28.2.07

 

Dilema de Lula:


Independência ou Marta!

 

Papadizi


'

 

Amizade
Friendship


Não faltam amigos no mundo, falta amizade.

***
There is no lack of friends in the world, what's lacking is friendship.

 

Poemas favoritos LXIV
Favorite poems LXIV


A Rua dos Cataventos
Mario Quintana

Da vez primeira em que me assassinaram,
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha.
Depois, a cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha.

Hoje, dos meu cadáveres eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada.
Arde um toco de Vela amarelada,
Como único bem que me ficou.

Vinde! Corvos, chacais, ladrões de estrada!
Pois dessa mão avaramente adunca
Não haverão de arracar a luz sagrada!

Aves da noite! Asas do horror! Voejai!
Que a luz trêmula e triste como um ai,
A luz de um morto não se apaga nunca!
***
The Second Coming
W. B. Yeats


Turning and turning in the widening gyre

The falcon cannot hear the falconer;
Things fall apart; the centre cannot hold;
Mere anarchy is loosed upon the world,
The blood-dimmed tide is loosed, and everywhere
The ceremony of innocence is drowned;
The best lack all convictions, while the worst
Are full of passionate intensity.

Surely some revelation is at hand;
Surely the Second Coming is at hand.
The Second Coming! Hardly are those words out
When a vast image out of Spiritus Mundi
Troubles my sight: a waste of desert sand;
A shape with lion body and the head of a man,
A gaze blank and pitiless as the sun,
Is moving its slow thighs, while all about it
Wind shadows of the indignant desert birds.
The darkness drops again but now I know
That twenty centuries of stony sleep
Were vexed to nightmare by a rocking cradle,
And what rough beast, its hour come round at last,
Slouches towards Bethlehem to be born?

27.2.07

 

Ajuda
Help


Ajuda lerda não é ajuda.

***
Slow help is no help.

 

Poemas favoritos LXIII
Favorite poems LXIII


Sujeito Indireto

Paulo Leminski

Quem dera eu achasse um jeito
de fazer tudo perfeito,
feito a coisa fosse o projeto
e tudo já nascesse satisfeito.
Quem dera eu visse o outro lado,
o lado de lá, lado meio,
onde o triângulo é quadrado
e o torto parece direito.
Quem dera um ângulo reto.
Já começo a ficar cheio
de não saber quando eu falto,
de ser, mim, indireto sujeito.
***
Hard Feelings
Paulo Leminski

Oceans,
emotions,
ships, ships,
and other relationships,
keep us going
through the fog
and wandering mist.

What is it
that I missed?

26.2.07

 

Amigos & inimigos
Friends & foes


Fale bem de seus amigos e não fale nada dos seus inimigos.

***
Speak well of your friends and say nothing of your enemies.

 

Poemas favoritos LXII
Favorite poems LXII


Saudosa Amnésia

Paulo Leminski

Memória é coisa recente.
Até ontem, quem lembrava?
A coisa veio antes,
ou, antes, foi a palavra?
Ao perder a lembrança,
grande coisa não se perde.
Nuvens, são sempre brancas.
O mar? Continua verde.
***
Piute Creek
Gary Snyder

One granite ridge
A tree, would be enough
Or even a rock, a small creek,
A bark shred in a pool.
Hill beyond hill, folded and twisted
tough trees crammed
In thin stone fractures
A huge moon on it all, is too much.
The mind wanders. A million
Summers, night air still and the rocks
Warm. Sky over endless mountains.
All the junk that goes with being human
Drops away, hard rock wavers
Even the heavy present seems to fail
This bubble of a heart.
Words and books
Like a small creek off a high ledge
Gone in the dry air.

25.2.07

 

Verdade
Truth


A verdade nunca prejudica uma causa que é justa.

***
Truth never harms a just cause.

 

Poemas favoritos LXI
Favorite poems LXI


Segredo

Paulo Leminski

Eu, hoje, acordei mais cedo
e, azul, tive uma idéia clara.
Só existe um segredo.
Tudo está na cara.
***
How Poetry Comes To Me
Gary Snyder

It comes blundering over the
Boulders at night, it stays
Frightened outside the
Range of my campfire
I go to meet it at the
Edge of the light

24.2.07

 

Contraceptivos
Contraceptives


Os contraceptivos devem ser usados em todas as ocasiões concebíveis.

***
Contraceptives should be used in all conceivable occasions.

 

Poemas favoritos LX
Favorite poems LX


Desaparecença

Paulo Leminski

Nada com nada se assemelha.
Qual seria a diferença
entre o fogo do meu sangue
e esta rosa vermelha?
Cada coisa com seu peso,
cada quilômetro, seu quilo.
De que é que adianta dizê-lo,
isto, sim, é como aquilo?
Rudo o mais que acontece,
nunca antes sucedeu.
E mesmo que sucedesse,
acontece que esqueceu.
Coisas não são parecidas,
nenhum paralelo possível.
Estamos todos sozinhos.
Eu estou, tu estás, eu estive.
***
Riprap
Gary Snyder

Riprap: a cobble of stone laid on steep,
slick rock to make a trail for horses in
the mountains.

