24.11.11
Alquimia
Sergio Pinheiro Lopes
E é nas salas
e é no mundo
e é o tempo que passa
e foi só um segundo
e choram as lágrimas
e sorriem os sorrisos,
e passam na vida
e falam da sorte
e tem medo da morte
e jogam na sena
e está tudo certinho
e é jogo de cena
e não tão nem aí
e não mexam comigo
e vai indo na frente
e não tem perigo
e a raiva é muita
e a inveja é tanta
e andam na rua
e não mudam de assunto
e ficam na sua
e é queijo e é presunto
e tem prestação
e esquecem das coisas
e a todo momento
é só sentimento
e quem tem força segura
e quem não tem se pendura
e se jogam no chão
e torcem domingo
e não andam dormindo
e sei lá, dá um tempo
e vão de edredom
e tem chocolate
e fazem amor
e reclamam da dor
e sonham os milhões
e passeiam os cães
e gritam no trânsito
e temem dezembro
e esperam o verão
e chove demais
e tudo cansa demais
e tem o vazio
e suam, e malham
e sentem calor
e as férias não chegam
e não sentem sabor
e é nas salas
e é no mundo
e é o tempo que passa
e foi só um segundo
e tem suas mágoas
e a culpa é dos outros
e nada é nada
e então dão risada
e então tiram uma
e levam na cara
e desculpe a pisada
e se sentem ridículos
e choram quietinhos
e os cinco sentidos
e querem um aumento
e a vida é um tormento
e parar nem pensar
e querem um gole
e não se perde a memória
e assim dá azar
e pegam metrô
e tomam remédio
e vão fazer compras
e são só seis dezenas
e a todo momento
é só sentimento
e quem tem força segura
e quem não tem se pendura
e falam dos filhos
e traem as mulheres
e são outra pessoa
e estão numa boa
e elas falam de homem
e sentem azia
e às vezes não são
e muitas não dão
e as saudades da tia
e bem que te disse
e eu não sabia
e choram e riem
e pedem um suco
e pagam o seguro
e aqui é melhor não
e acendem um cigarro
e tiram um sarro
e tem escassa memória
e qual é o fim da história
e pedem pra Deus
e é nas salas
e é no mundo
e é o tempo que passa
e foi só um segundo
e tomam chuva
e falam dos seus
e trocam de mal
e a maldita empregada
e perdem o ônibus
e não fazem salada
e estouram o cartão
e vão ganhar um milhão
e largam o emprego
e vão com o fluxo
e deixa pra lá
e foi só um susto
e entram a esquerda
e aí, chega mais
e já estou por aqui
e se perdem
e se acham
e não te contei
e ficam no muro
e trancam a casa
e a todo momento
é só sentimento
e quem tem força segura
e quem não tem se pendura
e é o porto seguro
e fecham o gás
e olham pra trás
e querem sumir
e não vão desistir
e somos assim
e falem de mim
e vai-se levando
e sorrindo
e cantando
e ganham
e perdem
e todo mundo se queixa
e ninguém perde a deixa
e é tudo um plágio
e é do Rino
e é do Biaggio
e não mete a mão
e desse jeito não dá
e eu não, violão
e é nas salas
e é no mundo
e é o tempo que passa
e foi só um segundo