8.11.10
Caros Poetas
Sergio Pinheiro Lopes
O que podemos esperar? Bem sei que muitas sociedades e cidades passaram por essa violência e banditismo político e, certamente, muitas outras passarão. A Chicago dos anos 30, NY dos setenta, para não falar do Velho Oeste (lá deles) e o nosso Velho Norte e Nordeste, a Inglaterra de Francis Drake e por aí vai.
Se olharmos um pouco mais de cima, no entanto, veremos que todos os indicadores de qualidade de vida melhoraram ao redor do mundo nos últimos cem anos. É fato. Até os países mais miseráveis da África melhoraram seus indicadores de expectativa de vida e de mortes por mil nascimentos. Também esse estado de coisas há de passar por aqui. Sabemos que notícia, quase sempre, é notícia ruim. E isso nos assusta; introduz um viés no nosso olhar. Mas a intensa atividade vital das cidades, do campo e do país continua todo o tempo. A sociedade pensa em si mesma continuamente através de seus milhões de habitantes. Cada um contribuindo com seu pouquinho no seu cotidiano. O que falta é massa crítica para uma mudança visível na forma de cobrança de direitos através da organização da população. Mas ela virá. O Bolsa-Família do atual presidente é o equivalente ao Plano Real de seu antecessor. As pessoas votam com os estômagos e com os bolsos. Corrupção sempre houve, em todos os governos, e a população sabe disso instintivamente, pois convive com ela e dela participa, porque senão não toca a vida pra frente. Então se acomoda e aceita. 'Faz parte', ouve-se por aí. Mas as pessoas trabalham, estudam, têm valores, ambições e desejos que são irrealizáveis na atual condição da sociedade brasileira. No fundo não concordam com a corrupção e, quando tiverem o tempo, a educação e informação de boa qualidade (e vão acabar tendo, pois por isso já brigam), vão se mover para acabar com ela, colocá-la dentro de limites mais civilizados. Por isso as cidades e o país vão mudar, tenham certeza. Aos poucos, infelizmente, mas é assim com tudo na vida: um 'cadinho' por dia. Cabe a cada um de nós, no mínimo, comportarmos-nos como achamos que todos deveriam se comportar idealmente. Só isso já é muito difícil, mas por aí também começa alguma mudança. Sei que é a estória de que se cada chinês varresse a porta de sua casa, a China seria um país limpo. Mas é verdade. Além disso, e enquanto isso, a sociedade e seus milhões de anônimos se movimentam incessantemente.
Eppur si muove, caros poetas, eppur si muove, e o país é bem maior do que os presidentes, os governadores, os empresários, os políticos, e também, no meio deles, os corruptos todos e seus eventuais sucessores.
Eles passarão e o Brasil não.
As mudanças visíveis são epidérmicas, meus caros poetas, e a história é subcutânea.