Lay down these words
before your mind like rocks.
Placed solid, by hands
In choice of place, set
before the body of the mind
in space and time:
Solidity of bark, leaf, or wall
riprap of things:
Cobble of milky way,
straying planets,
these poems, people,
lost ponies with
Dragging saddles
and rocky sure-foot trails.
The worlds like an endless
four-dimensional
Game of Go.
Ants and pebbles
in the thin loam, each rock a word
a creek-washed stone
granite: ingrained
with torment of fire and weight.
Crystal and sediment linked hot
all change, in thoughts,
As well as in things.

23.2.07

 

Ser
To be


Aquilo que é dispensa afirmação.

***
What is needs not to be stated.

 

Poemas favoritos LIX
Favorite poems LIX


O Rei Demétrio

Konstantinos Kaváfis
(Tradução de José Paulo Paes)

Ao ser deixado pelos macedônios,
os quais demonstraram preferir a Pirro,
o rei Demétrio (que a alma tinha
grande) de modo algum – assim disseram –
como rei comportou-se. Foi tirar
as vestimentas de ouro, jogou longe
os calçados de púrpura e, envergando
roupas simples, partiu logo em seguida.
Portou-se exatamente como o ator
que, uma vez o espetáculo acabado,
troca de roupa e vai-se logo embora.
***
King Dimitrios
C. P Cavafy
(Translated by Edmund Keeley and Philip Sherrard)

Not like a king but an actor he put
on a gray cloak instead of his royal
one and secretly went away.

Plutarch, Life of Dimitrios

When the Macedonians deserted him
and showed they preferred Pyrrhos,
King Dimitrios (a noble soul) didn't behave
– so they said –
at all like a king.
He took off his golden robes,
threw away his purple buskins,
and quickly dressing himself
in simple clothes, he slipped out–
just like an actor who,
the play over,
changes his costume and goes away.

22.2.07

 

Livros
Books


Uma pessoa que não lê livros não tem nenhuma vantagem sobre uma pessoa analfabeta.

***
A person who doesn't read books has no advantage over an illiterate person.

 

Poemas favoritos LVIII
Favorite poems LVIII


À Espera dos Bárbaros

Konstantinos Kaváfis
(Tradução de José Paulo Paes)

O que esperamos na Ágora reunidos?

É que os bárbaros chegam hoje.

Por que tanta apatia no senado?
Os senadores não legislam mais?

É que os bárbaros chegam hoje.
Que leis hão de fazer os senadores?
Os bárbaros que chegam as farão.

Por que o imperador se ergueu tão cedo
e de coroa solene se assentou
em seu trono, à porta magna da cidade?

É que os bárbaros chegam hoje.
O nosso imperador conta saudar
o chefe deles. Tem pronto para dar-lhe
um pergaminho no qual estão escritos
muitos nomes e títulos.

Por que hoje os dois cônsules e os pretores
usam togas de púrpura, bordadas,
e pulseiras com grandes ametistas
e anéis com tais brilhantes e esmeraldas?
Por que hoje empunham bastões tão preciosos,
de ouro e prata finamente cravejados?

É que os bárbaros chegam hoje,
tais coisas os deslumbram.

Por que não vêm os dignos oradores
derramar seu verbo como sempre?

É que os bárbaros chegam hoje
e aborrecem arengas, eloquências.

Por que subitamente esta inquietude?
(Que seriedade nas fisionomias!)
Por que tão rápido as ruas se esvaziam
e todos voltam para casa preocupados?

Porque é já noite, os bárbaros não vêm
e gente recém-chegada das fronteiras
diz que não há mais bárbaros.

Sem bárbaros o que será de nós?
Ah! Eles eram uma solução.
***
Waiting for the Barbarians
C. P. Cavafy
(Translated by Edmund Keeley and Philip Sherrard)

What are we waiting for, assembled in the forum?

The barbarians are due here today.

Why isn't anything happening in the senate?
Why do senators sit there without legislating?

Because the barbarians are coming today.
What laws can the senators make now?
Once the barbarians are here, they'll do the legislating.

Why did our emperor get up so early,
and why is he sitting at the city's main gate
on his throne, in state, wearing the crown?

Because the barbarians are coming today
and the emperor is waiting to receive their leader.
He has even prepared a scroll to give him,
replete with titles, with imposing names.

Why have our two consuls and praetors come out today
wearing their embroidered, their scarlet togas?
Why have they put on bracelets with so many amethysts,
and rings sparkling with magnificent emeralds?
Why are they carrying elegante canes
beautifully worked in silver and gold?

Because the barbarians are coming today
and things like that dazzle the barbarians.

Why don't our distinguished orators come forward as usual
to make their speeches, say what they have to say?

Because the barbarians are coming today
and they're bored by rethoric and public speaking.

Why this sudden restlessness, this confusion?
(How serious people's faces have become.)
Why are the streets and squares emptying so rapidly,
everyone going home so lost in thought?

Because night has fallen and the barbarians have not come.
And some who have just returned from the border say
there are no barbarians any longer.

And now, what's going to happen to us without barbarians?
They were, those people, a kind of solution.

