15.1.10

 

Extraterrestres
Sergio Pinheiro Lopes


Gosto de cachorros. Tive um quando era criança. Chamava-se Paddy e uma vez até, minha mãe, que trabalhava no Moinho Santista, emplacou um pulôver de cachorro com o nome dele bordado em uma propaganda. Eu gostei, ele nem ligou.

Gosto de cachorro, mas hoje não tenho. Tenho um gato, melhor dizendo, uma gata, chamada Mel (podia chamar-se 'Velcra', às vezes). Não tenho porque minha casa não comporta e, desconfio, minha gata não suporta. É verdade que muita gente tem cachorro em apartamento, portanto seria possível ter um em minha casinha. Para isso, no entanto, teria que levá-lo passear duas vezes por dia, ou suprema humilhação, pagar alguém para fazer isso.

Aí está o xis da questão.

Cachorros não são como gatos. Gatos são autolimpantes e enterram seus dejetos. Cachorros não. Precisam sair às ruas para fazer suas necessidades e gastar energia. E como cachorro tem energia! Gatos, por outro lado, dormem dezesseis horas por dia. Antigamente não havia problema, os cachorros, assim como os gatos, viviam soltos, saíam a se aventurar pelas ruas e depois voltavam felizes, belos e faceiros, salvo um ou outro acidente ou incidente. O Paddy, por exemplo, uma vez em que um entregador de mercearia se distraiu, bifou e jantou um quilo de filé-mignon do coitado.

Mas divago. O que queria dizer é que se extraterrestres por acaso viessem nos espiar e nos vissem passeando cachorros pelas ruas, andando atrás deles e recolhendo seus dejetos com saquinhos plásticos, qual você acha que eles concluiriam ser a raça dominante?

Os ETs provavelmente vêem as pessoas, os cachorros e seus cocôs, a desgraceira que nós, os outros cães, estamos fazendo dessa Terra e resolvem esperar outras tantas centenas de anos até vir dar uma checada novamente, prá ver se por acaso tomamos jeito.

Na minha opinião a maior prova de que existe vida inteligente fora do nosso planeta é que eles não descem.

Comments:
poizé, sergim. tenho eu dois cachorros, folhas de papel tiradas de velhas listas telefônicas e sacos plásticos - os dois primeiros para passear presos em guias duas vezes por dia e fazer cocô, no meu quintal e nas ruas durante os passeios; os dois últimos para recolher o cocôs dos animais, porque ninguém gosta de pisar onde não deve e fede, e é dever de bom cidadão evitar que as pessoas entrem em casa com as solas de sapatos melecadas. mas acho que os extraterrestres não se importam com isso, nem com o nosso planetinha perdido na via láctea. penso, ao contrário, que eles preferem coisas melhores da galáxia, talvez resorts de férias sofisticadíssimos, onde o ar é puro e o efeito estufa é desconhecido - por isso passam desapercebidos pelaí, entre um salto e outro pelo hiperespaço e nos deixam com a impressão de quem somos vida inteligente quando inteligentes mesmo são os nossos cães. quem é que disse que vida de cachorro é difícil? abraço carlos al. salum
 
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