18.1.12

 

Regras, Cortesia e Eficiência
Sergio Pinheiro Lopes



Normalmente uso o carro duas ou três vezes por dia em percursos que raramente ultrapassam 15 quilômetros.


Uma ocasião, estava me sentindo preso atrás de uma senhora (vi que era uma senhora mais para a frente), que andava devagar e ocupava as duas faixas de rolagem, enfim, uma situação comum no trânsito.


Sei dizer que, assim que pude, a ultrapassei, o transito estava livre e fui me embora. Uns dois quilômetros depois, ao parar num semáforo no início da Heitor Penteado, olhei para o lado e batata!, lá estava a senhora parada ao meu lado.


Comecei a refletir sobre o trânsito já faz algum tempo. E esse evento com a senhora fez uma diferença no meu refletir. Sabia, é claro, que o meu humor tinha uma grande influência no meu comportamento no trânsito. Notei também que dentro de um carro, meu ego fica maior. Exceto egocentrismos totalmente superficiais, como a marca, a potência, o modelo ou o ano do carro, que é pura semostração, meu ego passa a ocupar na rua o espaço de um carro, isto é, uns tantos metros quadrados, ao invés de apenas o espaço da minha pessoa. E não só isso, meu ego fica encapsulado dentro de um espaço que sinto como 'meu'. Onde, na minha cabeça maluca, sou eu a decidir o que fazer, quando e como.

Afora o fato de que um carro anda em uma velocidade muito superior a de um ser humano caminhando. Em um carro percebo muito menos as coisas que acontecem ao meu redor, na rua, e presto muito mais atenção ao universo específico dos automóveis, o que além de inevitável, é necessário para evitar acidentes. Pensei, por exemplo, que de uns anos para cá, ficou imprescindível dar seta antes de mudar de faixa ou de fazer uma conversão. Isso porque há muitos motoboys que, trafegando entre os carros, podem sofrer graves acidentes se eu mudo de pista sem sinalizar. Para não mencionar os outros motoristas que também merecem a mesma sinalização para melhor se deslocarem. Mas acontece que eu com meu ego exagerado, achava que podia decidir isso caso a caso. Que se fosse à noite e não houvesse trânsito, vamos dizer, dar a seta poderia ser dispensável. Ora, como sei que meu comportamento ao trânsito varia com meu humor, isso pode perfeitamente resultar em uma distração ou esquecimento meu e aí, já viu: posso causar um acidente. Ficou claríssimo então para mim que é muito mais razoável automatizar a prática de sinalizar minha direção. Assim, esse risco ao menos, desaparece.

Assim é também com todas as outras regras. A velocidade, por exemplo, que é de no máximo 60 Km/h na maioria das avenidas, com a exceção de algumas que podem ter limites de 70 Km/h ou até de 90 Km/h, em algumas vias expressas, se obedecidas, não só previnem acidentes por permitir um tempo razoável de reação em caso de imprevistos, como auxiliam no fluxo do trânsito, pois ficam todos em velocidades mais compatíveis entre si, proporcionando uma maior fluidez no movimento.

Ou não parar em lugares e horários proibidos. Esse comportamento, obviamente diminui o espaço de circulação nas ruas e, conseqüentemente, dificulta o fluxo natural dos veículos. Um único motorista parado em uma faixa onde o estacionamento é proibido, interrompe o fluxo e aumenta o trânsito Fila dupla, naturalmente, nem pensar.

Quando um carro à minha frente, põe seta sinalizando que quer mudar de faixa à minha frente, se acelero e ocupo o espaço impedindo-o de fazê-lo, duas coisas certamente acontecem: uma é que acelero e logo tenho que frear, pois só queria ocupar o espaço e não havia nem o espaço, muito menos a necessidade de aumentar a velocidade. A outra é que o outro motorista é interrompido em seu movimento e tem de frear, olhar no retrovisor e esperar que o próximo motorista seja mais razoável. Esse movimento atrapalha o fluxo de veículos atrás dele e, como se sabe, o trânsito funciona como ondas, fazendo marolas a perder de vista.

Eu suponho que todas essas coisas sejam verificáveis e mensuráveis pelos técnicos do assunto. E tenho a impressão de que a eficiência do trânsito melhoraria muito se essas mudanças de comportamento fossem adotadas por todos.

Mas o que posso garantir é que as mudanças no meu comportamento no trânsito melhoraram, e muito, a minha eficiência no ir e vir. Parece a mim que chego mais rápido, mais calmamente e mais eficientemente aos lugares para onde vou. Além de me tornar uma pessoa mais civilizada, pois essas mudanças de comportamento transbordam para outros aspectos da minha vida.


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