto.

Comments: Postar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?