30.4.11
Ernésto Sábato
1911 - 2011
A vaidade é um elemento tão sutil da alma humana que a encontramos onde menos se espera: ao lado da bondade, da abnegação, da generosidade!
27.4.11
Petite Fleur
Sidney Bechet
26.4.11
Psalms
O Quereres
Caetano Veloso
Chico & Caetano
Onde queres revólver, sou coqueiro
E onde queres dinheiro, sou paixão
Onde queres descanso, sou desejo
E onde sou só desejo, queres não
E onde não queres nada, nada falta
E onde voas bem alto, eu sou o chão
E onde pisas o chão, minha alma salta
E ganha liberdade na amplidão
Onde queres família, sou maluco
E onde queres romântico, burguês
Onde queres Leblon, sou Pernambuco
E onde queres eunuco, garanhão
Onde queres o sim e o não, talvez
E onde vês, eu não vislumbro razão
Onde o queres o lobo, eu sou o irmão
E onde queres cowboy, eu sou chinês
Ah! Bruta flor do querer
Ah! Bruta flor, bruta flor
Onde queres o ato, eu sou o espírito
E onde queres ternura, eu sou tesão
Onde queres o livre, decassílabo
E onde buscas o anjo, sou mulher
Onde queres prazer, sou o que dói
E onde queres tortura, mansidão
Onde queres um lar, revolução
E onde queres bandido, sou herói
Eu queria querer-te amar o amor
Construir-nos dulcíssima prisão
Encontrar a mais justa adequação
Tudo métrica e rima e nunca dor
Mas a vida é real e é de viés
E vê só que cilada o amor me armou
Eu te quero (e não queres) como sou
Não te quero (e não queres) como és
Ah! Bruta flor do querer
Ah! Bruta flor, bruta flor
Onde queres comício, flipper-vídeo
E onde queres romance, rock 'n' roll
Onde queres a lua, eu sou o sol
E onde a pura natura, o inseticídio
Onde queres mistério, eu sou a luz
E onde queres um canto, o mundo inteiro
Onde queres quaresma, fevereiro
E onde queres coqueiro, eu sou obus
O quereres e o estares sempre a fim
Do que em mim é de mim tão desigual
Faz-me querer-te bem, querer-te mal
Bem a ti, mal ao quereres assim
Infinitivamente impessoal
E eu querendo querer-te sem ter fim
E, querendo-te, aprender o total
Do querer que há, e do que não há em mim
24.4.11
Mother Africa
Hans Zimmer
23.4.11
Jader de Oliveira
Ivan Lessa
Jader chegou a Londres em setembro de 1968. Eu estava aqui há um mês. Durante os 43 anos de nossa amizade, sempre que podia eu dava um jeito de encaixar no papo minha condição de veterano. “Você é novato por aqui não pegou a Londres de agosto de 68” é um exemplo.
Jader nasceu no dia 22 de dezembro de 1934. Eu em maio de 35. Outra que virou obrigação para mim. Qualquer coisa que eu queria saber mandava lá, “Jader, você que é muito mais velho do que eu, me conta como foi a chegada do Zepelim no Brasil.” Do outro lado da linha, vinha a gargalhada gostosa do Jader. Sempre. Um rir que mais de uma vez eu disse que se ele conseguisse engarrafar acabaria rico.
De uns anos para cá nossos encontros eram apenas pelo telefone. Ele morava num canto da cidade, eu noutro. Mas todas as semanas batíamos ponto. Cansei de enviar filmezinho do YouTube daqueles que chamávamos “nossos cantores”.
Futebol, rádio, música popular (com ênfase na brasileira) de qualidade, viesse de onde viesse, muito tango, bolero, choro. A mãe do Jader tocava, e muito bem, ao que parece, bandolim. Quantas pessoas você conhece cuja mãe tocava bandolim? E bem?
Pelo menos uma vez por mês, um de nós tinha uma dúvida: quem gravou isso? Como é a letra daquela marchinha? Jader vivia me fazendo perguntas sobre isso e aquilo outro, ligado a passadismos. Como ele, eu estava noutra. Década, com certeza.