21.2.07

 

W. H. Auden - 100 anos
W. H. Auden - 100 years


Funeral Blues

W. H. Auden

Stop all the clocks, cut off the telephone,
Prevent the dog from barking with a juicy bone,
Silence the pianos and with muffled drum
Bring out the coffin, let the mourners come.

Let aeroplanes circle moaning overhead
Scribbling on the sky the message He Is Dead,
Put crêpe bows round the white necks of the public doves,
Let the traffic policemen wear black cotton gloves.

He was my North, my South, my East and West,
My working week and my Sunday rest,
My noon, my midnight, my talk, my song;
I thought that love would last for ever: I was wrong.

The stars are not wanted now: put out every one;
Pack up the moon and dismantle the sun;
Pour away the ocean and sweep up the wood.
For nothing now can ever come to any good.
***
Funeral Blues
W. H. Auden

Parem todos os relógios, cortem o telefone,
Impeçam o ladrar do cão com um osso suculento,
Silenciem os pianos e com um rufar lento
Tragam o caixão, que venham os pranteadores.

Deixem que os aviões gemam em círculos acima
Rabiscando no céu a mensagem Ele Está Morto,
Ponham gravatas de crepe no pescoço branco dos pombos públicos,
Deixem que os guardas de trânsito usem luvas pretas de algodão.

Ele era meu Norte, meu Sul, meu Leste e Oeste,
Minha semana de trabalho e meu descanso de domingo,
Meu meio-dia, minha meia-noite, minha conversa, minha canção,
Achei que o amor fosse para sempre: Eu estava errado.

As estrelas não são benvindas mais: apaguem cada uma delas;
Empacotem a lua e desmontem o sol;
Esvaziem o oceano e varram as florestas;
Pois nada agora pode resultar em algum bem.


 

Prazo de validade
Expiration date


No longo prazo estaremos todos mortos.

***
In the long range we'll all be dead.

 

Poemas favoritos LVII
Favorite poems LVII


A Alma dos Velhos

Konstantinos Kaváfis
(Tradução de José Paulo Paes)

Dentro de velhos corpos perecíveis,
a alma dos velhos tem morada.
Os sofrimentos da coitada,
a vida mísera; no entanto,
como a temem perder – amam-na tanto,
com a contraditória, aflita,
tragicômica alma que habita
suas velhas carcaças consumíveis.
***
The Souls of Old Men
C. P. Cavafy
(Translated by Edmund KIeely and Philip Sherrard)

Inside their worn, tattered bodies
dwell the souls of old men.
How unhappy the poor things are
and how bored by the pathetic life they live.
How they tremble for fear of losing that life, and how much
they love it, those befuddled and contradictory souls,
sitting–half comic and half tragic–
inside their old, threadbare skins.

20.2.07

 

Tigre
Tiger


Um tigre é feito das presas que o alimentaram, e eu li durante toda a vida.

***
A tiger is made of the preys that fed him, and I have read my whole life.

 

Poemas favoritos LVI
Favorite poems LVI


Lembra, corpo...

Konstantinos Kaváfis
(Tradução de José Paulo Paes)

Lembra, corpo, não só o quanto foste amado,
não só os leitos onde repousaste,
mas também os desejos que brilharam
por ti em outros olhos, claramente,
e que tornaram a voz trêmula – e que algum
obstáculo casual fez malograr.
Agora que isso tudo perdeu-se no passado,
é quase como se a tais desejos
te entregaras – e como brilhavam,
lembra, nos olhos que te olhavam,
e como por ti na voz tremiam, lembra, corpo.
***
Body, remember...
C. P. Cavafy
(Translated by Edmund Keeley and Philip Sherrard)

Body, remember not only how much you were loved,
not only the beds you lay on,
but also those desires that glowed openly
in eyes that looked at you,
trembled for you in the voices–
only some chance obstacle frustrated them.
Now that it's all finally in the past,
it seems almost as if you gave yourself
to those desires too–how they glowed,
remember, in eyes that looked at you,
remember, body, how they trembled for you in those voices.

19.2.07

 

Idade
Age


Não existe idade para fixar outro objetivo ou para ter um novo sonho.

***
There is no age to establish another goal or to have a new dream.

 

Poemas favoritos LV
Favorite poems LV


O Prazo de Nero

Konstantinos Kaváfis
(Tradução de José Paulo Paes)

Não ficou perturbado Nero quando ouviu
do Oráculo de Delfos o prenúncio:
"Teme ao ano septuagésimo terceiro."
Tinha tempo bastante a desfrutar.
Só contava trinta anos. Muito dilatado
era o prazo que o Deus lhe concedia
para cuidar-se dos riscos do futuro.

Agora vai voltar a Roma um tanto fatigado
da magnífica fadiga que se traz de uma viagem
toda feita de dias de prazer –
nos jardins, nos teatros, nos ginásios...
Ah tardes das cidades da Acaia...
Ah a volúpia de corpos desnudos, sobretudo...

