23.1.11
Haikais
Millôr Fernandes
Há colcha mais dura
que a lousa
da sepultura?
Na poça da rua
O vira-lata
Lambe a Lua.
Com que habilidade
Você estraga
Qualquer felicidade!
Nos dias quotidianos
É que se passam
Os anos.
O desenvolvimento cerebral
Nunca se compara
Ao abdominal.
Não é segredo.
Somos feitos de pó, vaidade,
E muito medo.
No falecimento
Lenço grande demais
Pro sentimento.
Eremita, me afundo
No deserto, pra ser
O centro do mundo.
Esnobar
É exigir café fervendo
E deixar esfriar.
Aniversário é uma festa
Pra te lembrar
Do que resta.
Olha,
Entre um pingo e outro
A chuva não molha.