Jader, entre um desfile de qualidades, tinha um ouvido excepcional. Escutava uma vez uma música e saía cantando. Perguntei se quando garotão tinha discoteca. Ele: “Nada. Pegava no rádio”.
Jader amava rádio. Achava que televisão (não era a dele) ou até mesmo a informática não chegavam aos pés do que foram as nossa rádios: Nacional, Tupi, Mayrink. Todas. Era outra das figurinhas que faziam parte de nosso eterno bafo-bafo.
Jader sabia de tudo e de todos que tinham a ver com rádio. Seus jingles, seus comerciais. Do mais modesto locutor (Jader foi um excelente “espica”, como se dizia) à mais vedete das cantoras. Nem falemos de conjuntos vocais. Das imitações do Jader de Orlando Silva e Cyro Monteiro. Mais, forçando a barra, as quatro vozes de um conjunto vocal, outra paixão mútuas nossa.
O jogo não cansou durante mais de quatro décadas. Mineiramente, “causos” e mais “causos”contados pelo Jader. Belo Horizonte, a Belô dos anos 50, está magnificamente captada no, uma lástima, único livro que escreveu, No Tempo Mais que Perfeito.
Está tudo lá. Um livro com gente andando, trabalhando, namorando e, mais importante, sentada no botequim contando histórias. Prestando atenção, dá para se ouvir até hoje a risarada. Comprem o livro, abram e confiram. Tem Mate-Couro, Phymatosan e Leo Belico.
Conforme diz o Jader na apresentação daquilo que, no decorrer de sua feitura – levou tempo, hem? gozava eu – ele mesmo chamava de “catatau”, uma palavra do tempo do onça, conforme são as melhores palavras: “não se trata de uma tentativa de resgatar o passado histórico da cidade: simplesmente o relato, numa linguagem jornalística de como vivíamos, o que fazíamos, o que acontecia e com que sonhávamos.
Um reexame da linha do tempo que percorremos obedecendo a súbitas e indisciplinadas variações da memória.” E no último parágrafo, de uma só linha, “... o túnel da memória continua infinito.” Pura verdade. Jader emprega “simplesmente” para se referir ao – não consigo deixar de chamar pelo seu codinome – catatau. Comigo, não violão. Uma bobagem que também vinha no bolo das figurinhas bafo-bafadas: expressões antigas.
O danado do Jader ainda tinha tempo de ler e ler bastante. Só do melhor. Vivia citando Eça de Queiroz e o Camões de “... a grande dor dascousas que passaram...”. Música, muita música. Cantada. Lucho Gatica, Jean Sablon, Sílvio Caldas. Tinham de ser bons. E eram. Fomos duas vezes ver aqui o Billy Eckstine. Em 1969 e em 1983. Era, como eu, fã de carteirinha de Mr. B.
Nunca ouvi Jader falar mal de ninguém. Ou reclamar. Não cultivava o sossego, este é que o cultivava. Sempre orgulhoso dos filhos Marcelo e Eddie, talentosos e bem sucedidos feito ele, e nunca se cansando de adorar, como num tango de Discepolin, sua mulher argentina, Nelly. A Argentina era outra paixão sua. Como o quintal de sua casa em Cobham, no condado de Surrey.
Se fez falta quando deixou a BBC e virou, ao menos para mim, um Jader ao telefone, que dizer agora, com quem falar, menos de 48 horas depois que pegou o boné (não levem a mal, Jader entenderia perfeitamente o uso beirando o inapropriado) e se mandou?
Como disse um amigo comum em bilhete eletrônico para mim: “Jader era um sujeito em paz com a vida”. Nada mais verdadeiro. Sem ele, ficou bem mais difícil seguir o exemplo.