Isto com Nero. Na Espanha todavia, Galba
secretamete congrega suas tropas e as exercita,
Galba, um velho: setenta e três anos de idade.
***
Nero's Deadline
C. P. Cavafy
(Translated by Edmund Keeley and Philip Sherrard)

Nero wasn't worried at all when he heard
the utterance of the Delphic Oracle:
"Beware the age of seventy-three."
Plenty of time to enjoy himself still.
He's thirty. The deadline
the god has given him is quite enough
to cope with future dangers.

Now, a little tired, he'll return to Rome–
but wonderfully tired from that journey
devoted entirely to pleasure:
theatres, garden-parties, stadiums...
evenings in the cities of Achaia...
and, above all, the sensual delight of naked bodies...

So much for Nero. And in Spain Galba
secretly musters and drills his army–
Galba, the old man in his seventy-third year.

18.2.07

 

Felicidade
Happiness


Não ter tudo o que se quer é parte essencial da felicidade.

***
Not to have everything one wants is an essential part of happiness.

 

Poemas favoritos LIV
Favorite poems LIV


Impasse

Paulo Leminski

Parece coisa da pedra,
alguma pedra preciosa,
vidro capaz de treva,
névoa capaz de prosa.
Pela pele, é lírio,
aquela pura delícia.
Mas, por ela, a vida,
a mancha horrível, desliza.
***
From A Farwell to English
5
Michael Hartnett

I say farwell to English verse,
to those I found in English nets:
my Lorca holding out his arms
to love the beauty of his bullets,
Pasternak who outlived Stalin
and died because of lesser beasts;
to all the poets I have loved
from Wyatt to Robert Browning;
to Father Hopkins in his crowded grave
and to our bugbear Mr Yeats
who forced us into exile
on islands of bad verse.
Among my living friends
there is no poet I do not love
although some write
with bitterness in their hearts;
they are one art, our many arts.
Poets with progress
make no peace or pact.
The act of poetry
is a rebel act.

17.2.07

 

Idades
Ages


O que uma pessoa sabe aos cinqüenta que não sabia aos vinte é, em sua maior parte, incomunicável.

***
What a man knows at fifty that he didn't know at twenty is, mostly, incommunicable.

 

Poemas favoritos LIII
Favorite poems LIII


Fala

Orides Fontela

Falo de agrestes
pássaros de sóis
que não se apagam
de inamovíveis
pedras
de sangue
vivo de estrelas
que não cessam.

Falo do que impede
o sono.
***

The Poet As Thinker
Martin Heidegger

Way and weighing
Style and saying
On a single walk are found.

Go bear without halt
Question and default
On your single pathway bound.

16.2.07

 

Perda
Loss


O assunto da vida é a perda.

***
Life is about loss.

 

Poemas favoritos LII
Favorite poems LII


The Late Snow and Lumber Strike
of the Summer of Fifty Four


Whole towns shut down
Hitching the coast road, only gypos
Running their beat trucks, no logs on
Gave me rides. Loggers all gone fishing
Chainsaws in a pool of cold oil
On back porches of ten thousand
Split-shake houses, quiet in summer rain.
Hitched north all of Washington
Crossing and re-crossing the passes
Blown like dust, no place to work.

Climbing the steep ridge below Shuksan
Clumps of pine
Float out the fog
No place to think or work
Drifting.

On Mt.Baker, alone
In a gully of blazing snow –
Cities down the long valleys west
Thinking of work, but here,
Burning in sun-glare
Below a wet cliff, above a frozen lake,
The whole Northwest on strike
Black burners cold,
The green-chain still,
I must turn and go back-
Caught on a snowpeak
Between heaven and earth
And stand in lines in Seattle.
Looking for work.

15.2.07

 

Pensadores
Thinkers


Os leitores são muitos, os pensadores poucos.

***
The readers are many, the thinkers few.

 

Poemas favoritos LI
Favorite poems LI


Esconjuro

Orides Fontela

Vai-te, Selene, vai-te daqui
vampira,
Diana estéril, selvagem,
assassina,

vai-te, vai-te daqui, noiva do Hades,
Perséfone,
vai-te caveira, pedra morta,
Medusa,

vai-te Medéia feiticeira, Circe,
dona do abismo amargo do mar
doido,
dona do mênstruo, vai!

Vai-te daqui, cadela,
Helena infame,
vai-te, luz falsa, vai-te,
puta virgem,

infernal Hécate! Vai-te daqui,
VAI!

***
The Augean Stables
Seamus Heaney

My favorite bas-relief - Athene showing
Heracles where to broach the riverbank
With a nod of her high helmet, her staff sunk
In the exact spot, the Alpheus flowing
Out of its course into the deep dung strata
Of King Augeas' reeking yard and stables.
Sweet dissolution from the water tables,
Blocked doors and packed floors deluging like gutters...
And it was there in Olympia, down among the green willows,
the lustral wash and run of river shallows,
That we heard of Sean Brown's murder in the grounds
Of Bellaghy G.A.A. Club. And imagined
Hosewater smashing hard back off the asphalt
In the car park where his athlete's blood ran cold.


14.2.07

 

Fanatismo
Fanaticism


O fanatismo consiste em redobrar os esforços quando já esqueceu-se dos objetivos.

