21.12.10

 

A Velhice e os Átomos



Tudo em nós encolhe.
O corpo e suas partes encolhem com o tempo.
A única vantagem é que, às vezes, o ego também encolhe. O que pode ser bom.
Mas o encolhimento dos interesses não é bom.
A doença de Alzheimer tende a ocorrer menos em pessoas com interesses renovados e consciência da morte. Os monges do Monte Atos, na Grécia, por exemplo, se vestem de preto e meditam sobre a morte todo o tempo. Vivem muito e nenhum desenvolve a doença.
Já as estrelas se afastam de nós em uma velocidade alucinante.
O universo não encolhe, expande.
A passagem do tempo pode ser comparada com a perspectiva na pintura. Quanto mais pontos de referência existem entre o começo e o fim de uma perspectiva, maior parece ser a distância. Por isso lembramos tanto da juventude, cheia de acontecimentos memoráveis vividos pela primeira vez. Que diferença da maturidade, que não tem tantas novidades e, portanto, menos acontecimentos marcantes para marcar sua passagem.
E a chegada da velhice?
O fim do começo, e o começo do fim. Possibilidades cada vez menores da vida apresentar uma oportunidade, uma redenção, a realização de um sonho. Primeiro a tristeza, depois a liberação. Não mais estar preso às expectativas de futuro. A chance de aproveitar o aqui e o agora. Ou como cantou Elvis: é agora ou nunca.
E não é pouco, pensando bem, poder respirar, ver, ouvir, sentir, caminhar sem ajuda, comer, subir escadas e ter uma ereção apenas com a ajuda da química humana.
Na verdade, tudo isso é ótimo!
Sendo exatamente e verdadeiramente o que se é, alguma coisa sempre aparece.
Picasso, Beethoven, Yeats, Shakespeare... Todos, cada um em sua arte, se despreendendo das convenções e da técnica, e deixando a arte correr solta, como uma perplexidade diante do vazio da morte, como um apêgo desesperado à vida.
E a neurogênese? Há evidências de que o cérebro produz novos neurônios até o último minuto. E é verdade que tudo retorna ao Cosmos de onde veio. A morte é apenas a morte da identidade, do ego. E o medo dela não é medo dela, propriamente, pois ninguém morreu e voltou para contar.
O medo da morte é o medo da idéia da morte. Palavras, palavras nos enganando.
O mapa não é o território, não podemos esquecer.

Somente 4% do universo é feito de átomos, que supostamente deveriam ser a base de tudo, o resto é 75% de Matéria Escura, e 25% de Energia Escura. O que soa bem e fica ótimo em maiúsculas, mas que ninguém sabe o que são realmente.
Os cientistas dizem que não existe Gravidade o suficiente...

Em Winter's Tale, Shakespeare diz, pela boca de Leontes:

"Estrelas! Estrelas! E todos os outros olhos são carvões queimados."

Yeats fez a pergunta retórica: "Por que os velhos não deveriam ser loucos?"

"O que devo fazer com esse absurdo -
Ó coração, Ó coração agoniado - essa caricatura,
Essa idade decrépita que foi amarrada em mim
Como ao rabo de um cachorro?
Nunca tive uma
Imaginação mais excitada, apaixonada, fantástica,
Nem olhos e ouvidos que
Mais esperassem o impossível."

O absurdo é o novo sublime.

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