30.8.11
Carta
Sergio Pinheiro Lopes
Caro S.,
Gostoso receber uma carta sua. Longa como as cartas costumavam ser.
Lembro de trocar cartas com o C., quando estava na Inglaterra e ele ficou no meu apartamento da Alves tomando conta.
Ele assinava Leo Nufas e chegou até a me 'apresentar' um sujeito que morava em Swiss Cottage e que seria um bom contato. Fui de Whaddon, Herts., perto de Cambridge, onde morava, até a tal da estação em Londres para tanto. Deu tudo certo.
Havia troca de cartas com meu pai, minha mãe, meu irmão e outros.
Bons tempos. Ainda tenho na estante minha primeira máquina de escrever, uma Remington portátil, dada pelo meu pai quando eu tinha quatorze anos. Por conta dela nunca fui bom de caligrafia.
Escrevia tudo a máquina. Tenho duas pastas verdes e gordas com tudo o que escrevi na adolescência.
Ano passado, reli tudo na esperança vã de achar algo que prestasse.
Nada, nem uma linhazinha que fosse. Tudo muito ruim.
Usava uma fita de cor verde. Lembro de passar horas escrevendo adolescências semi-épicas.
Sempre fui sentimental, sempre gostei de andar na chuva, sempre fui até a esquina e acordei na Espanha.
Eu raramente leio ficção hoje em dia, idos são meus dias de Sci-Fi.
Fico com história, e nesses útimos meses, estou indo de biologia e arqueologia como as ciências que descobrem porque sociedades passadas falharam e foram extintas, como a nossa corre grande risco de sê-lo. O petróleo deve acabar entre 2020 e 2040 e, com ele, nossa civilização.
Dá até para achar que, muito provavelmente, foi bom negócio fumar durante 42 anos, não estarei aqui para ver e viver a débâcle.
Talvez a humanidade saia do outro lado, depois da violência e da mortandade, mas não gostaria de passar por isso.
Como sei que, estivesse eu em Dachau ou um destes, na II Guerra, teria me jogado na cerca elétrica.
O que é necessário fazer para sobreviver situações extremas, me tornaria um ser humano irreconhecível para mim mesmo.
Prefiro ir-me a virar um Pasqualino Sete Belezas.
Mas enquanto isso não acontece, vou de valsa nesse baile da Ilha Fiscal. Com meu gato, meus livros e meus banhos de chuva.
E eventualmente acordando na Espanha.
Maestro S., mis respetos; y a vosotros, santitos de mierda,
Olé!
Lembro de trocar cartas com o C., quando estava na Inglaterra e ele ficou no meu apartamento da Alves tomando conta.
Ele assinava Leo Nufas e chegou até a me 'apresentar' um sujeito que morava em Swiss Cottage e que seria um bom contato. Fui de Whaddon, Herts., perto de Cambridge, onde morava, até a tal da estação em Londres para tanto. Deu tudo certo.
Havia troca de cartas com meu pai, minha mãe, meu irmão e outros.
Bons tempos. Ainda tenho na estante minha primeira máquina de escrever, uma Remington portátil, dada pelo meu pai quando eu tinha quatorze anos. Por conta dela nunca fui bom de caligrafia.
Escrevia tudo a máquina. Tenho duas pastas verdes e gordas com tudo o que escrevi na adolescência.
Ano passado, reli tudo na esperança vã de achar algo que prestasse.
Nada, nem uma linhazinha que fosse. Tudo muito ruim.
Usava uma fita de cor verde. Lembro de passar horas escrevendo adolescências semi-épicas.
Sempre fui sentimental, sempre gostei de andar na chuva, sempre fui até a esquina e acordei na Espanha.
Eu raramente leio ficção hoje em dia, idos são meus dias de Sci-Fi.
Fico com história, e nesses útimos meses, estou indo de biologia e arqueologia como as ciências que descobrem porque sociedades passadas falharam e foram extintas, como a nossa corre grande risco de sê-lo. O petróleo deve acabar entre 2020 e 2040 e, com ele, nossa civilização.
Dá até para achar que, muito provavelmente, foi bom negócio fumar durante 42 anos, não estarei aqui para ver e viver a débâcle.
Talvez a humanidade saia do outro lado, depois da violência e da mortandade, mas não gostaria de passar por isso.
Como sei que, estivesse eu em Dachau ou um destes, na II Guerra, teria me jogado na cerca elétrica.
O que é necessário fazer para sobreviver situações extremas, me tornaria um ser humano irreconhecível para mim mesmo.
Prefiro ir-me a virar um Pasqualino Sete Belezas.
Mas enquanto isso não acontece, vou de valsa nesse baile da Ilha Fiscal. Com meu gato, meus livros e meus banhos de chuva.
E eventualmente acordando na Espanha.
Maestro S., mis respetos; y a vosotros, santitos de mierda,
Olé!
Besos,
Sergio