***
Fanaticism consists in doubling the efforts when one has already forgotten the goals.

 

Poemas favoritos L
Favorite poems L


Ascendendo a Torre de Yenchou

Tu Fu
(Tradução
por Ricardo Pinheiro Lopes)

Visitando meu pai, no Distrito do Leste
Eu finalmente olhei da Torre do Sul
Nuvens se alongavam para além de Taishan até o mar
Uma terra estéril se estendia através de Hsu e Chingchou
O contorno da estela de Ch’in estava lá ainda
As muralhas do Palácio de Lu eram entulho
Eu sempre fui atraído pelo passado
Mas desta vez meu coração tremeu

Tu Fu (712 – 770) escreveu este poema em 737 depois de fracassar no exame do serviço público e visitar seu pai, que servia como comandante militar de Yenchou, ou Distrito do Leste, onde as planícies inundadas pelo Rio Amarelo encontram a península de Shantung. Olhando da Torre do Sul da cidade Tu Fu se recorda da passagem inexorável do tempo. Taishan, lugar de descanso de espíritos, estava a noroeste e o mar de Pohai, lar das ilhas imortais, estava além.
A rica terra fértil de Hsuchou e Chingchou estava à leste, tendo sido empobrecida pela passagem imperial de 725. Resultados semelhantes haviam se seguido a uma visita em 219 A.C. pelo Primeiro Imperador da Dinastia Ch’in, que havia deixado um registro de sua visita em uma Estela em Chufu. Chufu era a capital do antigo estado de Lu e local do Palácio de Lingkuang, construído na dinastia Han por Lu Kung. O pai de Tu Fu não estava bem de saúde e morreu no ano seguinte.
***
Climbing Yenchou Tower
Tu Fu
(Translation by Red Pine)

Visiting my father in East District
I finally looked out from South Tower
Clouds stretched beyond Taishan to the sea
Barren land spread through Hsu and Chingchou
The outline of the stele of Ch’in was still there
The walls of the Palace of Lu were rubble
I’ve always been drawn to the past
But this time my heart trembled

Tu Fu (712 – 770) wrote this poem in 737 after failing the examination for public service and visiting his father, who served as military commander of Yenchou, or East District, where the plains flooded by the Yellow River meet the Shantung peninsula. Looking from the South Tower of the city Tu Fu remembers the relentless passage of time. Taishan, a place of rest of the spirits, was to the Northeast and the Pohai sea, the home of the immortal islands, was beyond.
The rich fertile land of Hsuchou and Chingchou was to the East, having been impoverished by the imperial passage of 725. Similar results had followed a visit 219 B.C. by the First Emperor of the Dinasty Ch’in, who had left a record of his visit in a Stele in Chufu. Chufu was the capital of the ancient state of Lu and the location of the Lingkuang Palace, built in the Dinasty Han by Lu Kung. The father of Tu Fu was not well and died in the following year.

13.2.07

 

Perdão
Forgiveness


O perdão não muda o passado, mas alarga o futuro.

***
Forgiveness does not change the past, but it expands the future.

 

Poemas favoritos XLIX
Favorite poems XLIX


Trama

Orides Fontela

Tecem-se vôos
campos dóceis
esperas

tecem-se verbos
atentas claras
luzes

tecem-se formas
jogos maduros
rêdes

tecem-se tempos
para um só ato
infindo.
***
Plot
Orides Fontela
(Translation by John Howard)

Flights are schemed
docile fields
pauses

words are schemed
clear attempts
lights

forms are schemed
full-blown games
snares

times are schemed
for a single endless
act.

12.2.07

 

Gostar
To like


Se você gosta de uma pessoa, você gosta de algo nela que é parte de você. O que é parte de nós nos atrai.

***
If you like a person, you like something in this person which is a part of you. What is part of us attract us.

 

Poemas favoritos XLVIII
Favorite poems XLVIII


Bodas de Cana

Orides Fontela

I
Da pura água
criar o vinho
do puro tempo extrair
o verbo.

II
Milagre (anti-
milagre)
era tornar em água
o vinho
vivo.

III
A água embriaga
mas para além do humano:
no amor
simples.

IV
Para os anjos a
água. Para nós
o vinho encarnado
sempre.
***
The Wedding at Cana
Orides Fontela
(Translation by John Howard)

I
From pure water
to create the wine
from pure time to extract
the word.

II
Miracle (anti-
miracle)
it were to make water
from living
wine.

III
Water inebriates
but beyond the human: in
simple
love.

IV
For the angels
water. For us
the blood-red wine
always.

11.2.07

 

Desgostar
Dislike


Se você não gosta de uma pessoa, você não gosta de algo nela que é parte de você. O que não é parte de nós não nos perturba.
***
If you don't like a person, you don't like something in this person which is a part of you. What is not part of us does not upset us.

 

Poemas favoritos XLVII
Favorite poems XLVII


As Trocas

Orides Fontela

Um fruto por um
ácido
um sol por um
sigilo
o oceano por um
núcleo

o espaço por uma
fuga
a fuga por um
silêncio

- riquezas por uma
nudez.
***
The Exchanges
Orides Fontela
(Translation by John Howard)

A fruit for an
acid
a sun for a
secrecy
the ocean for a
nucleus

space for an
escape
the escape for a
silence

- wealth for
nudity.