22.4.11
Ennio Marchetto
Chimes of Freedom
Bob Dylan
Youssou Ndour
Far between sundown's finish an' midnight's broken toll
We ducked inside the doorways, thunder went crashing
As majestic bells of bolts struck shadows in the sounds
Seeming to be the chimes of freedom flashing
Flashing for the warriors whose strength is not to fight
Flashing for the refugees on the unarmed road of flight
And for each and every underdog soldier in the night
And we gazed upon the chimes of freedom flashing
Through the city's melted furnace, unexpectedly we watched
With faces hidden as the walls were tightening
As the echo of the wedding bells before the blowin' rain
Dissolved into the bells of the lightning
Tolling for the rebel, tolling for the rake
Tolling for the luckless, the abandoned and forsaken
Tolling for the outcast burnin' constantly at stake
And we gazed upon the chimes of freedom flashing
Through the mad mystic hammering of the wild ripping hail
The sky cracked its poems in naked wonder
That the clinging of the church bells blew far into the breeze
Leaving only bells of lightning and its thunder
Striking for the gentle, striking for the kind
Striking for the guardians and protectors of the mind
And the poet and the painter far behind his rightful time
And we gazed upon the chimes of freedom flashing
In the wild cathedral evening the rain unraveled tales
For the disrobed faceless forms of no position
Tolling for the tongues with no place to bring their thoughts
All down in taken for granted situations
Tolling for the deaf and blind, tolling for the mute
For the mistreated, mateless mother, the mistitled prostitute
For the misdemeanor outlaw chained and cheated by pursuit
And we gazed upon the chimes of freedom flashing
Even though a cloud's white curtain in a far-off corner flashed
And the hypnotic splattered mist was slowly lifting
Electric light still struck like arrows, fired but for the ones
Condemned to drift or else be kept from drifting
Tolling for the searching ones on their speechless seeking trail
For the lonesome hearted lovers with too personal a tale
And for each unharmful, gentle soul misplaced inside a jail
And we gazed upon the chimes of freedom flashing
Starry-eyed and laughing, as I recall when we were caught
Trapped by no track of hours for they hang suspended
As we listened one last time and we watched with one last look
Spellbound and swallowed till the tolling ended
Tolling for the aching whose wounds cannot be nursed
For the countless confused, accused, misused, strung-out ones and worse
And for every hung up person in the whole wide universe
And we gazed upon the chimes of freedom flashing
19.4.11
African Adventure
Aventura Africana
And the day dawned
in which my son stood
at the hub of the universe,
his wheels ready to spin.
E amanheceu o dia
em que meu filho postou-se
no centro preciso do universo,
suas engrenagens prontas para girar.
Have a wonderful time, kiddo,
and may God bless you.
(Thanks, F. Herbert, valeu)
17.4.11
Diamonds & Rust
Joan Baez
Now and then.
A love lost.
Baez & Dylan.
Now
Then
I'll be damned
Here comes your ghost again
But that's not unusual
It's just that the moon is full
And you happened to call
And here I sit
Hand on the telephone
Hearing a voice I'd known
A couple of light years ago
Heading straight for a fall
As I remember your eyes
Were bluer than robin's eggs
My poetry was lousy you said
Where are you calling from?
A booth in the midwest
Ten years ago
I bought you some cufflinks
You brought me something
We both know what memories can bring
They bring diamonds and rust
Well you burst on the scene
Already a legend
The unwashed phenomenon
The original vagabond
You strayed into my arms
And there you stayed
Temporarily lost at sea
The Madonna was yours for free
Yes the girl on the half-shell
Would keep you unharmed
Now I see you standing
With brown leaves falling around
And snow in your hair
Now you're smiling out the window
Of that crummy hotel
Over Washington Square
Our breath comes out white clouds
Mingles and hangs in the air
Speaking strictly for me
We both could have died then and there
Now you're telling me
You're not nostalgic
Then give me another word for it
You who are so good with words
And at keeping things vague
Because I need some of that vagueness now
It's all come back too clearly
Yes I loved you dearly
And if you're offering me diamonds and rust
I've already paid
15.4.11
Carta a um Banco
Cordialmente,
Nova Classe Média
"O que é assaltar um banco comparado com fundar um banco?"
Bertold Brecht
Recebi esta carta (spam) por e-mail, de um brasileiro exercendo seu 'jus esperneandi'.
