2.1.10
Uma Tarde Azul
Sergio Pinheiro Lopes
Lugar: Travessa dos Cataventos.
Horário: digamos por volta de meio-dia.
Coloco a sacola com os livros, comprados num sebo da Rua da Praia, em cima de uma mesinha do lado de fora do restaurante. Estou suando em bicas da caminhada e peço ao rapaz na mesa ao lado para olhar a sacola enquanto finjo ir ao banheiro para desfrutar um pouco do ar-condicionado no lado de dentro.
Na volta, mais refrescado um tantinho, sento-me à mesinha. Logo a seguir, uma senhora que havia visto sentada lá dentro, sai para fumar um cigarro.
O dia já começara bem. Sol, cidade nova (para mim, naturalmente), arborizada, agradável e disposição para sair à caça de seus tesouros.
Encontrei a primeira preciosidade na figura da Regina - simpática moça que trabalha no Espaço Mario Quintana – e outras nos livros de Ivan Pedro de Martins e no diário de Cecília de Assis Brasil.
Mas o melhor ainda estava por vir.
A senhora que saíra para fumar pergunta ao rapaz se pode partilhar de sua mesa enquanto fuma. Ele acede e me convida para juntar-me a eles.
Foi o começo de uma conversa pra lá de gostosa que levou horas, mais de duas só para nos interessarmos pelos nomes uns dos outros, tão leves e à vontade que estávamos os três.
Falamos de tudo um pouco. Da educação no Brasil, passando pelos melhores lugares de Porto Alegre, pelas cidades próximas que eram agradáveis no verão, das nossas profissões (ela educadora, ele músico, embora ainda dê expediente no Banco do Brasil), dos políticos e suas politicanalhices, das respectivas famílias, da vida que passava, da que já passou e da que ainda vai passar.
O Marcos, por exemplo, mencionou um escritor e uma cantora que não conhecia e que bastou chegar a São Paulo para ver na imprensa, como sói acontecer. Eu é que nunca tinha ouvido falar deles. Ainda não comprei o livro do escritor – João Gilberto Noll -, mas já estou ouvindo a Maria Gadu. Bela dica.
A alegria de viver e a disposição de Dona Yara me fizeram um bem danado naquele começo de tarde e me deu um saborear da cidade que teria sido impossível de outra forma.
Gostei barbaridade de Porto Alegre, tchê!, e não só por este auspicioso encontro casual.
A cidade é cheia de itens civilizados: desde faróis para pedestres que marcam o tempo que ainda resta para atravessar a rua, carros que param quando um pedestre pisa na faixa, até dispensadores de saquinhos plásticos para quem leva os cachorros para passear.
Afora, é claro, a gentileza, o calor e a urbanidade dos habitantes, de que são prova meus simpáticos companheiros de mesa.
Para não mencionar que lá é possível, para os que ainda teimam em fumar como eu, sentar em mesinhas de calçada e desfrutar do convívio das pessoas, três dos meus grandes prazeres na vida.
Ah, estávamos os três usando peças azuis, donde o nome desta crônica.
Por conta de tudo isso terminei 2009 e comecei os vinte-dez com o espírito alegre e feliz.