9.4.10
A Cidade
Constantin Cavafy
Tradução livre de
Sergio Pinheiro Lopes
Você diz a si mesmo: vou-me embora
Para alguma outra terra, algum outro mar,
Para uma cidade muito mais adorável que esta
Jamais poderia ter sido ou esperado ser –
Onde cada passo agora aperta o laço:
Um coração enterrado num corpo e sem uso:
Quanto tempo, quanto tempo preciso estar aqui
Confinado nesta vizinhança tediosa
Da mente comum?
Onde quer que eu olhe agora
Negras ruínas da minha vida surgem à vista.
Tantos anos estive aqui
Gastando e desperdiçando, e nada ganho.
Não há nenhuma nova terra, meu amigo, nenhum
Novo mar; pois a cidade o seguirá,
Nas mesmas ruas vagarás interminávelmente,
Os mesmos subúrbios mentais vão da juventude à velhice,
Na mesma casa encanecem por fim –
A cidade é uma cela.
Nenhum outro lugar, sempre este
Seu quinhão desta terra, e nenhum navio existe
Para levá-lo para longe de si mesmo.
Ah! Você não vê
Assim como arruinaste sua vida neste
Solitário pedaço de chão, arruinaste seu valor
Em toda parte agora – por toda a terra?