Senhores Diretores do Banco Tal,
Gostaria de saber se os senhores aceitariam pagar uma taxa, uma pequena taxa mensal, pela existência da padaria na esquina de sua rua, ou pela existência do posto de gasolina ou da farmácia ou da feira, ou de qualquer outro desses serviços indispensáveis ao nosso dia-a-dia.
Funcionaria assim:
todo mês os senhores, e todos os usuários, pagariam uma pequena taxa para a manutenção dos serviços (padaria, feira, mecânico, costureira, farmácia etc). Uma taxa que não garantiria nenhum direito extraordinário ao pagante.
Existente apenas para enriquecer os proprietários sob a alegação de que serviria para manter um serviço de alta qualidade.
Por qualquer produto adquirido (um pãozinho, um remédio, uns litros de combustível, etc) o usuário pagaria os preços de mercado ou, dependendo do produto, até um pouquinho acima.
Que tal?
Pois, ontem saí de seu banco com a certeza que os senhores concordariam com tais taxas. Por uma questão de equidade e de honestidade.
Minha certeza deriva de um raciocínio simples. Vamos imaginar a seguinte cena:
eu vou à padaria para comprar um pãozinho. O padeiro me atende muito gentilmente. Vende o pãozinho. Cobra o embrulhar do pão, assim como, todo e qualquer serviço. Além disso, me impõe taxas. Uma 'taxa de acesso ao pãozinho', outra 'taxa por guardar pão quentinho' e ainda uma 'taxa de abertura da padaria'. Tudo com muita cordialidade e muito profissionalismo, claro.
Fazendo uma comparação, que talvez os padeiros não concordem, foi o que ocorreu comigo em seu banco.
Financiei um carro. Ou seja, comprei um produto de seu negócio. Os senhores me cobraram preços de mercado. Assim como o padeiro me cobra o preço de mercado pelo pãozinho.
Entretanto, diferentemente do padeiro, os senhores não se satisfazem me cobrando apenas pelo produto que adquiri.
Para ter acesso ao produto de seu negócio, os senhores me cobraram uma 'taxa de abertura de crédito' - equivalente àquela hipotética 'taxa de acesso ao pãozinho', que os senhores certamente achariam um absurdo e se negariam a pagar.
Não satisfeitos, para ter acesso ao pãozinho, digo, ao financiamento, fui obrigado a abrir uma conta corrente em seu Banco.
Para que isso fosse possível, os senhores me cobraram uma 'taxa de abertura de conta'.
Como só é possível fazer negócios com os senhores depois de abrir uma conta, essa 'taxa de abertura de conta' se assemelharia a uma 'taxa de abertura da padaria', pois só é possível fazer negócios com o padeiro depois de abrir a padaria.
Antigamente, os empréstimos bancários eram popularmente conhecidos como 'papagaios'. para liberar o 'papagaio', alguns gerentes inescrupulosos cobravam um 'por fora', que era devidamente embolsado.
Fiquei com a impressão que o banco resolveu se antecipar aos
gerentes inescrupulosos.
Agora ao invés de um 'por fora' temos muitos 'por dentro'.
Tirei um extrato de minha conta - um único extrato no mês - os senhores me cobraram uma taxa de R$ 5,00.
Olhando o extrato, descobri uma outra taxa de R$ 7,90 para a 'manutenção da conta' semelhante àquela 'taxa pela existência da padaria na esquina da rua'.
A surpresa não acabou: descobri outra taxa de R$ 22,00 a cada trimestre - uma taxa para manter um limite especial que não me dá nenhum direito. Se eu utilizar o limite especial vou pagar os juros (preços) mais altos do mundo.
Semelhante àquela 'taxa por guardar o pão quentinho'.
Mas, os senhores são insaciáveis.
