24.3.10
Soneto
Johann Gottlieb Fichte
1762-1814
O que empresta ao meu olhar esse vigor,
Que todos os senões lhe parecem pequenos
E as noites se transformam em sóis serenos,
Em vida a negação, em solidez o tremor?
O que, a confusa teia do tempo a transpor,
Conduz-me certeiro às fontes perenes
Do belo, do vero, de bondades e acenos,
E lá afunda, e aniquila, do meu empenho a dor?
Já sei. Desde que, no olho de Urânia, acesa
Em quietude, pude eu mesmo interiormente
A clara, fina, pura flama azul observar;
Desde então, tal visão me habita em profundeza
E é no meu ser - eterna, unicamente;
Vive no meu viver, olha no meu olhar.
(Tradução de Paulo Cesar Souza)
19.3.10
Nem Serra e nem Dilma,
prefiro gente fina.
Eu vou é de Marina.
Guardião do Fogo
Marcelo Tápia
Para Luis Dolhnikoff
Confio-lhe a sorte
de meus poemas desfeitos
confio-lhe o suporte
de meus defeitos
confio-lhe meu rótulo de poeta
meu delírio de asceta
meu chiste de esteta
confio-lhe de olhos fechados a morte
de minha ilusão do mito
confio-lhe, amigo
com alívio
(presente de grego, valor estimativo)
a integridade do meu lixo
Documentários
Recomendo vivamente o blogue "docverdade.blogspot.com" .
É só fazer o download do filme, fazer o download das legendas, se quiser, e assistir.
No blogue, na coluna da direita, instruções claras de como fazê-lo, para os que ainda não sabem.
É isso.
6.3.10
Tristeza
Steven Millhauser
"As Doze Imagens da Tristeza são: a lua de outono por trás de três galhos escuros, um espelho quando não reflete uma face, uma única pétala branca de ameixa dependurada num galho, os olhos de uma linda dama ao entardecer, um jardim sob a chuva de verão, bafo glacial numa noite de outono, um velho contemplando um rio, um leque esmaecido, um pardal morto na neve, um amante deixando sua amada de madrugada, uma antiga ampulheta abandonada, o perfil negro de um pato selvagem de encontro ao rubro sol poente. Estas são as tristezas conhecidas por todos os homens, mas há uma tristeza que é só de Cathay. Nossa tristeza é a tristeza oculta nas profundas tardes azuis-escuras do verão, a tristeza dos raios de sol batendo na árvore de ameixa a florescer, a tristeza que repousa como uma débil sombra púrpura na íris de uma linda menina a sorrir."
Tradução de Ivan Lessa, copiado de seu artigo na BBC Brasil de 5 de Março de 2010.
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2010/03/100305_ivanlessa_tp.shtml
5.3.10
Ozymandias
Percy Bysshe Shelley
I met a traveler from an antique land
Who said: "Two vast and trunkless legs of stone
Stand in the desert. Near them, on the sand,
Half sunk, a shatttered visage lies, whose frown,
And wrinkled lip and sneer of cold command,
Tell that its sculptor well those passions read,
Which yet survive, stampt on these lifeless things,
The hand that mockt them and the heart that fed:
And on the pedestal these words appear:
'My name is Ozymandias, king of kings:
Look on my works, ye mighty, and despair!'
Nothing beside remains. Round the decay
Of that colossal wreck, boundless and bare
The lone and level sands stretch far away."
4.3.10
The End of the Dream
Black Elk Speaks
And so it was all over.
I did not know then how much was ended. When I look back now from this high hill of my old age, I can still see the butchered women and children lying heaped and scattered all along the crooked gulch as plain as when I saw them with eyes still young. And I can see that something else died there in the bloody mud, and was buried in the blizzard. A people's dream died there. It was a beautiful dream.
And I, to whom so great a vision was given in my youth - you see me now a pitiful old man who has done nothing, for the nation's hoop is broken and scattered. There is no center any longer, and the sacred tree is dead.