10.2.07

 

Rio de Janeiro: Riviera do Inferno
Rio de Janeiro: Riviera of Hell


Lendo a respeito da morte bárbara do menino João Hélio e lembrando que o Rio de Janeiro é destino turístico-sexual de soldados norte-americanos estacionados no Iraque, me ocorre que a outrora "Cidade Maravilhosa" transformou-se na Riviera do Inferno.
(Publicado no OESP em 13/02/2007)
***
Reading about the savage death of the boy João Hélio and remembering that Rio de Janeiro is a sexual tourism destination for North-American soldiers stationed in Iraq, it occurs to me that the once "Marvelous City" has become the Riviera of Hell.
(Published in the newspaper O Estado de S.Paulo in 02/13/2007)

 

Poemas favoritos XLVI
Favorite poems XLVI


Vigília

Orides Fontela

Momento
pleno:
pássaro vivo
atento a.

Tenso no
instante
- imóvel vôo -
plena presença
pássaro e
signo

(atenção branca
aberta e
vívida).

Pássaro imóvel.
Pássaro vivo
atento
a.
***
Vigil
Orides Fontela
(Translation by John Howard)

Absolute
moment:
living bird
attent to.

Tense in the
instant
- motionless flight -
absolute presence
bird and
sign

(white
open and
vivid attention).

Motionless bird.
Living bird
attent
to.

9.2.07

 

Poemas favoritos XLV
Favorite poems XLV


Brigas

Paulo Leminski

Ai daqueles
que se amaram sem nenhuma briga
aqueles que deixaram
que a mágoa nova
virasse a chaga antiga

ai daqueles que se amaram
sem saber que amar é pão feito em casa
e que a pedra só não voa
porque não quer
não porque não tem asa
***
Adventure
W.H.Auden

Others had swerved off to the left before,
But only under protest from outside;
Embittered robbers outlawed by the Law,
Lepers in terror of the terrified.

Now no one else accused these of a crime;
They did not look ill: old friends, overcome,
Stared as they rolled away from talk and time
Like marbles out into the blank and dumb.

The crowd clung all the closer to convention,
Sunshine and horses, for the sane know why
The even numbers should ignore the odd:

The Nameless is what no free people mention;
Successful men know better than to try
To see the face of their Absconded God.

8.2.07

 

Poemas favoritos XLIV
Favorite poems XLIV


Alba

Orides Fontela

A um passo
do pássaro
res
piro.

Alba

I
Entra furtivamente
a luz
surpreende o sonho inda
imerso
na carne.

II
Abrir os olhos.
Abri-los
como da primeira vez
- e a primeira vez
é sempre.

III
Toque
de um raio breve
e a violência das imagens
no tempo.

IV
Branco
sinal oferto
e a resposta do
sangue:
AGORA!
***
Aubade
Orides Fontela
(Translation by John Howard)

One step
from the bird
I in
hale.

Aubade

I
The light
enters furtively
surprises the dream still
immersed
in the flesh.

II
To open the eyes.
Open them
as for the first time
- and the first time
is always.

III
Touch
of a brief ray
and the violence of images
in time.

IV
White
sign offered
and the blood's
answer:
NOW!

7.2.07

 

Poemas favoritos XLIII
Favorite poems XLIII


Clima

Orides Fontela

Neste lugar marcado: campo
onde
uma árvore única
se alteia

e o alongado gesto
absorvendo
todo o silêncio - ascende e
imobiliza-se

(som antes da voz
pré-vivo
ou além da voz
e vida)

neste lugar marcado: campo
imoto
segredo cio cisma
o ser
celebra-se
- mudo eucalipto
elástico
e elíptico
***
Climate
Orides Fontela
(Translation by John Howard)

At this marked spot: field
where
a single tree
rises

and the elongated
gesture
absorbing
all the silence - ascends and
immobilizes itself

(sound before the voice
pre-living
or beyond the voice
and life)

at this marked spot: immotile
field
secret estrous distrust
being
celebrates itself

- speechless eucalyptus
elastic
and elliptic.

6.2.07

 

Poemas favoritos XLII
Favorite poems XLII


Poema

Orides Fontela

Saber de cor o silêncio
diamante e/ou espelho
o silêncio além
do branco.

Saber seu peso
seu signo
- habitar sua estrela
impiedosa.

Saber seu centro: vazio
esplendor além
da vida
e vida além
da memória.

Saber de cor o silêncio
e profaná-lo, dissolvê-lo
em palavras.
***
Poem
Orides Fontela
(Translation by John Howard)

To know the silence by heart
diamond and/or mirror
the silence beyond
the whiteness.

To know its weight
its sign
- inhabit its merciless
star.

To know its center: empty
splendor beyond
life
and life beyond
memory.

To know the silence by
heart
- and profane it. Dissolve it
in words.