A gentil funcionária que me atendeu, me entregou um caderninho onde sou informado que me cobrarão taxas por toda e qualquer movimentação que eu fizer. Cordialmente, retribuindo tanta gentileza, gostaria de alertar que os senhores esqueceram de me cobrar o ar que respirei enquanto estive nas instalações de seu banco. Por favor, me esclareçam uma dúvida: até agora não sei se comprei um financiamento ou se vendi a alma? Depois que eu pagar as taxas correspondentes, talvez os senhores me respondam informando, muito cordial e profissionalmente, que um serviço bancário é muito diferente de uma padaria. Que sua responsabilidade é muito grande, que existem inúmeras exigências governamentais, que os riscos do negócio são muito elevados etc e tal. E, ademais, tudo o que estão cobrando está devidamente coberto por lei, regulamentado e autorizado pelo Banco Central.
Sei disso. Como sei, também, que existem seguros e garantias legais que protegem seu negócio de todo e qualquer risco. Presumo que os riscos de uma padaria, que não conta com o poder de influência dos senhores, talvez sejam muito mais elevados.
Sei que as normas que regem os bancos são legais.
Mas, também sei que são imorais.
Ou como dizia meu pai: "o negócio do banqueiro é ganhar dinheiro. Se a gente deixa (isto é, aceitamos as leis como são, não chiamos e as mudamos), eles ganham."
Nota: quando abri minha primeira conta em banco, não só não havia taxas como recebia juros pelo dinheiro que estava na conta corrente. As leis mudam sim, só que no caso, mudaram para pior.
14.4.11
O Brasil Através das Três Américas
A Carretera Panamericana por
Beto Braga
no Programa do
Jô Soares
Beto Braga sendo entrevistado a respeito do livro que escreveu descrevendo a saga dos três intrépidos brasileiros que projetaram e abriram a Carretera Panamericana - uma das maiores estradas do mundo - que vai da Argentina até os Estados Unidos, passando por todos os países da América Latina, hoje com 49.000 kilometros.
Tive o prazer e o privilégio de traduzir o livro para o Inglês e fazer minha pequena parte na história escrita por esses três brasileiros, verdadeiros bandeirantes do século vinte.
No processo fiquei muito amigo do autor que, acreditem, vai refazer a viagem histórica começando neste sábado, dia 16 de abril.
A aventura continua.
Aguardem os próximos capítulos.
The Galaxy Song
Monty Python
Whenever life gets you down, Mrs. Brown
And things seem hard or tough
And people are stupid, obnoxious or daft
And you feel that you've had quite enough
Just remember that you're standing on a planet that's evolving
And revolving at nine hundred miles an hour
That's orbiting at nineteen miles a second, so it's reckoned
A sun that is the source of all our power
The sun and you and me and all the stars that we can see
Are moving at a million miles a day
In an outer spiral arm, at forty thousand miles an hour
Of the galaxy we call the 'milky way'
Our galaxy itself contains a hundred billion stars
It's a hundred thousand light years side to side
It bulges in the middle, sixteen thousand light years thick
But out by us, it's just three thousand light years wide
We're thirty thousand light years from galactic central point
We go 'round every two hundred million years
And our galaxy is only one of millions of billions
In this amazing and expanding universe
The universe itself keeps on expanding and expanding
In all of the directions it can whizz
As fast as it can go, the speed of light, you know
Twelve million miles a minute and that's the fastest speed there is
So remember, when you're feeling very small and insecure
How amazingly unlikely is your birth
And pray that there's intelligent life somewhere up in space
'Cause there's bugger all down here on Earth
Adivinha
Martins d'Alvarez
João Villaret
13.4.11
24 Hours in Texas
Boltron
Trilha: "She's Got You" com Patsy Cline
11.4.11
A Thousand Kisses Deep
Leonard Cohen
"You came to me this morning
And you handled me like meat
You'd have to be a man to know
How good that feels, how sweet
My mirror twin, my next of kin
I'd know you in my sleep
And who but you would take me in
A thousand kisses deep
I loved you when you opened
Like a lily to the heat
You see I'm just another snowman
Standing in the rain and sleet
Who loved you with his frozen love
His second-hand physique
With all he is and all he was
A thousand kisses deep
I know you had to lie to me
I know you had to cheat
To pose all hot and high
Behind the veils of sheer deceit
Our perfect porn aristocrat
So elegant and cheap
I'm old but I'm still into that
A thousand kisses deep
I'm good at love, I'm good at hate
It's in between I freeze
Been working out but it's too late
(It's been too late for years)
But you look good, you really do
They love you on the street
If you were here I'd kneel for you
A thousand kisses deep
The autumn moved across your skin
Got something in my eye
A light that doesn't need to live
And doesn't need to die
A riddle in the book of love
Obscure and obsolete
And witnessed here in time and blood
A thousand kisses deep
But I'm still working with the wine
Still dancing cheek to cheek
The band is playing Auld Lang Syne
But the heart will not retreat
I ran with Diz, I sang with Ray
I never had their sweet
But once or twice they let me play
A thousand kisses deep
I loved you when you opened
Like a lily to the heat
You see I'm just another snowman
Standing in the rain and sleet
Who loved you with his frozen love
His second-hand physique
With all he is and all he was
A thousand kisses deep
But you don't need to hear me now
And every word I speak
It counts against me anyhow
A thousand kisses deep"
Algum Lugar
Robert Creeney
Régis Bonvicino
João Almino
Resolvi, eu
encontrei em minha vida
um centro e o finquei.
