28.7.11

 

Última Rodada
Sergio Pinheiro Lopes





Segunda para terça-feira, 20 de julho de 2004. 03:45 da manhã:
Saio do bar, logo antes da ponte que passa sobre a avenida. O carro, estacionado praticamente na frente do bar, foi deixado com a luz interna acesa e está sem bateria. Peço a uns manobristas, parados conversando em frente ao bar, que me ajudem a empurrá-lo para que pegue no tranco. Enquanto isso, um desconhecido bate num carro que estava passando, e este é desviado para rente à traseira do meu veículo e atropela, com violência, uma das pessoas que estava me ajudando. Esse homem é arremessado à cerca de dez metros de distância. Antes que o corpo caia à minha frente, vejo de relance um veículo pequeno e de cor escura que desaparece em alta velocidade. A visão do corpo que cai impede que eu veja a placa. Na colisão, o automóvel agressor perde seu espelho retrovisor direito que fica na pista.

O resgate é chamado. Vários minutos depois, a vítima é levada para o PS do Hospital das Clínicas, onde é encaminhada, com politraumatismo, à UTI.



Domingo, 18 de julho de 1993.
12:30:
Meu pai morre atropelado na esquina da alameda Lorena com a avenida 9 de Julho.




Domingo, 18 de julho de 2004.
11:30:
Aniversário de 11 anos da morte de papai.

Fomos, minha mãe, meu irmão e eu, à missa que meu pai havia assistido em seu último dia. Assistimos em silêncio sentido, a mesma cerimônia. Como todos os anos, logo de manhãzinha eu tinha ido colocar uma rosa em seu túmulo.



Segunda para terça-feira, 20 de julho de 2004. 03:31 da manhã:
Recebo o ticket do Mastercard: 14 reais.

Assino e devolvo.
Ainda não sabia, mas tinha acabado de pagar meu último uísque.

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