5.2.07

 

Ética
Ethics


(O psicólogo) garantirá o anonimato das pessoas, grupos ou organizações, salvo interesse manifesto destes.
(Do Codígo de Ética do Conselho Regional de Psicologia - SP)
***
(The psychologist) will ensure the anonymity of people, groups or organizations, except in case of their manifest interest.
(From the Ethics Code of the Regional Council of Psychology - SP)

 

Ódio e amor
Hate and love


É melhor ser odiado pelo que você é do que ser amado pelo que você não é.

***
It is better to be hated for what you are than to be loved for what you are not.

 

Poemas favoritos XLI
Favorite poems XLI


Migração

Orides Fontela

Do leste vieram pássaros
rápidos leves
nem sombra nem rastro
deixam:
apenas passam. Não pousam.
***
The Door
W.H.Auden

Out of it steps the future of the poor,
Enigmas, executioners and rules,
Her Majesty in a bad temper or
The red-nosed Fool who makes a fool of fools.

Grest persons eye it in the twilight for
A past it might so carelessly let in,
A widow with a missionary grin,
The foaming inundation at a roar.

We pile our all against it when afraid,
And beat upon its panels when we die:
By happening to be open once, it made

Enormous Alice see a wonderland
That waited for her in the sunshine, and,
Simply by being tiny, made her cry.

4.2.07

 

2 tipos
2 kinds


Existem dois tipos de pessoas no mundo: as que dividem o mundo em dois tipos de pessoas e as que não.
***
There are two kinds of people in the world: the ones who divide the world in two kinds of people and the ones who don't.

 

Dizem



Talvez seja melhor não ter filhos. O bom da vida é viajar. O segredo está na moderação.
Comer de tudo, mas não muito. Tomar sol, fazer ginástica e escovar os dentes depois das refeições.
Ser cordato, combinar as cores e nunca usar bege. Bege é só cor de parede.
Estudar inglês, acertar o relógio pelo funcionamento do intestino e, à noite, comer só coisas leves.
Amores da noite não florescem sob luz do sol, amor de verão não sobe a serra e quem nunca chorou por amor não viveu.
Ler pelo menos um livro por mês, lavar os cabelos todos os dias, e não deixar passar muito tempo sem telefonar para os amigos.
Viajar em feriado prolongado é fria, o negócio é viver no contra-fluxo. Não se fala de dinheiro à mesa e é pecado mortal criticar o último namorado dela.
Fila dupla é falta de cidadania, não se buzina perto de hospital e o carro deve andar razoavelmente limpo.
Ver muita televisão faz mal, cigarro só depois do meio-dia, faltar à análise é auto-sabotagem. Ler horóscopo, tudo bem. Mesmo que não acredite. Melhor até se não acreditar.
Nunca ir ao supermercado com fome. Quanto mais colorido o prato, mais saudável. O Mercado Municipal é incrível. Principalmente os vitrais.
Sapatos e cinto devem combinar. Meia da mesma cor dos sapatos também é bom. Um acessório discreto dá personalidade. Deus está nos detalhes.
É mais gostoso sair durante a semana. Sábado à noite está tudo lotado. Fim-de-semana é para ficar em casa, visitar amigos ou então viajar por perto.
São Paulo tem lugares que ninguém conhece. Uma réplica do Templo Dourado de Kioto, por exemplo, com pequenos lagos artificiais habitados por carpas coloridas.
Ir comer pizza no Brás, segunda à noite, é um grande programa. Mas se for com alguém que você gosta e que nunca fez isso, é claro.
Fazer um dia inteiro de jejum de vez em quando para limpar o organismo.
Feng-shui funciona e é agradável aos olhos.
A gente nunca sabe, mas é bom prestar atenção sempre.
É o que dizem.

3.2.07

 

Utilidade Pública

Saiu no blog da Cora Rónai

Fala Eugênio Vilar:

"No ensejo da inauguração da nova legislatura na câmara federal, gostaria de dizer que, através de meu programinha galera, baixei a planilha de deputados e já tive a honra de encontrar Clodovil (SP), Maluf (SP) e Petecão (AC), devidamente atualizados. Nossos colegas informáticos não brincam em serviço: a casa é virtualmente democrática. Agora, o assunto prioritário dos parlamentares é o voto secreto em seu (deles) bolso. Talvez seja útil bombardeá-los com mensagens repudiando a verba indenizatória ou outras merdas mais, como o voto secreto em si. Galera foi feito pra mandar mail bombs no lugar dos românticos e preferíveis coquetéis molotov."
O Galera, vocês sabem, é um programa que permite enviar emails para todos os deputados ao mesmo tempo; excelente utilitário de cidadania.
Recomendo!

 

Favores
Favors


Você faz noventa e nove favores a uma pessoa. Negue um e você deverá os cem.

***
You do ninety-nine favors to a person. Deny one and you'll owe one hundred.

 

Poemas favoritos XL
Favorite poems XL


Perguntas de um Operário Letrado

Bertold Brecht

Quem construiu Tebas, a das sete portas?
Nos livros vem o nome dos reis,
Mas foram os reis que transportaram as pedras?
Babilônia, tantas vezes destruída,
Quem outras tantas a reconstruiu? Em que casas
Da Lima Dourada moravam seus obreiros?
No dia em que ficou pronta a Muralha da China para onde
Foram os seus pedreiros? A grande Roma
Está cheia de arcos de triunfo. Quem os ergueu? Sobre quem
Triunfaram os Césares? A tão cantada Bizâncio
Só tinha palácios
Para os seus habitantes? Até a legendária Atlântida
Na noite em que o mar a engoliu
Viu afogados gritar por seus escravos.