É a casa,
árvores além, um limite
de vista que a contorna.O tempo
chega só como algum
vento, um pouco suspiroamortecido. E
se a vida não fosse?
quando algo estava paraacontecer, se eu o
tivesse fincado,
tivesse, insistente.Nada existe que eu seja,
nada não. Um entre
lugar, eu sou. Sou
mais do que idéia, me-
nos do que idéia. Uma casa,
ventos, mas uma distância- algo solto no vento,
sentindo o tempo como aquela vida,
anda para as luzes que ele deixou.
10.4.11
Piada Particular
Sergio Pinheiro Lopes
A madameria do Morumbi
É tudo Tucson
Todas a toda
Tem
Tiveram ou
Querem ter
De tudo
Um um
Treze de Outubro
Angélica Freitas
Publicado hoje na revista sãopaulo da FSP por Fabrício Corsaletti.
escrever um poema sem calor
em são paulo
um poema sem ação: sem
carros, sem avenida paulista
quando eu morava na augusta,
escrevia poemas sobre a augusta
a augusta não me deixava dormir
(escrever um poema em que se
durma na augusta
e sobretudo, escrever um
poema sobre dormir
sem você.) esta é a primavera
fajuta da delicadeza
(não consigo terminar este
poema).
Ceràmiques Guzmán
(Catalán)
Manel
No esperava una noia tan bonica,
darrere d'aquest taulell.
El teu estil em fascina.
On has estat tot aquest temps?
I aprofitaré, ara que et gires,
per donar gràcies al Cel,
i per passar-te revista,
dels talons fins els cabells.
No t'espantis però, ara, voldria dir-te,
que ho ets tot per mi i que jo puc ser tot teu.
Vull sentir-te explicar la teva vida,
els teus somnis, i, els teus grans secrets.
I tornes i em dediques el més gran dels teus somriures,
i emboliques el paquet,
i les teves mans expertes,
l'adornen amb un llacet.
I congelo el moment quan les nostres mans es creuen,
a l'intercanviar el bitllet,
però els teus ulls estàn nerviosos,
has d'atendre altres clients.
Però, si dubtes, podries atrevir-te
a sortir amb mi per fer un cigarret.
Per si penses que podria servir-te,
jo m'esperaré per aquí encara algun temps.
Sabedorias Secretas
O coração pensa constantemente. Isto não pode ser mudado. Mas os movimentos do coração - isto é, os pensamentos de uma pessoa - devem se restringir à situação imediata.
Todo pensamento que vai além disso somente machuca o coração.
9.4.11
Sabedorias Secretas
Friedrich W. Nietzsche
Isto eu fiz, diz minha memória.
Isto eu não posso ter feito, diz meu orgulho e fica irredutível.
Finalmente a memória cede.
8.4.11
Ela
Sergio Pinheiro Lopes
Ela vem vindo.
Sei disso pelos sinais.
Na primeira vez foi um relance. Estava distraído e depois fiquei me perguntando se não tinha sido imaginação. Uma figura morena, fugidia, passando numa fração de segundo pelo canto do olho.