O jovem Alexandre conquistou as Índias
Sozinho?
César venceu os gauleses.
Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço?
Quando a sua armada se afundou Filipe de Espanha
Chorou. E ninguém mais?
Frederico II ganhou a guerra dos sete anos
Quem mais a ganhou?

Em cada página uma vitória.
Quem cozinhava os festins?
Em cada década um grande homem.
Quem pagava as despesas?

Tantas histórias
Quantas perguntas
***
Poem
Anthony Cronin

Leaving aside then for all time the songs
So wonderfully waiting to be sung
On those lost and tolling Sundays when we knew
So well the infinite bitterness of being young;
Leaving out break of cloud and depth of sky,
The green of water in a wooded place,
The answering curve of the always indomitable
Blood towards body's grace;
Leaving for ever out of dream and living
The beauty of that grevely mocking face:
Nothing remains to be remembered,
Or ever for Time's remembrance to be said,
Before on the homely pillow of white death
You lay your tired with longing, mortal head.

2.2.07

 

John Howard


Deu-me esta obra de arte abaixo. O melhor presente em muito tempo.
Obrigado.
***
He gave me this work of art below. The best gift in a long time.
Thanks.

 

Information about the graffiti of John Howard


 

Informações sobre o grafito de John Howard


 

Arte-Presente de John Howard - em curso
John Howard's Art-Gift - in progress
3





Grafito na porta da garagem
Graffiti on the garage door

 

Poemas favoritos XXXIX
Favorite poems XXXIX


Lista De Preferências

Bertold Brecht

Alegrias, as desmedidas.
Dores, as não curtidas.

Casos, os inconcebíveis.
Conselhos, os inexeqüíveis.

Meninas, as veras.
Mulheres, as insinceras.

Orgasmos, os múltiplos.
Ódios, os mútuos.

Domicílios, os passageiros.
Adeuses, os bem ligeiros.

Artes, as não rentáveis.
Professores, os enterráveis.

Prazeres, os transparentes.
Projetos, os contingentes.

Inimigos, os delicados.
Amigos, os estouvados.

Cores, o rubro.
Meses, outubro.

Elementos, o fogo.
Divindades, o logos.

Vidas, as lúcidas.
Mortes, as súbitas.
***
End
Christy Brown

Dying is a curious thing.
Not that I have ever quite died
except briefly now and then
in a hot-headed poetic way.
There is nothing ingenious about it.
A quick dolphin-plunge
under black water
and after the first year of mourning
the daisies nod undisturbed on your grave.
I could die today with a little effort
with a well-sprung wish I could die today
quietly laughing or crying
without trumpet
without cerimony
without drawing conclusions
in Mount Jerome under the fine wet grass.


1.2.07

 

Arte-Presente de John Howard - em curso
John Howard's Art-Gift - in progress
2




Grafito na porta da garagem
Graffiti on the garage door

 

Poemas favoritos XXXVIII
Favorite poems XXXVIII


Sabás

Nicolás Guillén
(Tradução Carlos Grifo)

Vi eu Sabás, o negro sem veneno,
a pedir seu pão de porta em porta.
Porquê, Sabás, a mão aberta?
(Este Sabás é um bom negro.)

Dêem-te embora pão, o pão é pouco,
menos ainda o pão de porta em porta.
Porquê, Sabás, a mão aberta?
(Este Sabás é um negro louco.)

Vi eu Sabás, o negro hirsuto,
pedir por Deus p'ra sua morta.
Porquê, Sabás, a mão aberta?
(Este Sabás é um negro bruto.)


Pega teu pão, mas não de joelhos;
pega o teu sol, tua esperança certa,
como a um toiro pelos chavelhos.
Põe-te de pé no meio da porta,
mas não com essa mão aberta,
nem a bondade que é de louco;
dêem-te embora o pão, o pão é pouco,
menos ainda o pão de porta em porta.

Caramba, Sabás, que não se diga...!
Aperta esses calções,
e olha lá, vê se os compões
para educares a barriga!
A morte é, às vezes, boa amiga,
e não comer, quando é preciso
para comer, pão submisso,
tem beleza. O céu abriga.
O sol aquece. E é macio o piso
do portal. Espera um pouco,
firma teu passo irresoluto,
levanta mais o tom...
Caramba, Sabás, não sejas tão louco!
Sabás, não sejas tão bruto,
nem tão bom.
***
Father
Tom MacIntyre

His coffin
knows my shoulder
best of all,
I was the one
who wasn't there.

Nightly,
a bell calls,
I rise,
hunt a funeral
and stumble home.

Once though,
he stood before me,
spade outstretched,
spun handle and blade,
found a radius,
and three times
flashed ordered circles
into my angry breath.

He put the spade aside,
touched my face,
calmed me, spoke -
'short sorrow is a long sword.'

Then the light
was customary grey.

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