Depois achei tê-la visto no supermercado. Daquelas coisas: entrava no estacionamento quando ela saia, de novo, muito pouco tempo para ter certeza. Estava loira, de branco e azul, rabo-de-cavalo e um ar de quem acabara de sair do banho. Parecia a primavera.
Na vez seguinte, senti apenas o perfume. Estávamos no mesmo escuro de cinema e não podíamos estar a muitas fileiras de distância. Procurei-a, nas cenas mais claras do filme, mas não houve jeito. Havia muita gente, acho.
Ou então ainda não era hora.
Outro dia vi-a pela primeira vez de frente. Tinha acabado de tomar um espresso e estava acendendo um cigarro quando a vi. Uma blusa simples, cabelos avermelhados, lisos, calça jeans. Estava quase entrando no lado do passageiro de um carro enquanto alguém – talvez sua mãe, talvez uma amiga – abria a porta do motorista. Parei logo adiante para vê-la de novo. Seu olhar cruzou com o meu por um instante quando o carro passou.
Foi ali que tive certeza absoluta. Estava claro. Sinais inconfundíveis: ela vinha vindo.
Às vezes, de manhã bem cedinho, quando o ar frio está mordendo e o dia parece novinho em folha, fico imaginando como ela será. Que estranhas manias terá, quais hábitos de menina, se aperta o tubo no fim ou no meio. Será que sai do banho com a cabeça enrolada na toalha, como num filme, ou será que tem cabelos curtos e sai pra rua com eles ainda molhados?
Estou ansioso para saber sua cor favorita, qual filme que mais a fez chorar e se alguém já lhe partiu o coração.
Quero saber se têm irmãos, como se dá com os pais, se já sabe o que vai ser de sua vida.
Mas principalmente, gostaria de saber se já percebeu, se já viu os sinais também. Se me pressente.
Eu por mim já sei, não tenho mais dúvidas:
Ela vem vindo.
7.4.11
Sabedorias Secretas
A terra está em degeneração. Há sinais de que a civilização chega ao fim. O suborno e a corrupção campeiam. A violência é onipresente. Os filhos já não respeitam os pais, nem lhes obedecem.
6.4.11
For No Clear Reason
Robert Creeley
I dreamt last night
the fright was over, that
the dust came, and then water,
and women and men, together
again, and all was quiet
in the dim moon’s light.
A paean of such patience—
laughing, laughing at me,
and the days extend over
the earth’s great cover,
grass, trees, and flower-
ing season, for no clear reason.
Sabedorias Secretas
Beat Generation
Robert Creeley
No geral, quanto mais forte é a percepção da ilusão melancólica e da raiva (o passado que ficou para trás, a sabedoria que deveria compensá-lo mas não vem), melhor é a escrita, ou seja, as pessoas envelhecem, mas aprendem pouco.
5.4.11
Blogosfeira
Sergio Pinheiro lopes
Tenho ido, quase todas as manhãs, à blogosfeira.
Assim que recém-chegada a manhã, parto em busca do que está dando sopa, em termos de cultura e entretenimento, na produção humana, em blogs, sítios genéricos, sítios de vídeo e de poesia, de literatura e pintura e nem sei mais o que. Do bem-feito ao bem-sacado, na minha modesta opinião, é claro, nas mil performances artísticas possíveis de serem acessadas e curtidas no vasto mundo da informação disponível hoje em dia.
Vivemos em um mundo ‘Koyaanisqatsi’, se é que me entendem, tudo em velocidade alucinante, novas tecnologias pipocando aqui e ali, quase que diariamente.
Além disto, de uns tempos para cá, a mídia, mais uma vez, se tocou que podia cevar no medo e pânico ancestral que temos do fim do mundo. Agora é o aquecimento global, a ameaça atômica, e as guerras dos anos 10. Para não falar neste 20 aí que, para alguns, já é apavorante em si mesmo. Há um receio de extinção no ar.
Isto está em toda parte, muito embora o mundo já tenha acabado diversas vezes ao longo da história, como bem retrata Otto Friedrich em seu “Fim do Mundo”, publicado no Brasil pela Record. Do saque de Roma a Auschwitz, da Santa Inquisição ao terremoto de Lisboa.
Quando é chegada a hora e a vez de enfrentar a própria loucura, sempre parece ser a última.
Percebe-se – talvez até incentivada pelo estresse vigente – uma ansiedade, uma inquietação nos olhares, nos gestos nervosos e nos inconscientes das pessoas.
No entanto, é a primeira vez na história que está disponível, ao alcance das mãos, literalmente, tal quantidade de informação.
Cinqüenta séculos de cultura na ponta dos seus dedos.
Mas, de volta à prosaica blogosfeira. A dificuldade é encontrar a informação, saber quais perguntas fazer, ou como na piada:
‘Se o amor é a resposta, qual diabos é a pergunta?’
Mas, arrogante que sou, me aventuro à caça de tesouros no que chamo de blogosfeira. E, como em toda feira, nem tudo são achados, há muita xepa. Mas quando os encontro, quando considero que é do interesse dos que acessam meu blog, embora não saiba exatamente quem são essas pessoas, os posto.
Assim vou construindo, também, uma história pessoal, um registro dos muitos belos e dos muitos veros que encontro pelo caminho.
3.4.11
Homens & Mulheres
Homem é assim: encontra o outro e diz que ele tá gordo, careca, e provavelmente broxa.
Vira as costas e diz: amo esse cara.
Mulher é assim: encontra a outra e elogia o cabelo, a blusa e festeja os sapatos liiindos!
Vira as costas e diz: odeio essa fingida.
Pérolas Portuguesas
Edson Athayde
Mario Prata
Fuçando em recortes de jornal - hábito que já tive mais agudo - dei de encontro com uma crônica do Mario Prata, publicada no Estadão em agosto de 2000. Trata-se de pérolas recolhidas em jornais portugueses por Edson Athayde, publicadas no prestigioso Diário de Notícias de Portugal e que Mario Prata republica. Estou certo que se conseguiria equivalentes em quaisquer países, mas que é divertido que tenham saído em Portugal, lá isso é.
Para alegrar o domingo :
- "Os antigos prisioneiros terão a alegria de se reencontrar para lembrar os anos de sofrimento."
- "Ferido no joelho, ele perdeu a cabeça."
- "A polícia e a justiça serão duas mãos de um mesmo braço."
- "O acidente fez um total de um morto e três desaparecidos. Teme-se que não haja vítimas."
- "O acidente foi no tristemente célebre Retângulo das bermudas."
- "Este ano, as festas do 4 de setembro coincidem exatamente com a data de 4 de setembro, que é a data exata, pois o 4 de setembro é um domingo."
- "Quatro hectares de trigo foram queimados. A princípio trata-se de um incêndio."
- "O velho reformado, antes de apertar o pescoço de sua mulher até a morte, suicidou-se."
- "No corredor do hospital psiquiátrico, os doentes corriam como loucos."
- "Ela contraiu a doença na época em que ainda estava viva."
- "A conferência sobre prisão de ventre foi seguida de farto almoço."
- "O aumento do desemprego foi de 0% em Novembro."
- "As circunstâncias da morte do chefe de iluminação permanecem rigorosamente obscuras."
- "O presidente de honra é um septuagenário de 81 anos."
- "É uma bela obra, de onde parecia exalar toda a fria tristeza da estepe gelada. Foi executada com um calor magistral."
- "Depois de algum tempo, a água corrente foi instalada no cemitério, para a satisfação dos habitantes."
- "Esta nova terapia traz esperanças a todos aqueles que morrem de cancro (= câncer) a cada ano."
- "Um surdo-mudo foi morto por um mal-entendido."
- "Há muitos redatores que, para quem veio do nada, são muito fiéis às suas origens."
- "Os nossos leitores nos desculparão por este erro indesculpável."
1.4.11
Sabedorias Secretas
Mestre não é quem sempre ensina,
mas quem de repente aprende.
Guimarães Rosa